O programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, começou nesta terça-feira (4) uma série de entrevistas com ex-prefeitos de Porto Alegre sobre o que fizeram durante seus mandatos em relação à proteção da cidade contra enchentes e o que eles acreditam que deve ser feito a partir de agora para que tragédias como as que acometeram a Capital em 1941 e em maio deste ano não se repitam. O primeiro entrevistado foi José Fortunati (PV), que comandou a cidade de 2010 a 2017.
— A responsabilidade tem que ser repartida. Esta relação com o sistema de proteção tem que ter aporte de recursos do governo federal. É impossível que as cidades consigam viabilizar hoje uma necessária restruturação do seu sistema com os rcursos que possuem — afirmou o político.
Fortunati, que atualmente está no Escritório de Resiliência Climática (Eclima) de Canoas, na Região Metropolitana, também severamente afetada pela cheia que devastou o Estado no mês passado, destacou a necessidade de atualização e renovação dos sistemas de proteção:
— O sistema de proteção foi pensado de acordo com o parâmetro da enchente de 1941. A chuva se elevou muito mais em 2024 e, em Canoas, começou a ultrapassar a altura dos diques, por exemplo. Não dá mais para pensar no sistema com o dique da mesma altura. Precisa ser refeito, com altura maior, porque o parâmetro passa a ser 2024. Uma obra desta envergadura tem que ser pensada conjuntamente, Porto Alegre, Canoas e São Leopoldo, para que tenhamos um único projeto com recursos fortes para que essa renovação aconteça. O governo federal tem que obrigatoriamente estar nessa parada.
Fortunati lembrou que, durante sua gestão à frente da Capital, foi contrário ao movimento de derrubada do muro do Cais Mauá, defendido por parte da população e dos gestores públicos antes da recente cheia.
— Talvez eu tenha sido um dos poucos agentes públicos a defender o muro da Mauá. Havia um grande movimento pela derrubada do muro, que esteticamente prejudicava a cidade. Defendi, pois fui convencido de que o sistema de proteção contra cheias era imprenscindível e o muro fazia parte desse contexto — explicou.
Durante o mês de maio, Porto Alegre foi afetada pela enchente que atingiu o Rio Grande do Sul e, até o momento, deixou 172 mortos no Estado. Milhares de pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas na Capital e, em diversos pontos da cidade, ainda é possível visualizar áreas de alagamento que persistem há mais de 30 dias. Conforme Fortunati, durante sua gestão, os trabalhos de reforma no sistema de contenção de cheias se iniciaram ainda em 2010.
— Em 2010 e 2011, fizemos uma profunda reforma do sistema de comportas do muro da Mauá, gastando, na época, R$ 1,7 milhão. Em 2012, fizemos uma manutenção de todo o sistema de contenção contra cheias, que engloba diques e casas de bombas. Naquele ano, o valor girou em torno de R$ 2,3 milhões. Já em 2015, investimos em seis geradores de energia elétrica para as casas de bombas, começando pelo bairro Sarandi, que é uma área vulnerável — detalhou. — Instalamos geradores porque, atá aquele momento, não havia nas casas de bomba, e sabíamos que falta luz durante as tempestades, quando mais se necessita das casas de bombas — acrecentou.
O ex-prefeito também comentou sobre o projeto DrenaPoa, que, segundo ele, foi considerado "a menina dos olhos" da gestão. O projeto foi realizado em parceria com o governo federal e previa intervenção nas bacias hidrográficas da região próxima a Porto Alegre.
— De 2012 a 2016, trabalhamos no chamado DrenaPoa, um projeto em parceria com o governo federal, dentro do PAC Prevenção, no qual buscamos R$ 237 milhões para investir em reformas das casas de bombas e colocação de geradores em todas elas. Além disso, planejamos uma grande intervenção na bacia hidrográfica do Arroio Areia, que permitiria evitar as cheias em 14 bairros de Porto Alegre com bacias de contenção e sistemas de dutos. O DrenaPoa tinha como princípio o conceito de cidade-esponja, que ganhou destaque após a enchente de maio. Eram grandes bolsões, piscinões para suavizar a chegada da água a determinados locais. Esse projeto foi todo desenvolvido pelos técnicos do Dep (antigo Departamento de Esgotos Pluviais) — completou.