O volume elevado de chuva previsto para atingir o Rio Grande do Sul a partir desta sexta-feira (14) e que deve ficar mais intenso nos próximos dias não deve provocar uma nova enchente do Guaíba. A projeção foi feita pelo Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considerando os modelos meteorológicos disponíveis.
A projeção do IPH considera as medições e níveis da régua emergencial instalada na Usina do Gasômetro, que marcava 2m49cm às 11h. O nível de alerta desta régua é de 3m15cm. Já o nível de inundação desta medição é de 3m60cm.
No pior cenário projetado, a chuva dos próximos dias pode elevar o Guaíba para patamar próximo dos 3 metros – portanto ainda abaixo da cota de alerta.
No boletim, os hidrólogos Rodrigo Paiva, Fernando Fan e Matheus Sampaio destacam que é preciso acompanhar o comportamento das precipitações, “pois os modelos meteorológicos podem subestimar as chuvas no horizonte de previsão”. Em outras palavras, pode chover mais do que atualmente está previsto, o que alteraria os cenários desenhados.
Veja abaixo a íntegra do boletim hidrológico do IPH desta sexta-feira, 14 de junho de 2024
********
RESUMO: os cenários de previsão indicam estabilização/aumento dos níveis do Guaíba, abaixo da cota de alerta, e podendo ocorrer oscilações em função da ação dos ventos. Os ventos que sopram na direção norte ainda hoje favorecendo o escoamento no Guaíba e o vento sul a partir do final de semana pode causar o represamento. As chuvas previstas para o final de semana e semana que vem, se confirmadas, tendem a causar aumento nos volumes dos rios afluentes causando aumento nos níveis do Guaíba ao longo da semana. Por enquanto, as previsões não indicam níveis acima da cota de alerta. Entretanto é necessário atenção aos precipitados observados, pois os modelos meteorológicos podem subestimar as chuvas no horizonte de previsão.
********
Níveis recentes:
O Guaíba apresenta níveis elevados em torno de 2,50 m (11:00) na régua Usina do Gasômetro (87444000), mais de 60 cm abaixo da cota de alerta para este ponto, e sendo equivalente ao nível médio das cheias do histórico. O pico registrado até o momento ocorreu no dia 05/05 em torno de 5,35 m, com segundo pico em 14/05 em torno de 5,20 m. Apresentou desde então redução lenta devido aos volumes escoados pelos rios afluentes e episódios de represamento pelo vento sul. Nas últimas 24 h, apresentou redução de cerca de 10 cm.
A principal preocupação é se podem ocorrer eventos que venham a elevar os níveis para acima das cotas de inundação e alerta (definidas como 3,60 m e 3,15 m pela SEMA para a régua Usina do Gasômetro) em função de oscilações causadas pelo efeito dos ventos e afluências dos rios nos próximos dias.
Observações hidrológicas e previsão meteorológica:
Em geral os rios afluentes ao Guaíba apresentam redução lenta dos níveis. Jacuí apresenta nível moderado estável, Sinos e Gravataí nível moderado com redução lenta, e redução lenta para níveis baixos nos baixo Taquari e Caí. Não ocorreu volume significativo de precipitação nos últimos 10 dias. Entretanto, as previsões meteorológicas mais atualizadas apresentam elevados volumes acumulados em grande parte do RS, superando os 100 mm nos próximos 3 dias pela chuva que se inicia no sábado se intensificando no domingo. Acumulados de 10 dias podem ser ainda mais elevados pelas chuvas previstas para a semana seguinte, podendo chegar a 200 mm. Previsão de ventos sobre o Guaíba e Laguna dos Patos na direção norte e moderado hoje, virando para sudoeste entre sábado e domingo.
Previsão de níveis:
Considerando todas as incertezas envolvidas e com base em análise das observações até momento, foram desenvolvidos novos cenários de previsão.
Os cenários de previsão indicam estabilização/aumento dos níveis do Guaíba, abaixo da cota de alerta, e podendo ocorrer oscilações em função da ação dos ventos. Os ventos que sopram na direção norte ainda hoje favorecendo o escoamento no Guaíba e o vento sul a partir do final de semana pode causar o represamento. As chuvas previstas para o final de semana e semana que vem, se confirmadas, tendem a causar aumento nos volumes dos rios afluentes causando aumento nos níveis do Guaíba ao longo da semana. Por enquanto, as previsões não indicam níveis acima da cota de alerta. Entretanto é necessário atenção aos precipitados observados, pois os modelos meteorológicos podem subestimar as chuvas no horizonte de previsão.
Recomendações:
Recomenda-se atenção especial a população afetada; ações para a limpeza das áreas afetadas e restabelecimento o quanto antes das estruturas de proteção em precaução a alagamentos e inundações futuras.
*Fonte: Estas previsões foram desenvolvidas voluntariamente pelo Instituto de Pesquisa Hidráulicas (IPH) da UFRGS, com base na combinação de observações de chuva e vazão dos rios, modelo de previsão meteorológica, hidrológica e hidrodinâmica. Estas previsões foram elaboradas sob a liderança dos Professores Fernando Fan e Rodrigo Paiva e pelo Eng. Matheus Sampaio (mestrando no IPH/UFRGS). 14/06/2024.
Como era a medição
A medição do Guaíba, historicamente, era feita pelo governo do Estado na área mais central do Cais Mauá, mas a estrutura foi destruída pelo avanço das águas em 2 de maio, deixando o monitoramento do Guaíba temporariamente às escuras. Emergencialmente, equipes do governo do Estado instalaram, em 3 de maio, uma nova estação de medição do nível do Guaíba em outro ponto, onde havia condições técnicas de acesso.
Porém, a nova régua instalada não está no mesmo nível da antiga, na estação do Cais Mauá.
"Foram estabelecidas para as referências de alerta e inundação a serem consideradas no monitoramento realizado na estação Usina do Gasômetro, respectivamente os valores de 3m15cm e 3m60cm", diz trecho do documento divulgado pelo governo. Antes, considerando a medição no Cais Mauá, os índices eram 2m55cm o nível de alerta e 3m o nível de inundação.
Prefeitura em alerta
Em entrevista coletiva na tarde de quinta-feira (13), o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, disse acreditar que não será necessária a evacuação dos bairros que podem ser afetados pela chuva prevista para o próximo fim de semana. O prefeito recomendou cautela à população, e afirmou que a prefeitura está atenta, mas não relatou quais ações estão sendo de fato realizadas por precaução. Há expectativa de que chova mais de 100 milímetros, o que deve superar a média do mês de junho entre sábado e segunda-feira (17).
— Estamos preparados para a chuva, mas a população tem que estar alerta. Quem puder não voltar (para áreas afetadas), é a primeira recomendação. A prefeitura vai poder ajudar no acolhimento se houver necessidade, mas não defendo evacuação, não tenho elementos meteorológicos para isso. Não vejo necessidade nesse momento — disse Melo.