A prefeitura de Porto Alegre fechou, nesta quinta-feira (2), as comportas do sistema de enfrentamento à inundação da Capital. Até as 16h30min, já haviam sido fechadas sete comportas, as de números 2, 3, 4 e 6, na região central, e 11, 12 e 14, mais próximas da região da Ponte do Guaíba, no encontro da Voluntários da Pátria com a Avenida Sertório. Às 18h, a última comporta, a de número 1, foi fechada, segundo assessoria da prefeitura.
Um guincho foi usado para fechar o portão da comporta número 12, que passou por um trabalho de solda no local. A região do 4º Distrito estava bem alagada e praticamente deserta, apenas com equipes da prefeitura. O serviço ocorre com o auxílio de diversos equipamentos e veículos sob chuva constante, que não dá trégua na Capital. Pontos de acúmulo de água também afetam a mobilidade dos servidores.
O diretor do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), Maurício Loss, disse que o período da tarde foi dedicado a fechar as comportas localizadas na região central:
— Depois, vamos seguir para as comportas um e dois, que ficam junto ao Cais Embarcadero, próximo à Usina do Gasômetro, que é uma parte mais alta. Enquanto isso, estamos dando tempo para os lojistas do Cais Embarcadero tirarem suas coisas — explica
A operação começou pelas comportas mais próximas da entrada do Cais Mauá e da região do 4º Distrito, regiões mais baixas do sistema de proteção. Os portões um e dois ficam em uma área mais elevada, portanto, serão fechados durante o período da tarde, como explicou o diretor.
Loss afirma que existe a possibilidade de manter as comportas fechadas até a próxima terça-feira (7), dependendo do avanço da chuva e do nível do Guaíba.
A medida é preventiva e começa pelos locais onde a água chega mais rápido nas margens, após a cota de inundação, que é de 3 metros.
Além do fechamento dos portões, os trabalhadores também atuam com sacos de areia para tentar conter possíveis vazamentos na barreira de metal. Loss afirma que podem ocorrer fugas de água, mas em pequena quantidade:
— O que pode acontecer é algum fio, alguma nesga de água ultrapassar os portões, porque a água quanto mais sobe, mais força ela faz. Os portões já demonstraram força na última cheia, em novembro, e por isso que a gente utiliza também esses sacos de areia para reforçar essa força.
Sistema de comportas
Traumatizada desde a enchente de 1941, a Capital montou um amplo mecanismo para manter-se a salvo de outra inundação: envolve o muro da Avenida Mauá, onde fica parte das 14 comportas que se fecham em momentos de alerta, 23 casas de bombas destinadas a despejar a água acumulada de volta ao Guaíba e 24 quilômetros de diques externos que funcionam como barreiras complementares ao muro de concreto erguido no Centro Histórico, onde também há portas metálicas, além de outros diques internos espalhados por diferentes pontos da cidade.
Casas de bombas
O diretor do Dmae afirmou que todas as casas de bombas da Capital estão funcionando neste momento, mas com capacidade de trabalho elevada. Mais cedo, a estação localizada na região do bairro Menino Deus teve um problema de energia, mas que foi contornado logo em seguida, segundo Loss.
— Apenas a estação de número 13 passou por um curto período sem energia elétrica, mas agora todas as casas de bombas estão operando. Claro que com seus níveis de postos bastante elevados. Às vezes há algum transbordamento, porque é muita chuva. O solo está muito encharcado — explicou o diretor.
Guaíba: 3m46cm
O nível do Guaíba no Cais Mauá chegou a 3m46cm em novembro do ano passado, marca que foi superada às 20h30min desta quinta-feira (2), aos 3m46cm.
Calamidade pública
A prefeitura de Porto Alegre emitiu decreto na noite desta quinta-feira (2) declarando estado de calamidade pública em virtude da chuva que atinge a Capital e o Estado. O desastre é classificado como de nível 3, com base na portaria nº 260/2022 do Ministério de Desenvolvimento Regional, que define que há danos humanos, materiais e ambientais, além de prejuízos sociais e econômicos.
No dia anterior, na noite de quarta-feira (1º), o governo do RS decretou estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul devido às chuvas intensas. A medida foi publicada em edição extra do Diário Oficial do Estado.
No final da tarde de quarta, em uma entrevista coletiva, o governador Eduardo Leite afirmou que o Rio Grande do Sul passa pelo maior desastre climático da história do Estado. Disse também que os estragos da crise atual vão superar o impacto das enchentes de setembro do ano passado, que provocaram 54 mortes e devastaram municípios da região dos Vales.
Nas redes sociais, Leite alertou a populações das cidades de Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Encantado, Estrela, Lajeado e os municípios que seguem no curso do Rio Taquari que busquem por lugar seguro.