Ânimos acirrados, desespero de quem perdeu tudo e não sabe onde vai dormir, indignação de quem espera por uma solução. Assim foi o clima da reunião entre moradores do condomínio Alto São Francisco, no bairro Rubem Berta, e representantes da Defensoria Pública do Estado (DPE) e do Ministério Público (MPRS), nesta sexta-feira (5). Os órgãos foram ouvir as reivindicações, após explosão em um edifício, no início da madrugada de quinta-feira (4), após vazamento de gás.
O defensor público Rafael Magagnin emitiu quatro ofícios à Tenda, empresa responsável pela construção, à Caixa Econômica Federal, para obter informações sobre o contrato de seguro dos apartamentos, além de Defesa Civil de Porto Alegre e Instituto-Geral de Perícias (IGP), a fim de receber informações mais técnicas sobre o ocorrido.
— O prazo para as respostas é de 24 horas. Ainda não sabemos como se deu esse vazamento, se foi um erro estrutural ou alguma questão relacionada a um consumidor. Assim que tivermos todos esses elementos em mãos, poderemos buscar os responsáveis em imediato. Se não houver retorno, podemos buscar a resposta via judicial — explicou Magagnin.
Até segunda-feira (8), DPE e MPRS esperam realizar um encontro com todos os envolvidos a fim de buscar uma solução consensual. Segundo o promotor Cláudio Ari Mello, a vulnerabilidade dos moradores coloca a prefeitura de Porto Alegre entre os entes que precisam participar do desfecho, em curto e médio prazos.
— Precisamos diagnosticar os problemas e ver como podemos ajudar os desabrigados. Teremos o laudo do IGP amanhã (sábado), conversar com testemunhas da explosão e esgotar todas as possibilidades de forma rápida porque não há tempo. Estas pessoas não têm onde morar. Se não for possível, será com judicialização — completa Mello, que é coordenador do Centro de Apoio Operacional de Defesa da Ordem Urbanística e Questões Fundiárias MPRS.
O encontro desta sexta-feira também serviu para que um representante de cada torre fosse escolhido para acompanhar os encaminhamentos e prestar informações. A reunião ocorreu no salão de festas do condomínio, onde algumas famílias atingidas vêm passando a noite desde então, de maneira improvisada, com a ajuda de doações de colchões, roupas, alimentos e utensílios de higiene.
Do sonho à triste realidade
Quem não conseguiu espaço em moradias de familiares ou pessoas conhecidas, cerca de 70 pessoas, ainda está sem saber quando e se vai voltar para casa. Há quem não deseja retornar, como é o caso da venezuelana Elena Ramirez. Moradora da torre 12, de frente para a 10, onde a explosão ocorreu, ainda lembra o perigo que a família passou.
— Deitados, eu, meu marido e minhas três filhas vimos os vidros (estilhaços das janelas) como tiros, passando por nós. Furaram as minhas paredes. Fomos dormir minutos antes. Não quero mais morar aqui — afirma a higienista estrangeira.
A torre onde Elena mora está entre as quatro que ainda estão com acesso bloqueado. As de número 10 e 9, que compõem o prédio onde houve a explosão, estão interditadas por tempo indeterminado, pois ainda há o risco de desabamento.
— Saí do meu país há três anos e lutei para ter a minha casa própria. Recebemos as chaves em agosto e logo acontece isso — lamenta.
Vestindo apenas bermuda, Lucas Silva olha, resignado, para a janela queimada do quarto andar da torre 10. Sentado em um banco, tenta entender o que aconteceu na madrugada de filme de terror que passou na última quinta-feira.
— Descer as escadas e ver as pessoas deitadas, nunca vou esquecer. Eu nem sei o que perdi porque não puder voltar para ver, está bloqueado. Menos mal que estou de férias porque não tenho roupa para trabalhar — suspira o servidor público.
Ele é outro que, se puder, não mora mais no condomínio Alto São Francisco.
— Não quero mais apartamento. Ainda bem que minha esposa e meu filho estão bem — conta Silva, que está provisoriamente instalado na casa da mãe.
Um novo cheiro de gás obrigou as pessoas evacuarem do condomínio no fim da tarde desta sexta-feira, segundo a Defesa Civil. Um laudo deverá ser emitido neste sábado pelo IGP e pela empresa de engenharia contratada pelo condomínio. O documento irá apontar, entre outras coisas, a segurança dos prédios ao lado da estrutura atingida para determinar um possível retorno dos moradores.