A veia empreendedora de Porto Alegre volta a pulsar no ExpoFavelaRS, evento que ocorre nesta sexta-feira (1º) e no sábado (2), no Centro de Eventos da Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS). O encontro nacional que circula por 20 Estados ao longo do ano vem ao Rio Grande do Sul reunir ideias, iniciativas e empreendimentos de diversos setores que foram criados na periferia mirando clientes e parcerias neste mesmo ambiente. Como ocorre em outros eventos, como o SouthSummit, por exemplo, há a possibilidade de investidores e empresários se encontrarem para firmar negócios.
O evento é uma realização da Favela Holding e tem parceria social da Central Única das Favelas (Cufa), com apoio de instituições governamentais e monetárias, como o Sebrae. O desenvolvimento dessas regiões afastadas dos grandes centros financeiros é foco de trabalho Cufa.
— A favela produz e consome bilhões e bilhões de reais. Atualmente, são 18 milhões de pessoas morando em favelas no Brasil. Se somasse toda essa gente, a favela seria o terceiro Estado com mais gente no país, e a terceira maior economia do país. Tem mais favelado do que gaúcho no Brasil — comenta o produtor cultural e empreendedor social Celso Athayde, criador da Cufa.
A Cufa e o Sebrae acreditam no potencial de desenvolvimento das comunidades periféricas por meio da inovação, com a criatividade que já existe nas comunidades economicamente carentes para gerar negócios e conexões em novos formatos.
Ex-morador de rua, Athayde se inspirou em eventos corporativos de grandes conglomerados financeiros, em que a construção de conexões e a busca de soluções para negócios são celebradas, e replicou o formato nos ambientes que não são contemplados pelos modelos tradicionais.
— Sentia a falta da presença da favela nestes eventos. Normalmente, evento de negócio é feito para os asfaltistas por eles mesmos. Não são os pretos que ocupam, ainda, este espaço dos grandes empresários e empresas, dos investidores e grandes marcas — avalia. — Com o ExpoFavela, consegui colocar um dono de barraquinha de cachorro quente da favela e o Abílio Diniz para falar de gestão no mesmo palco do Sheraton, em São Paulo. Foi o primeiro encontro de empreendedores da favela e empreendedores do asfalto, e hoje estamos em 20 Estados diferentes — comemora, projetando edições em capitais fora do Brasil.
Na abertura oficial do evento, nesta sexta, o governador do Estado, Eduardo Leite, e o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, dividiram palco com o empreendedor e presidente global da Cufa, Preto Zezé. Os chefes dos Executivos estadual e municipal tiveram espaço para falar sobre suas ideias direcionadas ao público alvo do ExpoFavela.
— Não podemos mais olhar para a favela como lugar de carência e misericórdia da iniciativa privada, mas sim ser vista pelos líderes públicos pela potência que tem — cobrou Athayde, provocando os gestores locais a elaborarem políticas públicas paras as periferias.
Melo elencou três fatores principais para melhorar a vida das pessoas faveladas: qualificação profissional, realocação de moradores de áreas de risco e fomento financeiro aos empreendedores.
— A periferia não é problema, é solução. Mas ela precisa ser enfrentada com políticas não paternalistas, e sim gerar oportunidades. Quais ferramentas os governos têm para melhorar a vida do povo lá na periferia? Começo pela regularização fundiária, que é o grande desafio do país. Porto Alegre tem 80 mil pessoas que moram em área de risco, e isso não se resolve apenas com dinheiro público, é preciso que a iniciativa privada ajude — destacou Melo, recebendo aplausos da plateia.
Leite, por sua vez, ressaltou o programa RS Mais Comunidade, que contempla 17 comunidades de Porto Alegre e seis de cidades do Interior no foco da gestão estadual pela busca de equidade. Para o governador, possibilitar representatividade e melhores condições de vida para essas pessoas são ações chave para o desenvolvimento do Estado.
— Não tem dinheiro para fazer todas as políticas públicas, precisamos priorizar algumas. Olhando para os 23 municípios com maior incidência de crime, selecionamos as regiões mais vulneráveis e estamos concentrando os investimentos de diversas pastas nestas comunidades — detalhou.
O evento estimativa reunir 4 mil pessoas entre sexta e sábado. Um dos pontos altos deve ser o Hackatchê, modalidade em que estudantes do Ensino Médio de cinco escolas estaduais que tiveram projetos selecionados pela Cufa passarão os dois dias recebendo oficinas de mentoria. Depois de qualificar suas ideias, haverá apresentação ao público, em uma iniciativa da Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para incentivar o empreendedorismo em comunidades escolares localizadas em favelas.
Saiba mais sobre o evento
- O quê? ExpoFavelaRS 2023
- Quando? Sexta (1º) e sábado (2), das 10h às 18h
- Onde? Centro de Eventos da PUCRS (Avenida Ipiranga, 6.681, Prédio 41)
- Quanto? Entrada gratuita