O Ministério Público pretende exigir a permanência do acervo do memorial da antiga Livraria do Globo no prédio tombado da Rua dos Andradas, no Centro Histórico de Porto Alegre. O espaço havia sido instalado pela Renner no terceiro andar do imóvel. A varejista, que ocupou três andares do local e preservou os itens históricos durante 11 anos, encerrou as operações da unidade em 13 de julho. Desde então o futuro das peças é incerto.
— Nossa ideia, até para que fique reforçada essa necessidade de proteção do patrimônio histórico, é que este memorial permaneça no próprio prédio em sua integralidade contextualizando a história com o imóvel que está ali — revela o promotor de Justiça e Defesa do Meio Ambiente de Porto Alegre Felipe Teixeira Neto.
Em função da existência de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de 2009 firmado com a Renner, o promotor vistoriou o prédio na segunda-feira (31). Técnicos da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc), vinculada à Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC) da prefeitura, também participaram da vistoria. Como o contrato está sendo rescindido, o MP está aditando o TAC com o proprietário. O processo pode ser consultado aqui.
A JRO Empreendimentos de Administração de Bens Ltda, com sede em São Paulo, é a pessoa jurídica responsável pelo imóvel.
— Com o término do contrato de locação da Renner, que será oficialmente no dia 13 de setembro, ela não tem mais obrigações nem posse disso. A partir dessa vistoria, vamos fazer novo termo de ajustamento de conduta em que o proprietário vai assumir essas mesmas obrigações de zelar pelo prédio e também pelo acervo — explica.
Dessa forma, o MP antecipa que vai abrir um novo TAC, para tratar com os proprietários acerca do destino do acervo. A reportagem de GZH apurou junto aos envolvidos na questão que a ideia dos proprietários é locar ou vender o imóvel.
— Terá que ser uma venda ou locação que contemple as necessidades de proteção do patrimônio histórico relacionado ao imóvel — conclui o promotor.
Acervo desperta interesse de instituições
O destino do acervo tem despertado a atenção de entidades interessadas em abrigar os itens. Além do Instituto Cultural Brasileiro Norte-Americano (ICBNA), o Theatro São Pedro chegou a cogitar a possibilidade de receber o material.
— Foi uma ideia do Theatro São Pedro, mas avaliamos que não vai à frente. Talvez a Sedac (Secretaria de Estado da Cultura) tenha interesse nisso e, quem sabe, em receber esse acervo na Casa de Cultura Mario Quintana — menciona o presidente do Theatro São Pedro, Antonio Hohlfeldt.
O curador Paulo Amaral, que atualmente é coordenador de Artes Visuais da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de Porto Alegre (SMCEC), participou da construção do acervo. E dá sua opinião pessoal e desvinculada da prefeitura acerca do tema.
— Fiz os textos e juntei com as fotos contando a história reduzida da Livraria do Globo que funcionou naquele local — recorda.
— Procurei o Cláudio Bertaso (integrante da família ex-proprietária da livraria), e ele nos deu uma série de informações e fotos que nos possibilitaram fazer aquela linha de tempo — cita, dizendo que os objetos não possuem valor comercial, apenas histórico.
Para Paulo Amaral, que também foi diretor do Museu de Arte do RS (Margs) por três gestões e presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), o ideal seria se manter o acervo na Rua dos Andradas.
— Na minha opinião, deveria, em princípio, ficar lá. Foi feito exatamente para marcar a presença da Livraria do Globo, em uma certa época, naquele local.
O arquiteto Evandro Eifler Jr foi o responsável por planejar o espaço do acervo no prédio tombado.
— Fizemos o projeto de restauro e a SPM Engenharia foi responsável pela execução e todos projetos complementares — detalha.
Eifler acredita que o melhor seria a preservação do material onde está.
— O ideal é que o memorial fique no prédio que deu origem a toda história — reflete.
O arquiteto lembra que há um texto exibido na parede do local feito pelo escritor Luis Fernando Verissimo especialmente para integrar o memorial. E ainda compartilha como foi pensado o projeto para o público:
— Neste espaço, procuramos abordar alguns pontos, como o Erico Verissimo, a família Bertaso, a historiografia do prédio e, além disso, as vitrines com as revistas e artigos tipográficos que eles utilizavam na lida deles — enumera.
Saiba mais
O acervo é composto por objetos como uma máquina de calcular e outra de escrever da marca Royal – fábrica inglesa desses equipamentos distribuídos de forma exclusiva pela Globo. Também há matrizes litográfica e metálica para impressão de selos, quadros com matrizes metálicas, matriz tipográfica, fotografias antigas e o livro dos 50 anos da livraria. Uma escultura do escritor Erico Verissimo integra o memorial.