O novo Pontal Shopping, no final da Avenida Padre Cacique, zona sul de Porto Alegre, será aberto ao público na próxima quarta-feira (26). Com expectativa de operações inéditas na Capital e uma proposta inovadora para centros comerciais do gênero, o prédio de cinco pavimentos e mais de 90 mil metros quadrados de área brindará os visitantes com a brisa e o pôr do sol do Guaíba. Depois de quatro anos em obras, o shopping se unirá ao hotel, ao parque público na orla e à loja de construção que já operam no local.
A partir do meio-dia da próxima quarta, as primeiras lojas e restaurantes da praça de alimentação começarão a atender o público. Nos primeiros dias, o funcionamento será em ritmo de testes, já que o local é novo e cada lojista implementa uma operação do zero.
Entre as atrações prometidas pelo projeto original, se confirmou a chegada do segundo Hard Rock Café do Estado, ainda que neste primeiro momento operando em atendimento parcial, um restaurante 20BARRA9 no rooftop com vista para o Guaíba, unidades da Diego Andino Pâtisserie, da cervejaria Salvador Brewing Co., da galeteria Mamma Mia, dos chocolates Kopenhagen, sorvetes Freddo e Gelateria Gianluca Zaffari. Um telão gigante ao lado de uma das entradas da Avenida Padre Cacique exibirá mensagens informativas e publicitárias diversas em alta resolução de imagem.
A empresa promete duas exposições artísticas nos primeiros dias de atendimento ao público: uma de fotografias feitas por Nilton Santolin com o título Polaroides: Céu Azul de Porto Alegre, outra com pinturas de 11 artistas de diferentes vertentes, organizada pela produtora PaxArt. Ambas terão acesso gratuito em espaços comuns do shopping. A administração calcula que cerca de 100 mil pessoas devam circular pelo local entre a inauguração, no dia 26, e o feriado de 1º de maio.
Segundo a SBV Par, foram e serão gerados 1,2 mil empregos direta e indiretamente ao longo da obra e das novas operações comerciais internas. O espaço do Parque Pontal, em funcionamento desde o ano passado, conta com segurança 24 horas por dia, monitoramento com câmeras e cuidados ativos com a jardinagem e os demais itens de paisagismo.
No começo da tarde desta quarta-feira (19), a reportagem foi ao Pontal para ver como estavam os preparativos finais uma semana antes da abertura do shopping para os primeiros visitantes. Não foi permitida a entrada e publicação de imagem nas áreas internas do centro comercial, mas foi possível observar, de fora, que a maior parte do empreendimento está pronta.
No entorno, palmeiras e outros componentes da vegetação recebem escoras, bancos e lixeiras estão instalados, além dos gramados e mobiliário informativo sobre a história do Estaleiro espalhado pela área verde. Olhando para o lado de dentro da construção ainda não inaugurada foi possível observar que dezenas de trabalhadores cuidavam de detalhes no acabamento dos pisos, paredes e aberturas. As portas automáticas pareciam instaladas, mas estavam desligadas. As luzes no teto do amplo corredor central, que dão um acabamento elegante ao espaço, brilhavam ligadas, assim como o letreiro externo com o nome do shopping, voltado para o Guaíba e o parque.
Ao longo das oito portas de entrada para o shopping e no perímetro envidraçado, porém, alguns espaços ainda não tinham revestimento no chão nem nas paredes. De fora era possível identificar estruturas de madeira que ainda receberão tablados e revestimento até o teto.
O que ainda falta ficar pronto?
Não há uma previsão unificada para todas as estruturas que ainda não foram entregues. Cada lojista organiza sua operação em um ritmo.
O show de luzes que uma fonte instalada no Guaíba prometia ainda não acontecerá em um primeiro momento. A comunicação da empresa afirma que a atração segue nos planos, mas não informa um prazo para a aquisição e instalação dos equipamentos no estuário vizinho ao shopping.
História do local
Depois de quase 60 anos funcionando na Rua Voluntários da Pátria, já produzindo navios, a empresa Só & Cia transferiu o estaleiro da família Silva Só, com José Manoel e os filhos Júlio Martinho e José Álvaro, para o local conhecido como Ponta do Melo em 1949, onde ficou até a falência. A área no bairro Cristal foi aterrada para receber os prédios, como lembra Luiz Carlos Sarmento Só, outro descendente de Manoel.
No livro Indústria de Ponta - Uma História da Industrialização do Rio Grande do Sul, Eduardo Bueno e Paula Taitelbaum contam que o Estaleiro Só fabricou mais de 170 embarcações, entre navios de grande porte, ferry-boats, pesqueiros, rebocadores e outros. Na década de 1970, chegou a empregar mais de três mil pessoas. A família vendeu para um estaleiro do Rio de Janeiro o controle em 1972. A década seguinte, já como sociedade anônima, foi muito difícil, sem incentivos para a indústria naval. O estaleiro tentou diversificar os negócios, apostando no setor metalmecânico.
O gigante da indústria não resistiu à década de 1990. Com salários atrasados, o Estaleiro Só teve falência decretada em 1995. Por muito tempo, se discutiu o melhor destino para aquela região da cidade.
Confira uma linha do tempo com os fatos mais importantes
- 1850 - É inaugurado o Estaleiro Só, ainda na Voluntários da Pátria, uma gigante da indústria naval no Estado. Nas décadas seguintes, a empresa solidificou-se e tornou-se uma referência mundial.
- 1949 - A Só & Cia leva o Estaleiro Só para a Ponta do Melo, onde hoje é o Pontal.
- 1995 - Devido à decadência do setor naval brasileiro, o Estaleiro Só não resiste e encerra suas atividades. O local fica praticamente abandonado.
- 2001 - Após três leilões sem interessados pela compra do espaço — já que o regime urbanístico da área proibia atividades não ligadas à indústria naval —, um projeto de lei que retira essa limitação é apresentado pelo então Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano. Aprovado na Câmara Municipal, o futuro dono do espaço poderia, na época, construir uma marina e edifícios comerciais. O uso residencial, entretanto, estava proibido.
- 2003 - No quarto leilão da prefeitura, a construtora SVBpar, de Porto Alegre, compra a área por R$ 7 milhões.
- 2006 - A construtora apresenta o projeto Pontal do Estaleiro, que previa hotel, estacionamento, prédios empresariais, marina, parque, área de alimentação e cinco edifícios residenciais — indo contra à legislação aprovada em 2001. Moradores e ambientalistas se manifestam contrários ao projeto, alegando que os prédios bloqueariam a passagem do ar e a visão do pôr do sol, além de acentuar o trânsito da região.
- 2008 - Começa a ser discutido na Câmara Municipal o fim da proibição do uso residencial da área do Estaleiro Só. Após a votação ser adiada três vezes, a Câmara aprova a construção de prédios residenciais na orla, por 20 votos a favor e 14 contra. Porém, o então prefeito, José Fogaça, veta a proposta e convoca um plebiscito.
- 2009 - Em abril, a BM Par, então responsável pela obra, comunica que não pretende mais construir prédios residenciais por não existir “condições objetivas para a implantação, naquela área, de edificações mistas”. Fogaça insiste em manter o plebiscito e, em agosto, mais de 22 mil pessoas vão às urnas. 80% votaram contra a construção de prédios residenciais na orla.
- 2012 - Três anos depois, o projeto é remodelado e prevê um estabelecimento comercial, uma torre de serviços de 26 andares, parque e ciclovia. A prefeitura veta a altura e estipula o limite de 22 andares. O início das obras do chamado "Parque do Pontal" era previsto para o final de 2013 ou início de 2014.
- 2018 - O projeto é remodelado novamente e apresentado pela Melnick Even — agora, com o nome "Pontal".
- 2019 - Começa a obra dos edifícios do complexo
- 2021 - Começa a obra do Parque Pontal, com acesso público
- 2022 - Em novembro o Parque Pontal é inaugurado
- 2023 - Em janeiro o hotel Double Tree, da internacional Hilton, começou a operar
Números do shopping
- R$ 300 milhões investidos
- 91 mil metros² de área construída
- Espaço para 172 lojas
- Três andares de lojas e dois de estacionamento
- 21 elevadores e 18 escadas rolantes