Há alguns anos, moradores da zona sul de Porto Alegre e do bairro Lomba do Pinheiro, na Zona Leste, convivem com um problema que se repete principalmente durante os verões: a falta de água. No fim de semana do Natal de 2022, a situação voltou a acontecer, agravada pela estiagem e pela direção dos ventos.
A obra considerada a solução para a distribuição de água na região é o Sistema de Abastecimento de Água Ponta do Arado. No entanto, ainda vai demorar para sair do papel: a previsão do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) é de conclusão em fevereiro de 2025.
A construção abrange um conjunto de sete obras principais, e é preciso que todas sejam finalizadas para que o sistema comece a funcionar. A adutora de captação de água bruta já foi concluída — são duas linhas de dois quilômetros, com tubos de 1,2 metro de diâmetro, enterradas no fundo do Guaíba.
Outras três obras estão em construção: a Estação de Tratamento de Água (ETA) — a mais complexa de todo o conjunto —, a Estação de Bombeamento de Água Bruta e a adutora de água tratada.
Ainda neste mês de janeiro, deve ser iniciada a obra que envolve uma linha de transmissão de energia e uma subestação da CEEE Equatorial. Já outra subestação, de 69kV, tem licitação em andamento, na fase de habilitação, e a adutora de recalque de água bruta deve ser licitada neste ano.
Em junho de 2019, a obra recebeu aval da Secretaria do Tesouro Nacional para contratar financiamento junto à Caixa. Na época, a previsão era de que o Sistema Ponta do Arado ficasse pronto nos primeiros meses de 2023. Quando os trabalhos começaram, em 2021, a previsão era de conclusão até 2024. Agora, o novo prazo.
— Quando a gente conseguiu licitar a ETA, que é a maior obra do conjunto, a nossa previsão foi para 2024. Aí era um projeto bem possível de chegar nesse ponto. Então o que aconteceu, que já passou para 2025, foi a velocidade da obra. A gente está com alguma dificuldade de velocidade da obra, com as empresas que estão tocando, e por isso essa previsão — explica o diretor-geral do Dmae, Alexandre Garcia.
Falta de água pode persistir pelos próximos anos
Ao longo de 2022, o Dmae investiu R$ 25 milhões em recursos próprios para melhorar os sistemas de bombeamento da cidade, com troca de bombas e painéis e substituição de redes e adutoras. Mas o diretor-geral do departamento admite que, até a conclusão do novo sistema, a Zona Sul e a Lomba do Pinheiro ainda poderão enfrentar problemas no abastecimento.
— A gente vem investindo bastante. Foram muitos anos de falta de investimento e nós estamos tentando queimar etapas, investir mais, conseguir dar uma atenção melhor. Mas ainda poderão enfrentar (falta de água). A gente trabalha cada ano para ter uma condição melhor, mas talvez a gente ainda não tenha, nesse verão, uma melhora no sentido que a população merece.
Maior capacidade de abastecimento
Os bairros que serão beneficiados pelo Sistema Ponta do Arado são Aberta dos Morros, Belém Novo, Boa Vista do Sul, Campo Novo, Chapéu do Sol, Extrema, Hípica, Ipanema (parte), Lageado, Lami, Pitinga, Ponta Grossa, Quirinas, Restinga e São Caetano, na Zona Sul, além da Lomba do Pinheiro, na Zona Leste (veja o mapa abaixo).
Atualmente, eles são abastecidos pela ETA Belém Novo, que tem capacidade para mil litros por segundo. Um sistema de ultrafiltração, que são estações de tratamento móvel, complementa o abastecimento com mais 200 litros por segundo — portanto, são 1,2 mil litros por segundo.
Já o Sistema Ponta do Arado terá capacidade de produção de até 2 mil litros por segundo, e considera-se que, com isso, o problema está resolvido na região. No futuro, com novas obras, poderá chegar a 4 mil litros por segundo, caso necessário.
— Os 2 mil litros por segundo vêm para cobrir o déficit que temos na área, e já se prevê um crescimento demográfico por pelo menos 20 anos. Isso vai nos permitir uma setorização muito melhor do sistema. A Ponta do Arado vem para transformar o sistema de abastecimento na cidade — projeta Garcia.
Mesmo após a ativação do novo sistema, a ETA Belém Novo seguirá funcionando, e, com isso, poderá ser feita melhor distribuição.
Outro ponto positivo da Ponta do Arado é que ela vai captar água mais "do fundo" do Guaíba. Na ETA Belém Novo, apesar de reforma recente, o nível do manancial às vezes prejudica a captação.
Foi o que aconteceu no Natal de 2022: a direção dos ventos e o nível mais baixo fizeram com que a água ficasse muito turva, com lodo. Assim, o tratamento ficou mais difícil e lento, e a capacidade foi inferior a mil litros por segundo.
Até junho de 2019, a prefeitura havia negado a construção de 122 empreendimentos devido à incapacidade de fornecer água à região. Segundo o Dmae, no entanto, a partir de 2020, as autorizações voltaram a ser concedidas após a instalação do sistema de ultrafiltração. Assim, não há nenhum impedimento para novos empreendimentos na área.
Investimento
A obra recebeu o aval da Secretaria do Tesouro Nacional para contratar financiamento junto à Caixa em junho de 2019. O investimento total é de R$ 220 milhões. Desses, 95% são recursos da Caixa, e 5%, contrapartida do Dmae.
Há ainda outros investimentos custeados pelo departamento, como o Termo de Compromisso com a CEEE Equatorial e o contrato de apoio e gerenciamento das obras.