Moradores de 16 bairros do extremo sul e da zona leste de Porto Alegre enfrentam falta de água neste domingo (25) de Natal. O problema, que já havia sido alertado pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) durante a manhã, começou a atingir a região no início da tarde. Não há previsão para normalização.
A aposentada Veroni de Oliveira, de 69 anos, passou por momentos de aflição durante o Natal. Moradora da Rua Manoel Marques de Fraga, no bairro Hípica, sua casa ficou sem água no sábado (24) e também neste domingo.
— No sábado, faltou água lá pelo meio-dia e voltou pelas 16h. Quando a água volta, vem na cor preta. E hoje (domingo) faltou às 13h — relata.
A aposentada demonstra irritação com o problema, ainda mais em uma data onde a família costuma se reunir para celebrar o Natal.
— O meu pessoal ficou esperando a água voltar e nada. Ficamos com tudo sujo para lavar aqui em casa — reclama.
Os bairros afetados são Aberta dos Morros, Belém Novo, Boa Vista do Sul, Campo Novo, Chapéu do Sol, Extrema, Hípica, Ipanema (parte), Lageado, Lami, Lomba do Pinheiro, Pitinga, Ponta Grossa, Quirinas, Restinga e São Caetano.
O problema no fornecimento é causado pela turbidez da água do Guaíba, o que afeta a captação, tratamento e abastecimento na Estação de Tratamento de Água (Eta) Belém Novo. Segundo o Dmae, a produção deveria ser de 1,2 mil litros por segundo, mas não está sendo possível manter nem 700.
Pela manhã, os níveis de turbidez estavam em 96NTU (Unidade Nefelométrica de Turbidez), situação diretamente relacionada com a translucidez da água. O padrão para conseguir manter a qualidade no tratamento e a potabilidade é entre 20 e 35NTU.
No sábado, ocorreu o mesmo problema, mas durante a madrugada deste domingo, as condições hidrográficas do Guaíba foram favoráveis à captação, permitindo que o sistema Belém Novo fosse restabelecido.
Mesmo sem ter chovido, o transtorno havia reduzido em função da mudança na direção do vento. De acordo com o Dmae, o local de captação é uma enseada e o vento estava represando a água em direção ao Sul, à Lagoa dos Patos. Dessa forma, a água que estava sendo captada tinha muito lodo, impossibilitando o tratamento adequado.
— Quando se trata de água, contamos com a condição da natureza. Hoje (domingo), os níveis de turbidez aumentaram em 275%, prejudicando o tratamento da água. Seguimos monitorando as condições do lago e contamos com o apoio da população para economizar neste período excepcional de estiagem e turbidez — explica o diretor-geral do Dmae, Alexandre Garcia.
Entenda o problema
- Quando o Sistema Belém Novo foi construído, na década 1980, a produção de água bruta da Eta Belém Novo era de 700 litros de água por segundo. Com o crescimento populacional da região, foi necessário aumentar a vazão para 1,2 mil l/s.
- Como os pontos de captação estão localizados numa região de enseada, a região do extremo-sul sofre com as intempéries e acaba captando muito lodo, o que ocasiona problemas no tratamento e, por consequência, o desabastecimento da região.
- As demais estações de tratamento de água estão localizadas em pontos estratégicos, por isso, não sofrem com o problema de turbidez.