O desassoreamento do Arroio Dilúvio, que corta diversos bairros de Porto Alegre até desembocar no Guaíba, tem chamado atenção de quem passa pela Avenida Ipiranga, no trecho no sentido que vai do cruzamento da Rua Ramiro Barcelos em direção à Santana. Grandes montes de lodo se erguem, em alguns pontos, a mais de três metros de altura. Resíduos de lixo orgânico se misturam com pneus, garrafas pets, tecido de roupas e outros objetos. Os números já ultrapassam em duas vezes o que foi retirado dos escombros da antiga sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP), após ser implodida por dinamite em 6 de março deste ano.
— Passamos dos 35 mil metros cúbicos de resíduos retirados do Arroio Dilúvio desde a última medição realizada. Nossa perspectiva é fazer o carregamento de 200 mil metros cúbicos — explica o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Alexandre Garcia.
Após a implosão do prédio da SSP, foram retirados 14 mil m³ de entulho e 2,1 mil m de sucata.
E o pior ainda está por vir — o maior acúmulo de detritos está localizado na junção do arroio com o Guaíba. A previsão da prefeitura é de que sejam retirados 150 mil metros cúbicos apenas neste local.
— Optamos por atacar o problema em pontos onde há ilhas com mais lixo localizado. Iniciamos pela esquina da Rua Salvador França com a Ipiranga. Fizemos embaixo da ponte da Avenida Antônio de Carvalho, Silva Só e agora vamos até a Getúlio Vargas — enumera Garcia.
Nesta quinta-feira (13), a escavadeira hidráulica com braço estendido, que opera de segundas a sábados, recolhia todos os tipos de detritos. Em torno das 10h30min, era possível acompanhar diversos objetos que foram descartados por alguém voltar à superfície na concha de 90 centímetros do equipamento. A escavação é feita a um metro de profundidade.
— A retirada de resíduos do Dilúvio que estamos fazendo hoje é a maior dos tempos modernos — estima Garcia.
Sempre os pneus
Os pneus ainda são os objetos mais encontrados nas operações de desassoreamento do Dilúvio. Foram 1.637 somente na atual dragagem do arroio, iniciada em março deste ano. Se forem levados em consideração trabalhos de desassoreamento de outros córregos da Capital, o número ultrapassa 3 mil.
A retirada de resíduos do Dilúvio que estamos fazendo hoje é a maior dos tempos modernos
ALEXANDRE GARCIA
Diretor-geral do Dmae
Entre as curiosidades encontradas, uma bicicleta de aluguel e um carrinho de supermercado já foram retirados das profundezas do arroio. Além disso, é comum ver pessoas em situação de rua catando algum material para tentar revender. Até um venezuelano com um detector de metais já foi flagrado pelas equipes do Dmae buscando objetos durante um desassoreamento feito na foz do Arroio Capivara, no bairro Ipanema.
— Precisamos trabalhar bastante na mudança de comportamento do povo — observa o diretor-geral, que acompanhava os trabalhos nesta quinta nos arredores do Planetário.
Além dos pneus, garrafas pets e sacolas plásticas são outros itens muito encontrados durante os trabalhos. O resíduo retirado das águas contaminadas do Arroio Dilúvio, que nasce nas serranias de Viamão, na Região Metropolitana, e se dirige ao Guaíba, é depositado em 10 caminhões com frequência regular. Os veículos levam todo o material para um aterro de inertes localizado no bairro Lami, na Zona Sul. O que pode ser reciclado acaba sendo encaminhado para outros locais.
— Fazemos uma triagem no ponto de descarte. Retiramos os pneus e as garrafas plásticas e fazemos o encaminhamento adequado — esclarece Garcia, dizendo que o material chega muito contaminado e, em várias ocasiões, não pode ser recuperado.
Os maiores pontos de concentração de resíduos ficam onde há pequenas curvas no trajeto do Dilúvio ou em trechos com obstáculos, como na Salvador França. Nesses locais, o lixo fica mais decantado e afunda.
Após a remoção dos resíduos, são formadas ilhas nas margens para a decantação do material orgânico. É necessário aguardar entre 10 e 15 dias antes de encaminhar o material ao aterro sanitário. Nesta sexta-feira (14), das 9h às 16h, os caminhões formarão novamente filas nas imediações do Planetário. Após encherem as caçambas, partirão para descartar o lixo no Lami.
O Dmae pretende dragar até a Getúlio Vargas e o canal da Casa de Bombas 16 (próximo da Rótula das Cuias), com previsão de conclusão das ações em dezembro deste ano. As últimas operações de desassoreamento do Arroio Dilúvio ocorreram em 2018 e 2019.
Por sua vez, o que tem sido recolhido no desassoreamento de arroios da Zona Norte é descartado em um aterro de inertes situado em Eldorado do Sul, na Região Metropolitana.