Levou apenas sete segundos para uma construção de nove andares e cinquenta anos de história virar escombros. Erguida em 1972 e condenada após o incêndio de 2021, a antiga sede da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP), na Rua Voluntários da Pátria, praticamente deixou de existir na manhã deste domingo (6).
Ainda falta derrubar parte de uma parede do edifício, que não caiu com os explosivos. Segundo a empresa FBI, responsável pela operação, a estrutura estava desvinculada do restante da construção, e não entrou na área destinada à implosão. Deve ser demolida até segunda-feira (7).
— Foi uma sensação ruim na hora da implosão, porque lembramos tudo o que aconteceu com o prédio, mas não tinha o que fazer — disse o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, fazendo referência ao incêndio de 14 de julho de 2021.
A implosão estava prevista para as 9h e ocorreu no horário combinado. Antes, cinco alertas sonoros foram emitidos para avisar a população que o prédio situado na entrada de Porto Alegre viria abaixo.
Os ruídos, que puderam ser ouvidos desde as 8h, eram um ultimato: quem permanecesse dentro de casas e comércios situados em um raio de 300 metros, ou até mesmo circulando nas ruas, poderia estar em risco. A Defesa Civil do Estado garante que todos foram notificados com antecedência.
Os detonadores foram acionados na área reservada à imprensa, próximo ao Guaíba. Quem apertou o botão foi o engenheiro Manoel Jorge Diniz Dias, da FBI.
— Implosão tem carisma popular. Implosão é um espetáculo — disse, minutos antes de detonar os explosivos.
Em 1998, Dias comandou a implosão do edifício Palace II, no Rio de Janeiro. Cerca de 14 mil pessoas precisaram abandonar a região e todas acataram, garantiu.
— Tudo o que vivenciamos no Palace II eu vivenciei aqui em Porto Alegre também. Primeiro, tristeza por causa da tragédia. Depois, medo e, por fim, segurança em relação à operação — comparou.
Sobre destruir a parte do prédio da SSP que não veio abaixo, o engenheiro disse que será como “tirar pirulito de criança”.
Destoando da excitação de quem presenciou o prédio desabar, duas funcionárias da Secretaria da Segurança Pública choravam. Eloísa Figueiró e Glaucia Ferreira trabalharam no local por 20 anos. Não terão mais o edifício como gatilho de lembranças.
— Não tem como apontar para os nossos amigos, familiares, e dizer: “Ó, trabalhamos aí por tantos anos” — disse Glaucia, justificando suas lágrimas.
Próximos passos
As cerca de 20 mil toneladas de ruínas devem ser retiradas nos próximos 30 dias. Até o fim do mês de março também será definido o que fazer com o terreno na Voluntários da Pátria. Existem três possibilidades, segundo o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior: reconstruir a sede da SSP no mesmo local; permutar a área por um outro espaço onde se possa construir uma nova sede da SSP ou permutar por uma área que já tenha um edifício construído.
A avaria da então sede da Secretaria da Segurança Pública foi constatada um dia após o incêndio de 14 de julho do ano passado. Já era noite quando o fogo se iniciou em uma sala do quarto andar, ocupada pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).
Cerca de 40 pessoas ainda trabalhavam no local, mas conseguiram sair assim que as chamas começaram a se alastrar. O episódio fez duas vítimas fatais: os integrantes do Corpo de Bombeiros Militar (CBM) Deroci de Almeida da Costa e Lúcio Ubirajara de Freitas Munhós, que foram encontrados nos escombros após sete dias de buscas.
História
A construção do prédio na Voluntários da Pátria foi concluída em 1972. Serviu de sede para a Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA) e, em 1998, foi adquirida pelo Estado. A SSP, até então abrigada em um prédio na Rua Sete de Setembro, se instalou ali em julho de 2002.
Centenas de pessoas transitavam pelos nove andares do edifício na Voluntários da Pátria. Aproximadamente duas mil pessoas em um único dia, de acordo com a própria SSP, entre servidores, colaboradores terceirizados, visitantes, autoridades em reuniões e alunos de capacitações.
Ao longo dos 19 anos, diversos órgãos da Segurança Pública atuaram no local. O Comando de Policiamento da Capital, o Instituto-Geral de Perícias, o Detran-RS e, mais recentemente, o Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI).