Falta de sinalização e de reforço na segurança: esses são os dois maiores problemas das ciclovias e ciclofaixas de algumas das principais ruas e avenidas de Porto Alegre. A constatação foi feita a partir de uma blitz de GZH em 13 pontos diferentes da cidade, entre o Centro, zonas Sul, Norte e Leste e a região da Orla.
Em dados divulgados no início deste ano, a prefeitura de Porto Alegre calcula em 68 quilômetros a malha cicloviária atual. O objetivo da blitz foi focar em faixas para ciclistas onde haja movimento mais intenso do trânsito, além de regiões que receberam intervenções recentemente.
Foram avaliadas ciclovias e ciclofaixas. Ciclovia é um trecho exclusivo e separado para os ciclistas, geralmente com os dois sentidos disponíveis, como nas avenidas Ipiranga e Edvaldo Pereira Paiva. Já a ciclofaixa não tem separação física. Ela pode ser somente uma faixa pintada no chão, até mesmo junto à calçada ou à rua, ou então ter o auxílio de separadores, conhecidos como "olho de gato" ou "tartarugas", como nas avenidas Bento Gonçalves e Erico Verissimo.
Ao longo da blitz, a reportagem assinalou tópicos que chamavam a atenção em quesitos como infraestrutura, segurança e sinalização. Em comum, os itens que mais apareceram foram em relação a trechos onde a sinalização horizontal (pinturas na faixa) está apagada ou não existe, além de avenidas em que há ciclofaixas na lateral da via mesmo que exista circulação intensa de veículos.
Um dos locais em que houve mais dificuldade para seguir o trajeto da ciclofaixa foi entre as avenidas Silva Só, Mariante e Goethe. Por lá, a ciclofaixa “some” e reaparece várias vezes durante o percurso. Na Silva Só, há pontos com a pintura muito fraca, enquanto que na Goethe a via para ciclistas praticamente desaparece.
Outro destaque observado foi a falta de reforço na segurança em certos pontos. Na Avenida Ipiranga, por exemplo, todo o trecho entre as avenidas Antônio de Carvalho e Salvador França não possui grades de proteção, que evitariam uma possível queda de ciclista no Arroio Dilúvio. Após a Salvador França, em direção ao Centro, a avenida passa a ter as grades predominando, inclusive com pontos onde há proteção entre a ciclovia e os carros também.
Meta é ultrapassar cem quilômetros de vias para bikes
Segundo a prefeitura, a meta para 2024 é ultrapassar os cem quilômetros de vias para ciclistas. Alguns trechos dessa ampliação são os da Rua Lopo Gonçalves, no bairro Cidade Baixa, e da Avenida Sertório, no Sarandi.
Na Lopo Gonçalves, uma crítica recente dos ciclistas diz respeito à maneira como a ciclofaixa foi feita. Isso porque o caminho para as bicicletas não fica ao lado da calçada, mas entre a rua e o meio-fio. Assim, carros podem estacionar no lado esquerdo, e há risco de acidentes, como uma porta abrir e atingir o ciclista. Além disso, a reportagem flagrou momentos em que os veículos paravam em cima da ciclofaixa, seja para estacionar ou para desviar de engarrafamentos.
Tássia Furtado, voluntária da ONG Bike Anjo, uma organização que atua há mais de 10 anos em mais de 38 países e que pensa a bicicleta como ferramenta de transformação da cidade, analisou algumas situações encontradas na blitz. Segundo Tássia, os ciclistas não concordam que sinalizadores no chão possam ser considerados separadores físicos e que protejam efetivamente dos veículos.
Um exemplo desse ponto de vista é a Bento Gonçalves, em que há ciclofaixa nos dois sentidos, uma em cada lado da avenida. O trecho é separado apenas por sinalizadores no chão, sem grades ou distanciamento do asfalto. Esses sinalizadores são considerados um tipo de divisor de espaço pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). No entanto, os ciclistas ficam muito próximos dos carros. Além disso, o Código de Trânsito Brasileiro prevê que o motorista fique a, no mínimo, 1,5 metro do ciclista.
Por outro lado, as ciclofaixas junto à Bento não permitem esse distanciamento do veículo. Além disso, a velocidade máxima permitida aos veículos no trecho é de 60 km/h, e a ciclofaixa costuma ser usada em áreas onde o trânsito é mais lento.
— As pessoas não se sentem confortáveis ao pedalar por ali porque a qualquer momento os carros podem entrar na ciclofaixa. Nós andamos pela cidade e vemos isso ocorrendo direto, e inclusive não sabemos a quem recorrer quando isso acontece. Então, identificar esses sinalizadores como separadores faz com que a prefeitura entenda todas essas ciclofaixas como ciclovias. E isso, pra nós, é um grande erro — afirma Tássia.
Segundo a EPTC, "a implementação de ciclofaixas junto às avenidas segue o regramento estabelecido pela resolução do Contran 874, a qual estabelece os distanciamentos regulamentares para as construções".
A ciclista ainda salienta a necessidade de reforçar também a sinalização vertical, com placas.
— Fazer a ciclovia só pintada é um grande problema. Temos muitos colegas que não andam de bicicleta nesses lugares à noite porque fica difícil de enxergar, tanto para nós quanto para os motoristas — explica.
Além dos lugares onde já há faixas para ciclistas, uma sugestão de Tássia e da ONG é de que fosse pensada uma ciclovia na Rua Venâncio Aires. Conforme ela, seria importante existir ao menos um estudo para o local, já que muitos ciclistas passam por essa região e não têm uma área segura para pedalar.
A respeito de uma ciclovia na Venâncio Aires, a EPTC respondeu o seguinte: "A prefeitura está fazendo ajustes no seu planejamento para a expansão da rede cicloviária. Desde julho, realiza encontros com diversos setores da sociedade com o objetivo de colher contribuições para os ajustes no planejamento. Dentro desse contexto estão entre as prioridades pontos em que podem ser feitas conexões. A Venâncio Aires é uma das ruas que está no nosso planejamento para execução".
O que a EPTC diz sobre os problemas em trechos das vias para ciclistas
Avenida Bento Gonçalves
Pouco depois da Faculdade de Agronomia da UFRGS, há um trecho em que a ciclofaixa se junta com a calçada, onde ciclistas e pedestres precisam dividir o mesmo espaço. No sentido contrário, também há trecho que junta com a calçada, ainda que, neste caso, haja espaço para pedestre
"Ao fazer o planejamento, a prefeitura busca implantar as ciclovias da forma mais segura para todos. Considerando que a cidade já está consolidada, em alguns casos, não é possível garantir espaço específico para os ciclistas. Nessas situações, a partir de uma análise técnica, a prefeitura verifica a viabilidade de dividir o espaço entre ciclistas e pedestres, como no caso específico da Bento Gonçalves. Lembrando que, quando a ciclovia é compartilhada, a preferência no passeio público é sempre do pedestre."
Galhos de árvores atrapalham o caminho próximo da Rua Santa Fé
"A manutenção das podas da vegetação junto às ciclovias é solicitada para a Secretaria de Serviços Urbanos. A secretaria já foi contatada para fazer vistoria no local e posterior execução da poda."
Avenida Ipiranga
No trecho inicial, com a Antônio de Carvalho, a sinalização está apagada
"Na região citada, no cruzamento da Avenida Ipiranga com a Antônio de Carvalho, a prefeitura realizou recentemente o recapeamento asfáltico do trecho e, na semana passada, a repintura do trecho."
Todo o percurso entre a Antônio de Carvalho e a Salvador França está sem grade de proteção em nenhum lado. A partir da Salvador, predomina a existência da grade de proteção. Próximo da Rua Machado de Assis, no bairro Jardim Botânico, está sem uma grade, com um buraco na proteção
"Dentro do processo de manutenção das ciclovias, primeiro é executado o pavimento, depois a sinalização e, nos casos em que há gradis, posteriormente se faz a reposição dos gradis. Este ajuste está dentro do cronograma que começa a ser executado pela prefeitura em trechos da Ipiranga no final do ano."
Há um pequeno trecho em reforma em frente à PUCRS
"Na frente da PUCRS há uma obra privada em andamento de construção de uma ponte. Quando foi dada licença foi solicitado à empresa responsável pela obra que, durante a obra, não fosse interrompida a ciclovia. Quando houver necessidade de fechamento, para que os usuários da estrutura cicloviária possam seguir utilizando o espaço, a ciclovia passará para a calçada no trecho entre a PUCRS e a Cristiano Fischer."
Em frente ao planetário da UFRGS, o guard-rail está quase caindo e o piso se encontra com um pequeno desnível
"Dentro do processo de manutenção das ciclovias, primeiro é executado o pavimento, depois a sinalização e, nos casos em que há gradis, posteriormente, se faz a reposição dos gradis. Este ajuste está dentro do cronograma que começa a ser executado pela prefeitura em trechos da Ipiranga no final do ano."
Avenida Diário de Notícias
Assim como na Ipiranga, possui ciclofaixa junto da calçada
"Ao fazer o planejamento, a prefeitura busca implantar as ciclovias da forma mais segura para todos. Considerando que a cidade já está consolidada, em alguns casos não é possível garantir espaço específico para os ciclistas. Nesses casos, a partir de uma análise técnica, a prefeitura verifica a viabilidade de dividir o espaço entre ciclistas e pedestres, como no caso específico da Diário de Notícias."
Sinalização está apagada em boa parte da ciclofaixa. A partir do cruzamento com a Wenceslau Escobar, a sinalização melhora. No entanto, logo em seguida a ciclofaixa acaba
"A implantação de ciclovias em Porto Alegre é feita mediante contrapartida, financiamento e com recursos próprios do tesouro. No caso da Wenceslau Escobar, há a previsão de implantação mediante contrapartida do trecho entre a Coronel Massot e Otto Niemayer."
Avenida Erico Verissimo
Pintura antiga, com sinalização quase apagada nos trechos de ciclofaixa
"O trecho já tem previsão de manutenção. De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), órgão que realiza o serviço de pavimentação, os reparos deverão ser feitos até o fim do ano. Neste momento, as equipes estão mobilizadas nos consertos emergenciais de buracos nas faixas de rolamento, onde há grande circulação de veículos. Após isto, a equipe responsável dentro da EPTC pela sinalização, realiza a manutenção da sinalização horizontal."
Avenida Loureiro da Silva
Pouca sinalização vertical (placas)
"A sinalização nas ciclovias é implantada conforme o Manual de Sinalização Cicloviária do Contran. Permanentemente são realizadas vistorias para análise de sinalização das ciclovias e, nos casos em que há necessidade, é feito o encaminhamento para ajustes."
Avenida Nilópolis
Pouca sinalização vertical (placas)
"A sinalização nas ciclovias é implantada conforme o Manual de Sinalização Cicloviária do Contran. Permanentemente são realizadas vistorias para análise de sinalização das ciclovias e, nos casos em que há necessidade, é feito o encaminhamento para ajustes."
Silva Só/Mariante/Goethe
Sinalização horizontal apagada perto da Ipiranga
"O trecho já tem previsão de manutenção. De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb), orgão que realiza o serviço de pavimentação, os reparos deverão ser feitos até o fim do ano. Neste momento, as equipes estão mobilizadas nos consertos emergenciais de buracos nas faixas de rolamento, onde há grande circulação de veículos. Após isto, a equipe responsável pela sinalização dentro da EPTC, realiza a manutenção da sinalização horizontal."
Na Goethe, quase nada de sinalização. A ciclofaixa “some” e aparece várias vezes no trajeto
"O trecho entre as ruas Florêncio Ygartua e Dona Laura terá melhorias já estabelecidas em contrapartida. O trecho já existente entrará no agendamento de manutenção, conforme disponibilidade de materiais."
Ipanema/Rua Déa Coufal
Foi passado asfalto novo no começo da ciclofaixa na Rua Déa Coufal, bem na esquina com a Avenida Coronel Marcos, em direção à Avenida Guaíba, e ela ficou totalmente apagada
"A revitalização da ciclovia da Avenida Guaíba está nos últimos ajustes de projeto e deve ser implantada nas próximas semanas."
Rua Lopo Gonçalves
A ciclofaixa fica entre uma área em que é permitido estacionar e o meio da rua Com isso, há riscos de acidentes
"A Rua Lopo Gonçalves é uma via local, de sentido único, com velocidade de 30 km/h, e faz parte do eixo cicloviário previsto no PDCI, Plano Diretor Cicloviário Integrado, Lei 626 de 2009. Quanto ao projeto da via, informamos que o mesmo contempla uma ciclorrota no sentido da via, que é uma sinalização de compartilhamento de ciclistas e veículos e uma ciclofaixa no sentido oposto, conforme estabelecido no artigo 58 do Código de Trânsito Brasileiro no Art. 58. O mesmo código estabelece no Art. 29, inciso 2, que os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres."
Avenida Sertório
Trecho novo construído próximo à Avenida Assis Brasil ainda é muito curto e não tem ligação com outras vias para ciclistas
"A prefeitura está fazendo ajustes no seu planejamento para a expansão da rede cicloviária. Desde julho, realiza encontros com diversos setores da sociedade com o objetivo de colher contribuições para os ajustes no planejamento. Dentro desse contexto estão entre as prioridades pontos em que podem ser feitas conexões e que têm potencial de expansão, como por exemplo a Sertório. Estamos analisando tanto a expansão mediante contrapartidas, como por financiamentos e com recursos próprios."