As dezenas de pichações feitas em diferentes pontos do Largo dos Açorianos, em Porto Alegre, deverão ser removidas na primeira quinzena de outubro, conforme programação da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb). O trabalho será realizado a partir de uma ação no espaço de 19,2 mil metros quadrados, em conjunto com o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU).
Localizada no limite entre o Centro Histórico e a Cidade Baixa, a área de lazer foi entregue revitalizada há três anos, mas agora conta com pichações de diversas cores em praticamente todos os seus elementos. Há riscos em diferentes partes do Viaduto dos Açorianos, situado na Avenida Borges de Medeiros, em bancos de concreto, no entorno dos espelhos d’água, nas lixeiras, nas arquibancadas e na histórica Ponte de Pedra.
As pichações foram mostradas por GZH na segunda-feira (26). Na manhã desta quinta (29), a situação continuava a mesma.
Responsável pela restauração dos viadutos da cidade, a SMSUrb informou, em nota, que a ação de limpeza das pichações irá além da elevada. “Será feita a remoção na primeira quinzena do mês de outubro do que for possível e de acordo com as demandas mais urgentes na cidade”, disse a pasta.
Questionada sobre a remoção das pichações, a Ordem dos Advogados do Brasil no Estado (OAB/RS), adotante do local desde dezembro de 2019, afirmou que é responsável por corte de grama, manutenção dos canteiros, limpeza dos espelhos d’água, varredura e recolhimento de lixo, manutenção preventiva das bombas hidráulicas e instalação de sinalização de educação ambiental e informativa, conforme o Termo de Convênio de adoção do largo, assinado com a prefeitura de Porto Alegre e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smamus).
O texto destaca que a OAB/RS realiza “a devida manutenção e recebe colaborações e sugestões de frequentadores” e aponta que, segundo o Termo de Convênio, “danos causados por terceiros ou decorrentes de força maior não são responsabilidade da entidade. Dessa forma, qualquer tipo de obra, o que inclui a remoção de pichações, segue sendo de responsabilidade da PMPA/SMAM” (confira a nota na íntegra no final desta reportagem).
Pontos de vista sobre as pichações
Para André Dal Prá, 57 anos, que mora nas proximidades do Largo dos Açorianos e costuma passear pelo local com seu cachorro, os pichadores deveriam ser obrigados a limpar os desenhos feitos no patrimônio público. O psicólogo acredita que não há como prevenir esse tipo de ação, mas ressalta que é necessário ter vigilância, mesmo que não seja 24 horas, e que as câmeras instaladas nos arredores do largo precisam funcionar.
— Eu tinha que chegar aqui e ver que tem pessoas limpando aquilo lá, é uma coisa mínima. Não é puxar a orelha ou tirar algum direito que a pessoa tenha como cidadã, é só limpar, como eu limpo as sujeiras do meu cachorro — opina André, que estava com seu cachorro perto do lago na manhã de quinta-feira (29).
Ele também comenta que as pichações podem acabar espantando os frequentadores:
— Eu ia em uma outra praça e parei de ir porque essa aqui é mais bonita. Mas, à medida que eles vão sujando e estragando os negócios, a atitude que as pessoas têm é de ir migrando para outros lugares.
Sentada em uma das arquibancadas do largo, trabalhando ao lado de seu sócio, a representante comercial Vanessa Wasgen, 41, apresenta uma visão diferente. Ela afirma que não se incomoda com as pichações, pois considera parte da manifestação de alguma forma de frustração das pessoas e da personalidade dos moradores do município.
— Eu entendo isso como uma forma de expressão, não vou dizer artística, mas alguma expressão do que a pessoa está sentindo. Acho que deveríamos voltar o nosso olhar para entender por que isso acontece, de onde vem. Imagino que venha da nossa diferença social, acho que é uma maneira de as pessoas demonstrarem sua frustração com a qualidade de vida — aponta.
Moradora das proximidades do largo, Vanessa conta que gosta de sair do escritório e trabalhar no local porque aproveita para pegar sol e tomar chimarrão. Ela acrescenta que, em sua visão, a repressão com vigilância e punição dos pichadores não resolve o problema. Como opção, cita a aplicação de uma medida na base, resolvendo o motivo que leva as pessoas a picharem.
O que diz a OAB/RS
“Conforme o Termo de Convênio de adoção do Largo, assinado com a Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade, a Ordem gaúcha é responsável pelo corte de grama, manutenção dos canteiros, limpeza dos espelhos d’água, varredura e recolhimento de lixo, manutenção preventiva das bombas hidráulicas e instalação de sinalização de educação ambiental e informativa com placas. A limpeza e o recolhimento de lixo do Largo dos Açorianos são realizados seis vezes por semana.
A praça foi adotada oficialmente pela entidade em 18 de dezembro de 2019, que renovou o termo neste ano.
A OAB/RS realiza a devida manutenção e recebe colaborações e sugestões de frequentadores. Esclarecemos que, conforme o Termo de Convênio, danos causados por terceiros ou decorrentes de força maior não são responsabilidade da entidade. Dessa forma, qualquer tipo de obra, o que inclui a remoção de pichações, segue sendo de responsabilidade da PMPA/SMAM. Assim, a OAB/RS informa que está tratando do assunto junto à Prefeitura para resolução da situação na praça.”