Os moradores do condomínio Bosques de Palermo, localizado na Rua Machado de Assis, no bairro Jardim Botânico, em Porto Alegre, ainda sentem os efeitos do incêndio ocorrido no estacionamento do prédio há exatamente um mês. Na ocasião, as chamas atingiram 11 veículos estacionados, sendo que sete tiveram perda total. Até agora, os condôminos das duas torres não sabem o que causou o fogo, já que o laudo da perícia não está pronto.
— Alguns moradores precisaram trocar os estofados e lavar as paredes por causa da fuligem dentro dos apartamentos. O hall ficou totalmente insalubre porque a fuligem atingiu as duas entradas do prédio — comenta o atual síndico do condomínio, Jorge Luis Bueno de Oliveira.
O sinistro causou inúmeros inconvenientes aos moradores, especialmente àqueles que tiveram perda total ou parcial nos carros queimados. Os proprietários precisaram alugar outros boxes para estacionar os veículos enquanto a garagem está sendo recuperada.
O seguro do prédio, que não cobre os automóveis queimados pelo fogo, foi acionado para a cobertura das despesas nas áreas comuns. Porém, algumas documentações, e o próprio laudo do Instituto-Geral de Perícias (IGP), ainda estão pendentes para o seguro cobrir posteriormente os gastos. Dessa maneira, os donos dos veículos precisaram acionar os próprios seguros particulares dos carros para não terem maior prejuízo financeiro.
— O seguro do prédio cobre as partes comuns do condomínio — esclarece o síndico.
Houve casos de moradores que precisaram deixar temporariamente seus apartamentos, mas os nomes e quanto são não estão sendo divulgados pelo condomínio.
— O incêndio foi de grandes proporções e caiu o reboco da garagem. Foram atingidos piso, paredes, as partes elétrica e hidráulica do prédio. Toda essa infraestrutura está sendo recuperada agora — enumera o síndico, estimando que a recuperação de tudo deverá levar de quatro a cinco meses.
Os poços dos elevadores, que ainda estão cheios de fuligem, precisarão passar por limpeza. Por sua vez, os exaustores das duas torres pararam de funcionar em função de uma pane elétrica e agora, recuperados, ainda precisarão ser revisados por técnicos.
A professora universitária Ana Margô mora no 10º andar e enfrenta diversos incômodos desde que o fogo atingiu o condomínio.
— Tive perda total do meu carro porque ele estava bem ao lado do veículo onde o fogo teria começado — revela.
O carro de Margô, um Honda WRV, tinha apenas três anos e 22 mil quilômetros rodados. No dia do incêndio, seria levado para a revisão anual.
— Estou sem carro até hoje e ando de Uber — informa a moradora, confirmando que sua seguradora particular depositou o valor em sua conta uma semana depois do sinistro.
Margô cita que não pretende comprar um carro novo antes de as garagens estarem recuperadas e liberadas novamente aos proprietários. Além disso, ela já gastou quase R$ 4 mil com a limpeza do apartamento e de objetos como cortinas, persianas e tapetes. Não está somado nessa conta o valor pago para alugar uma van escolar para levar e trazer o filho da escola, o que antes não era necessário.
— Meu apartamento ficou com muito cheiro de fumaça. Passei um final de semana com meu filho na casa de uma amiga — recorda.
Margô menciona que o papel de parede ficou danificado em vários pontos do condomínio. Além disso, a academia de exercícios sofreu danos e ainda está interditada. O salão de festas ficou chamuscado e também precisará ser pintado.
O Corpo de Bombeiros deve realizar uma nova vistoria no local do incêndio durante esta semana para avaliar as condições atuais.
— A gente acredita que esse incêndio não foi criminoso. Até o momento, não temos indícios de que tenha origem criminosa. Mas não podemos afirmar, ainda, porque precisamos aguardar o laudo do IGP — compartilha a delegada responsável pela investigação, Andrea Magno, da 8ª Delegacia de Polícia Civil da Capital.
Segundo a titular da 8ª DP, as imagens das câmeras de vigilância do estacionamento estão com a polícia, e as informações necessárias para o andamento da investigação foram coletadas no condomínio. Ninguém se feriu durante o incêndio, mas uma moradora de 69 anos precisou ser conduzida ao Hospital de Pronto Socorro (HPS) após inalar fumaça e passar mal.
— Se não tiver origem criminosa (o incêndio), não temos motivo para instaurar um inquérito policial — explica a delegada.
O IGP informou nesta segunda-feira (12) que o laudo da perícia está sendo finalizado pela equipe, mas a divulgação do resultado deve atrasar alguns dias em função de um problema técnico.
O que se sabe até agora é que o fogo teria começado em um veículo estacionado na garagem. O Departamento de Criminalística vai determinar se as chamas foram causadas por agentes externos ou internos no automóvel.
Relembre o caso
Os bombeiros chegaram ao prédio residencial de duas torres de 15 andares e 109 apartamentos por volta das 6h de 12 de agosto. O fogo começou na garagem do térreo pouco antes. A primeira medida foi alertar aos moradores que ainda estavam dormindo para que saíssem dos apartamentos e descessem para a rua durante o trabalho de combate às chamas.
As sirenes de incêndio tocaram no prédio, o que agilizou o processo de descida dos residentes. Em torno das 8h, as chamas já haviam sido apagadas. Os condôminos foram autorizados a voltar para suas casas depois das 10h. O estacionamento foi isolado para o trabalho da perícia.
Uma viatura discreta da Polícia Civil, que tinha permissão para estar no local, também estava entre os carros atingidos pelas chamas. O Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (PPCI) do condomínio estava em dia.