Com previsão de construção de novos empreendimentos imobiliários, lazer noturno e atração de mais moradores no médio e longo prazo, a região da zona norte de Porto Alegre conhecida como 4º Distrito se consolida cada vez mais como “a bola da vez” para o mercado imobiliário. Mas cresce a preocupação de habitantes de menor poder aquisitivo, como os que vivem no Loteamento Santa Terezinha, conhecido como Vila dos Papeleiros.
Nesta terça-feira (14), representantes do empresariado receberam integrantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) para trocarem ideias em uma reunião-almoço no Palácio do Comércio, sede da Associação Comercial de Porto Alegre (ACPA). A pasta apresentou as diretrizes urbanísticas do projeto de lei que institui o programa +4D. Como exemplo relacionado à questão social, a diretora de Planejamento Urbano da Smamus, Patrícia Tschoepker, citou a intenção de qualificar profissionalmente a população da Vila dos Papeleiros, vizinha dos investimentos recentes.
— Pensamos em um processo de ressocialização da Vila dos Papeleiros e sua comunidade não só com oferta de empregos, mas com ações que incentivem capacitações em áreas ligadas à reciclagem, e outras também — apontou a diretora. — Enxergamos o 4º Distrito como um lugar de inovação e que aceitará ideias para trabalhar de maneira inovadora em relação ao que acontece no resto da cidade.
No +4D, são previstas melhorias na urbanização entre a rodoviária e a Arena do Grêmio, com diferentes níveis de aproveitamento arquitetônico dos imóveis de acordo com o atual estágio de cada bairro, além de incentivos tributários e a execução de novas obras públicas estruturantes.
Projetos educacionais
Pedro Valério, diretor executivo do Instituto Caldeira, ressaltou a confiança que ele e os colegas têm na região, considerando o impacto social que a inovação pode causar. Ele afirma que o projeto Campus Caldeira , na Avenida A.J. Renner, deve selecionar e acompanhar 500 estudantes egressos do Ensino Médio de escolas vizinhas, oferecendo cursos profissionalizantes voltados para a tecnologia. A ideia é que empresas parceiras do Instituto Caldeira possam contratar futuros profissionais que devem surgir desse grupo de jovens.
— A pandemia teve um impacto relevante no fator anímico dos jovens, segundo os próprios diretores de escolas. Estamos em busca de um diálogo com a população local para que o 4º Distrito não seja como uma nave espacial aterrissando do nada com uma realidade diferente da encontrada ali — comentou Valério.
O que ainda é sonho
Outra organização pioneira na região, a Nau reúne espaços para coworking em um edifício tradicional da região. Uma das fundadoras, Camila Borelli, afirma que os resultados do próprio negócio e o surgimento de outros na vizinhança significam que o movimento de recuperação daquela zona da cidade é uma realidade já em execução. Ao mesmo tempo, reconhece que ainda são necessárias melhorias na estrutura pública, sugerindo que a gestão municipal confie aos próprios empresários a busca por soluções.
— Atualmente, vemos dois 4º Distritos. Um do “lado de cá” da Avenida Farrapos, e outro “do lado de lá”. A questão dos alagamentos, do lixo e da própria Voluntários, dos furtos de cabos e da insegurança, é uma preocupação. Mas, olhando o que está acontecendo, não podemos nem usar o termo “revitalização”, pois o lugar não está morto. Há muita atividade com inovação, cultura e gastronomia — ponderou Camila.
Melhor ambiente para investimentos
A década de 2020 foi apontada pelos painelistas como a que proporcionará o retorno dos investimentos aos bairros do 4º Distrito. A novidade em relação às tentativas anteriores de revitalização, segundo o conselheiro da ACPA Luiz Carlos Camargo, é que o movimento iniciou pela iniciativa privada e agora está sendo consolidado pela gestão pública. Nas palavras dele, a prefeitura acerta ao manter o diálogo com setores empresariais e pensar o desenvolvimento oferecendo um melhor ambiente para atrair investidores, em vez de programas centrados na isenção de impostos.
— O prefeito Sebastião Melo está enxergando a região como se fosse uma empresa, e não sob o viés da política — destacou o empresário.
A proposta de lei tramita na Câmara Municipal e é apontada como fundamental pelos empresários que apoiam a participação da prefeitura nas iniciativas de desenvolvimento da região.
Em nível legislativo, é de grande expectativa dos setores econômicos que a lei complementar 007/22, enviada à Câmara por Melo há um mês, avance. Único vereador presente no evento desta terça, Felipe Camozzato (Novo) se comprometeu a levar as ideias debatidas no encontro aos colegas parlamentares e ser um apoiador do texto. A proposta já teve seu relatório concluído na Comissão de Constituição e Justiça, passará por audiência pública na quarta (15) e deve ser votado ainda este ano, na expectativa de Camozzato.
— Veremos se conseguimos pautar esse debate para a votação em plenário acontecer ainda este ano. Dependendo de como forem as eleições, fica para depois. Mas, por mim, votaria ainda em junho — projetou.