Em uma semana marcada por chuva e transtornos causados por temporais, o processo de distribuição e instalação de caixas d'água para moradores do Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre, pouco avançou. A região é afetada diariamente por problemas no abastecimento, motivo que levou o prefeito Sebastião Melo a decretar situação de emergência há um mês.
Da sexta-feira passada (4) até agora, nenhuma nova caixa foi distribuída, mantendo as cem já encaminhadas à população no fim de fevereiro. Outras 350 estão armazenadas no pátio da Escola de Ensino Fundamental Morro da Cruz.
A prefeitura da Capital explica que a distribuição de novos reservatórios só será priorizada novamente quando houver um avanço na instalação desses materiais, ainda que haja uma previsão de 10 novas entregas na próxima semana. A comissão formada por moradores e membros do Executivo municipal definiu que o poder público ficará responsável por metade das caixas, enquanto a outra parte ficará por conta da própria comunidade. Até agora, apenas uma caixa d'água foi formalmente instalada.
O secretário municipal de Habitação e Regulação Fundiária, André Machado, um dos coordenadores da comissão, afirma que esta semana foi dedicada à entrega de materiais de construção utilizados para erguer as estruturas que segurarão os reservatórios nas residências com menor estrutura. Foram entregues 56 itens nesta semana, totalizando 70 casas beneficiadas. Já as instalações, segundo o secretário, devem ser realizadas a partir das próximas semanas.
— É um processo que vamos aprendendo com o tempo. Diversas casas ficam em condições irregulares, e isso dificulta ainda mais. Em pontos como nos becos 3 e 4, por exemplo, pessoas têm pedido apenas a caixa para servir de reservatório porque não há como montar estruturas em algumas residências — relata.
Nos últimos dias, a prefeitura vinha buscando alternativas para conseguir efetivo para agilizar as instalações. Por meio de uma parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS), foi providenciada uma equipe de empreiteiros para auxiliar no funcionamento das caixas d'água. O objetivo era iniciar o trabalho desses profissionais ainda nesta semana, mas o tempo instável acabou atrasando o cronograma.
Outros serviços afetados
As condições climáticas geraram outros obstáculos para a operação. Equipes do Departamento Municipal de Habitação (Demhab) que seguem circulando pelo morro para verificar a situação dos moradores em áreas mais críticas foram reduzidas, pois tiveram que se dividir para atuar em pontos atingidos pelo temporal, especialmente a Vila dos Sargentos, na Zona Sul. Além disso, diversas ocorrências de queda de energia comprometeram o funcionamento no reservatório Cota 200, responsável por levar água às partes mais altas do morro.
Ao todo, 620 famílias já foram cadastradas na região. Desse total, 222 casas possuíam caixa d’água e 398, não. Nem todas receberão os materiais, pois devem receber auxílio das três caixas comunitárias que serão colocadas no topo do morro, sendo duas com 15 mil e uma de 20 mil litros. A previsão é de que, com a conclusão dessas obras, pelo menos 90 famílias tenham sido atendidas. A instalação é prevista ainda para este mês.
Ainda assim, algumas pessoas aguardam para receberem o material. É o caso do zelador Paulo Ricardo Fagundes Pinheiro, morador da Avenida Comunitária, no beco 3. Ele conta que enfrenta a falta de abastecimento constantemente.
— É um problema constante, são dois, três, até cinco dias sem água. Me inscrevi pra receber a caixa e me propus para instalar por conta própria, mas, até agora, não recebi. Água é o mínimo na torneira da população. A pessoa chega cansada do trabalho, quer tomar banho, ter um mínimo de dignidade — protesta.
Dmae garante melhorias
Paralelamente à distribuição das caixas d'água, outras medidas em caráter emergencial têm sido tomadas na região do Morro da Cruz para qualificar o sistema de distribuição de água. Segundo o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) algumas obras de substituição de bombas já foram concluídas. No último dia 3, a troca de uma motobomba garantiu que a água atingisse pontos localizados 250 metros acima do nível do Guaíba.
O departamento prevê que a principal ação a médio prazo é a implementação de redes formais, substituindo o atual modelo de abastecimento feito hoje através de mangueiras. O planejamento para a obra, segundo o órgão, já foi iniciado.