O transporte coletivo de Porto Alegre tem dado, recentemente, novos sinais de esgotamento do sistema: só nos últimos dias, a Carris anunciou o parcelamento dos salários pela primeira vez na história, e a empresa Trevo descumpriu tabelas alegando falta de diesel, o que deixou 36 veículos sem circular.
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (6), o engenheiro de transporte da Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), Antônio Augusto Lovatto, admitiu o risco de novos "apagões" no sistema.
— Tanto a redução de horários quanto o atraso de pagamentos são estratégias que têm os mesmos objetivos. Primeiro, o menor impacto possível junto aos usuários. Segundo, construir um saldo financeiro para saldar os compromissos (das empresas) no curto espaço de tempo — explicou.
Segundo Lovatto, atualmente, o sistema opera com cerca de 50% menos passageiros do que antes da pandemia, número que corresponde a uma média de 350 mil a 400 mil usuários. Para agravar o problema dos custos, um novo aumento no valor do diesel entrou em vigor nesta terça.
— O setor vem há mais de dois anos sem nenhum reajuste tarifário. É importante citar que o pedido de R$ 5,20 (aumento projetado para a passagem) não foi das empresas, foi o cálculo da EPTC (...) O prefeito que achou por bem decretar tarifa a R$ 4,80 — explicou.
— Dentro desse cálculo de R$ 5,20, o preço do diesel consta a R$ 3,12 (...). Mas até ontem, as empresas estavam pagando R$ 4,10 o litro. Já tinha um aumento substancial que não tem cobertura nenhuma — acrescentou.
O engenheiro também comentou sobre pacote de mobilidade urbana proposto pela prefeitura, que prevê revisão das isenções e a extinção gradativa da função dos cobradores. As medidas são bem avaliadas, mas, segundo Lovatto, não resolvem o problema "a curto prazo".
— Essas medidas são muito bem-vindas, mas é importante colocar que a curto prazo, elas não têm efeito nenhum.