Não foi por falta de aviso: sem um projeto estrutural, que proponha novas formas de financiar o sistema, o transporte coletivo de Porto Alegre começa a dar os primeiros sinais de colapso.
Nesta segunda-feira (5), o presidente da Carris, Maurício Cunha, disse à coluna que a empresa será obrigada a parcelar os salários de seus 2 mil funcionários neste mês. Não há notícia de outra vez em que isso tenha ocorrido na história da estatal – a mais antiga do setor no Brasil, fundada em 1872.
Duas concessionárias privadas, a Trevo e a Restinga, também já haviam anunciado o parcelamento de salários. E, no final da semana passada, 36 ônibus da Trevo deixaram de circular porque faltou dinheiro para comprar combustível. Ou seja: a pindaíba que já era dramática vai se tornando insustentável.
Até pouco tempo atrás, a Carris ainda servia como uma espécie de reserva de emergência: se houvesse um problema sério em alguma empresa privada, a estatal poderia abraçar a bronca.
– Mas, desta vez, não conseguimos assumir as linhas da Trevo. Não havia como arcar com o diesel, nem com a própria tripulação – diz o presidente Maurício Cunha, da Carris.
Isso ocorre porque o governo deixou de aportar recursos na estatal – até a gestão Marchezan, isso ocorria praticamente todo mês. Mas, neste ano, o prefeito Sebastião Melo só liberou R$ 6 milhões para a Carris, em abril. Melo também resiste em transferir recursos para as empresas privadas – para piorar a situação delas, o prefeito manteve a passagem em R$ 4,80, embora o valor devesse chegar a R$ 5,20, conforme os cálculos que o contrato prevê.
Claro, o ideal é que nenhum recurso público seja repassado às empresas. E qualquer pessoa em sã consciência sabe que uma passagem de R$ 5,20 é uma maluquice. Mas, se esse é o valor que o contrato prevê, a prefeitura precisaria encontrar uma maneira de cobrir o excedente. É isso o que Melo, até agora, não conseguiu fazer.
Internamente, no governo, já foi sugerido taxar os aplicativos de transporte, além de substituir o VT por um tributo que as empresas pagariam. Seriam formas concretas de financiar o sistema, mas o prefeito foi contra os dois projetos.
Em reunião marcada para esta segunda-feira (5) com o governador Eduardo Leite, a ideia era pedir isenção de ICMS no combustível dos ônibus. Uma proposta difícil de emplacar – e, mesmo que emplacasse, seria só um atenuante. Um plano realmente estrutural nunca foi tão urgente, mas ainda parece bem distante.