As mãos na terra e um “aperitivo” colhido e degustado no meio da manhã demonstram a grandeza do envolvimento das crianças no projeto social UmBÚNTU, no bairro Umbu, em Alvorada.
– Sôr, esse rabanete é muito bom! – comenta um dos meninos atendidos pela iniciativa, durante visita da reportagem ao local.
Além da horta comunitária, espaço que os pequenos exploram com curiosidade, onde plantam, colhem e levam o alimento para casa, a iniciativa trabalha em outras frentes, como geração de renda e educação. O projeto UmBÚNTU, cujo nome é uma junção do bairro com a palavra africana Ubuntu, que significa “eu sou porque nós somos”, foi idealizado no ano passado.
O casal de professores Eduardo Fortes Santos, 51 anos, e Miriam Fortes Santos, 44 anos, que já possui uma bagagem em atividades sociais, escolheu o Umbu por entenderem o bairro como um dos mais vulneráveis da cidade. O Diário Gaúcho já mostrou uma ação deles, quando sua escola forneceu bolsas de estudo para alunos sem condições de pagar para aprender uma nova língua. No ano passado, preocupado com a pandemia, o casal mobilizou uma rede de voluntários para produzir e doar máscaras.
– Durante a distribuição de cestas básicas em diferentes bairros, a Umbu nos pareceu a mais carente. Falta acesso a serviços básicos – conta o professor.
Cultivo
Com recursos próprios e também doações, o casal comprou terrenos e deu início à construção de uma sede sustentável:
– Pensamos na maneira mais barata de construir sem agredir o ambiente, com técnicas de bioconstrução, e mostrando como os moradores também podem construir suas moradias desta forma.
As crianças, de acordo com Miriam, participaram desde o início da instalação do projeto no bairro.
– Vimos que existia uma rede de vizinhos e pessoas que se conheciam e se ajudavam. As crianças nos acompanhavam durante a entrega dos alimentos. Nos encantamos pela Rua Quarenta e Oito, onde hoje é a sede – relembra a professora.
Conforme Eduardo, quando chegaram ao terreno, havia muito lixo:
– O legal é que, desde o início, a gurizada está conosco. Eles ajudaram a limpar o terreno e, depois, a plantar, a fazer o canteiro, e já colhemos. E a regra básica: tudo que a gente planta junto, colhe junto. Ainda que dê só uma melancia, todos vão comê-la.
O professor afirma que cerca de 30 crianças circulam pela iniciativa diariamente. Entre os cultivos, eles já colheram cenoura, alface, beterraba, milho, repolho, brócolis e pimentão, entre outros.
– A primeira vez que receberam as cestas foi emocionante vê-los saindo com as doações e com o alimento que plantaram. Não acreditavam que podiam plantar aqui, mas, agora, com o decorrer do tempo, viram que é possível. E a palha do milho, depois da colheita foi para a parede da sede – explica Eduardo sobre a bioconstrução.
Para iniciar a horta no local, o casal obteve colaboração da Emater e do poder municipal, por meio da Secretaria de Meio Ambiente (Smam). Além de maquinário, os órgãos forneceram materiais para podas de árvores, composto e adubo, entre outros insumos orgânicos. Durante a visita da reportagem, uma parte do terreno recebia preparação pela Smam.
– Trouxemos orientação técnica de construção de solo para ter culturas bem desenvolvidas no local e aplicamos técnicas agroecológicas. A ideia principal foi garantir segurança e soberania alimentar, que é o escolher o que comer, cultivar para comer, ter uma diversidade nutricional para suprir as deficiências da comunidade – explica a extensionista rural Mônica Moreira Zang.
Dos tijolos, veio o trabalho
Conforme Eduardo, com o tempo as famílias que recebem as doações de cestas básicas já não queriam apenas o alimento, mas buscavam também por emprego:
– Eles precisam de uma fonte de renda, e, com a bioconstrução conseguimos empregar pessoas que moram aqui na volta. Elas recebem semanalmente pela produção.
A partir de técnicas de bioconstrução, a sede, o banheiro seco e a cozinha foram erguidos com tijolos de adobe, cuja composição é terra, água e palha. Sete moradores da comunidade recebem pela produção desses tijolos. Além disso, o projeto incentiva o recolhimento de garrafas de vidro, que também são usadas na obra, em paredes.
– Todas as garrafas aqui do galpão saíram de um lixão. Eles também têm um retorno por cada garrafa. Nenhum de nós é bioconstrutor, mas fizemos um curso com um especialista que nos passou rapidamente as técnicas que usamos. Em geral, leva uns 10 dias para secar, mas, com tempo úmido leva mais de três semanas. É trabalhoso, e a gente foi testando – explica Eduardo.
VAQUINHA PARA A COZINHA
Um dos objetivos dos professores é que o espaço da ONG contribua com a formação das crianças, a partir de reforço escolar, cursos de idiomas e sobre agroecologia e saúde, entre outros. Hoje, o projeto UmBÚNTU tem uma vaquinha online para a finalização da cozinha solidária. A obra precisa de acabamento e equipamentos para o início da produção.
– A ideia é cozinhar dentro da comunidade e para eles. Ofertar café da manhã e almoço. Já temos uma moradora que está disposta a trabalhar – afirma Eduardo.
Para o futuro, o projeto quer implantar mais hortas comunitárias no bairro e construir uma pousada solidária.
COMO AJUDAR
/// Para doar, acesse a vaquinha.
/// Mais informações, contate Miriam e Eduardo por meio do WhatsApp (51) 98926-2580.
Produção: Caroline Tidra