Atualização: a Secretaria Municipal da Educação informou, na manhã deste sábado (20), que o serviço de limpeza, previsto para final de semana, não será realizado, devido ao mapa preliminar do distanciamento controlado que colocou a região de Porto Alegre em bandeira preta, condição em que as aulas presenciais devem ficar suspensas.
A sexta-feira (19) é de correria e muito trabalho na preparação das escolas municipais para voltar a receber os alunos em Porto Alegre. A partir de segunda-feira (22), as famílias poderão optar por enviar presencialmente os cerca de 68 mil estudantes para as instituições, incluindo todos os níveis de ensino. Os protocolos preparados pela Secretaria Municipal de Educação (Smed) e aplicados por professores já estão prontos nos prédios, mas ainda falta algo básico: limpeza.
Desde dezembro do ano passado, quando o contrato da terceirizada Multiclean foi rompido pela administração de Nelson Marchezan, as escolas estão sem receber uma vassoura e um pano. A poeira se acumula nas salas e nos corredores.
Enquanto isso, professores tentam dar conta da organização das aulas em novos tempos. A Smed garante a chegada dos funcionários neste sábado (20) e, por isso, as escolas estarão abertas para um mutirão de limpeza, que deve seguir domingo (21).
Enquanto a limpeza não acontece, as escolas organizam o retorno. No Liberato Salzano Vieira da Cunha, no Sarandi, zona norte, a estrutura está pronta. Maior escola da rede pública municipal, com 1,4 mil estudantes, a instituição que ocupa uma quadra inteira teve suas entradas separadas. De um lado, o portão será para quem fica no primeiro andar ou no prédio anexo da educação infantil. Do outro, para os alunos dos anos finais do Ensino Fundamental, que subirão as escadas para ficar no segundo andar.
Nas entradas, funcionários com termômetro digital em punho aferem a temperatura de quem chega. Logo depois, o caminho segue por um tapete sanitizante, outro de secagem, um dispenser de álcool gel e só então é liberado o deslocamento — que deve seguir as setas indicadas no chão. Nas salas, as mesas já estão separadas com distância de 1,5 metro entre elas, demarcada com uma fita amarela no chão. Ainda não se sabe como será feito com o recreio.
De acordo com a diretora Isabel Brum Abiana, a instituição está em contato com os responsáveis pelos 1.480 alunos para saber sobre o desejo do retorno às aulas presenciais. Até o momento, 370 responderam. Desses, 53% expressaram o desejo de enviar seus filhos. Por isso, a escola fará um esquema de rodízio semanal de aulas presenciais, dividindo as turmas em dois grupos.
— Estamos, dentro do possível, nos organizando para receber os alunos. Temos o entendimento de que o retorno é necessário, porém o momento é delicado. Ainda estamos fazendo contato com as famílias, porque o prazo ficou um pouco apertado. Mas a opção vai ser da família se deseja o retorno — explicou Isabel.
Com um aporte financeiro da Smed, a escola adquiriu equipamentos de proteção individual, escudos faciais, máscaras e jalecos descartáveis para os professores que trabalham com crianças de até um ano. Para a direção, falta somente a limpeza das salas, enquanto aumenta a ansiedade pelo reencontro após 11 meses de distância dos alunos.
Já na escola Afonso Guerreiro Lima, na Lomba do Pinheiro, zona leste, o aporte financeiro chegou tarde. Só na quinta (18) a escola teve acesso aos R$ 51 mil da secretaria para melhorias na estrutura. Apesar disso, a diretora Daiane Santos Lisboa corria de um lado para o outro nesta sexta (19) para deixar tudo preparado. Algumas salas ainda precisam receber as últimas demarcações, mas a maioria está pronta.
Com salas menores, as aulas na escola da Lomba do Pinheiro serão diferentes: a maioria das turmas será dividida em quatro grupos, com uma semana de aula presencial por mês. Nesta sexta, ainda faltava faxina, capina do pátio e manutenção de lâmpadas de algumas salas.
— Estamos finalizando as marcações com capacidade máxima de seis a oito alunos por turma. Por enquanto, cem pais já afirmaram que os alunos não voltam. Vamos fazer uma escala semanal de estudos e explicando a orientação aos pais, que ainda não entenderam muito bem — detalhou.
Os professores ouvidos pela reportagem declararam que entendem a necessidade da volta às aulas, mas se sentem preocupados com a situação da pandemia. Nesta sexta (19), o Rio Grande do Sul chegou a mil pacientes internados em unidades de terapia intensiva.
— A gente está bem feliz de receber os alunos. A escola vazia fica triste com aparência de abandono. Mas, ao mesmo tempo, a volta nos dá preocupação. São crianças, jovens, vão estar com saudade, querer estar perto, dividir merenda. Vamos precisar que as famílias ajudem nas orientações para os filhos — finalizou Daiane.
O que diz a Smed
Sobre a falta de funcionários de limpeza, a Smed afirmou que ocorreu em razão de uma iniciativa da gestão passada e que, em parceria com a Secretaria Administração, fez um edital para mais de mil vagas dentro do prazo "mais rápido possível".
A pasta também comunicou que a volta segue um complexo protocolo. Um manual com o passo a passo a ser seguido foi encaminhado para cada escola, com detalhamento do espaço que deve ser respeitado por estrutura — sala de aula, refeitório, banheiro etc. Entre outros pontos, o extenso material determina que as escolas deverão encaminhar diariamente os casos suspeitos. Todos os alunos com mais de dois anos deverão usar máscaras.
Entre as fundamentações para o retorno, a secretaria aponta que o ensino remoto causa graves lacunas de aprendizagem, amplia as desigualdades educacionais, aumenta o abandono escolar e tem impactos até na alimentação dos estudantes.
A Smed também informou que repassou mais de R$ 2 milhões para a adaptação ao retorno das aulas presenciais em 2021 e que promoveu diversas reuniões com diretores, para orientação e esclarecimento de dúvidas.
Já o núcleo de educação do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) afirma que os servidores querem a volta, mas com "segurança sanitária". "O governo não ouviu as comunidades escolares. Não existe uma política intersetorial para enfrentar a pandemia. (...) As escolas estão no escuro, deveria haver formação pedagógica séria sobre ensino hibrido. O retorno precipitado gera insegurança para as comunidades", diz a entidade, em nota. O sindicato defende a testagem em massa e vacinação para todos.