O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, defende a manutenção da cogestão no modelo de distanciamento controlado, no qual os municípios podem adotar regras mais brandas do que as definidas pelo governo do Estado. O sistema está em discussão em meio ao agravamento da pandemia no Rio Grande do Sul.
— Quando me tornei prefeito, começamos a discutir a possibilidade de termos uma bandeira exclusiva (para a cidade). Nas conversas, chegamos à conclusão de que o melhor caminho era a cogestão. A cogestão significa a divisão de responsabilidade. Eu penso que um prefeito tem que enfrentar temas difíceis, e quero ser responsável pelas decisões na minha cidade — disse Melo em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta segunda-feira (22).
Diante do agravamento dos números da covid-19 no Estado, 11 regiões estão em bandeira preta no mapa preliminar do distanciamento controlado, incluindo a da Capital. A prefeitura de Porto Alegre decidiu não recorrer da decisão.
— Cogestão não significa que eu não possa ter bandeira preta. Não significa que, se eu aceitar a cogestão, eu já coloque a bandeira vermelha. Mas vamos conversar — afirmou.
Melo também voltou a defender que o comércio não essencial siga aberto na cidade, o que não é permitido em locais com bandeira preta. E comentou manifesto de hospitais em apoio às medidas mais restritivas:
— Eu respeito a manifestação dos hospitais (...) mas a discussão não pode caminhar na direção do confronto. Uns vão dizer que tem que fechar a cidade toda. Nesta matéria, somos todos alunos. Uns dizem que 80% (dos novos casos) é questão da nova cepa, uns dizem que foi o Carnaval. As praias ficaram abertas, todos aglutinados e nada foi feito. Nós combatemos aqui — declarou.
Entre as medidas citadas pelo prefeito diante do aumento do número de casos de covid-19 na Capital está o pedido ao procurador-geral do município para que faça a requisição do Hospital Beneficência Portuguesa e a discussão sobre a abertura de vagas no Hospital Parque Belém.
Mais cedo, também no Gaúcha Atualidade, o governador Eduardo Leite, defendeu a suspensão do sistema de cogestão. Segundo ele, é preciso "alinhamento" na aplicação de medidas mais restritivas diante do quadro grave da pandemia no Rio Grande do Sul — que, conforme Leite, é "gravíssimo" e "sem precedentes".
— A cogestão é uma boa ferramenta, é positiva, mas quando temos um momento crítico como esse o melhor é alinharmos ações, para que seja uma única comunicação com a população, sem gerar dúvidas — disse o governador.
Ouça a entrevista de Sebastião Melo:
Números inéditos na Capital
O total de pacientes internados nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em Porto Alegre por causa do coronavírus segue apresentando um número elevado. Até o final da tarde de domingo (21), foram contabilizados 338 pacientes internados com covid-19 — o maior número desde o dia 4 de setembro.
A taxa geral de ocupação, levando em conta outras causas além do coronavírus, está em 96,45%. São 760 pacientes para 815 leitos de UTI disponíveis — outros 27 estão, momentaneamente, bloqueados.
Além das emergências dos hospitais, o crescimento do contágio da covid-19 vem pressionando como nunca desde o início da pandemia os quatro locais de referência para pronto-atendimento (PA) da Capital, excluindo os hospitais.
No domingo, enquanto a emergência de hospital mais cheia da Capital apresentava lotação de 158%, três dos quatro PAs apresentavam lotação maior do que o dobro de sua capacidade: Pronto Atendimento da Bom Jesus (271,4%), da Cruzeiro do Sul (216,6%) e a UPA Moacyr Scliar (229,4%), na Zona Norte. A menos lotada era a da Lomba do Pinheiro, com 133,3% de lotação. Os dados são da Secretaria Municipal da Saúde (SMS).