Sem poder desenvolver atividades presenciais desde março, as equipes dos centros de referência em Assistência Social (Cras) Território de Paz e Conviver, em Esteio, abusam da criatividade para manter a convivência com os idosos atendidos nos locais. Os grupos de WhatsApp iniciaram logo que a prevenção da transmissão da covid-19 exigiu o distanciamento social – e continuam até hoje. Desde outubro, os participantes passaram a receber, também, visitas no portão de suas casas, em um projeto batizado de Na Porta de Casa.
A iniciativa surgiu pois, mesmo com todo o apoio recebido das equipes, muitas pessoas ainda ficavam de fora, por não terem acesso à internet ou pela dificuldade de conviver com a tecnologia. Agora, nas terças, quartas e quintas-feiras, duplas formadas por uma oficineira e uma educadora social realizam visitas de cerca de 15 minutos, mas sem entrar. A ideia é que o participante fique dentro do seu terreno. As professoras permanecem na calçada, mantendo o distanciamento social – e, é claro, todos usam máscaras. Nestas visitas, são oferecidas atividades de expressão corporal, psicomotricidade e música.
A aposentada Carmen de Fátima Preto Ramos, 66 anos, moradora do bairro Três Marias, começou a participar de atividades no Cras quando teve depressão, após a perda do seu marido, há nove anos. Desde então, passa pelo menos três tardes por semana envolvida com aulas de música, dança, palestras e diversos passeios. Ou melhor: passava. Com o início da pandemia, as atividades passaram a ocorrer pela tela do celular. Quando ela soube das primeiras visitas, não poderia ter ficado mais feliz.
– Está todo mundo com saudade. Esse projeto de vir em casa é muito bom, eu adoro! A gente faz ginástica, dança, conversa... Mesmo sendo rápido, dá para matar a saudade – conta ela.
Surpresas
A equipe é formada por três oficineiras (Milena Maculan – expressão corporal, Karine Cunha – música e Naiane Gerber – psicomotricidade) e duas educadoras sociais (Fatima Bauer e Denise Moscardin). As visitas são feitas em duplas, e os idosos que participam, no geral, não sabem qual atividade será desenvolvida em cada dia. Mas isso está longe de ser um problema.
– A cada semana, elas fazem algo diferente. É sempre uma surpresa, nunca sei o que elas vão aprontar (risos). Às vezes, fico meio triste, e a equipe já vem com aquela alegria. Eles são minha segunda família – revela Carmen.
A cozinheira aposentada Cledis Junqueira, 65 anos, vive sozinha no bairro Jardim Planalto. Assim como Carmen, ela participava de várias atividades no Cras antes da pandemia e, por isso, sentiu na pele a solidão nos primeiros meses de distanciamento social.
– Eu sofri, fiquei desanimada, foi duro. Depois, começaram as atividades pela internet e eu passei a fazer todas. Quando começaram essas visitas em casa, nossa, eu amei! – revela Cledis.
O contato ainda é bem diferente do que ela estava acostumada, mas já ajuda a sair da rotina:
– A gente não pode tocar, abraçar. Mas só de ver, conversar, dar risada juntas, já é muito bom. Às vezes elas vêm e trazem uma música pra gente dançar. Eu pego a música e sigo dançando depois que elas vão embora.
Em dois meses, retornos são positivos
Conforme a supervisora do projeto, Joelma Guimarães, o retorno tem sido positivo:
– Além de ajudar as pessoas que necessitam ficar em casa neste período da pandemia e que estão isoladas há tanto tempo por fazerem parte do grupo de risco, a gente divulga os serviços da rede também. Quando começa o atendimento, moradores de outras residências se aproximam e nos questionam sobre o que está acontecendo, como participar e indicam novas pessoas. Nós aproveitamos estes momentos para perguntar como os idosos estão se sentindo e ver se há outras demandas. Quando necessário, fazemos encaminhamentos para outros serviços – diz.
O Cras Território de Paz está localizado na Rua Orestes Pianta, 206, no Parque Primavera (telefone 3459-2171), enquanto o Cras Conviver fica na Rua Vereador Ernesto Menezes, 52, bairro Olímpica (telefone 3473-1922).
O atendimento em ambos os locais é realizado de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h. Além dos grupos de convivência, eles oferecem outras medidas, como o Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF), confecção e atualização do Cadastro Único e orientação sobre benefícios sociais.