Neste sábado (19), o Parque Farroupilha completa 85 anos. Para marcar a data, GZH conta nove curiosidades que a Redenção — como carinhosamente conhecida — abriga ou já abrigou, antes mesmo de virar parque.
Antes de tudo, um acampamento
A área da Redenção foi doada pelo governador Paulo José da Silva Gama em 1807 e usada inicialmente para venda de gado e também como uma espécie de acampamento. Os então chamados Campos da Várzea do Portão — por ficar perto da entrada da vila de Porto Alegre — serviam, naquela época, ao pouso das carretas vindas do Interior.
Quando o terreno alagadiço foi doado, ele tinha o dobro do tamanho que a Redenção tem hoje. A Várzea se estendia da Praça Argentina, junto à Santa Casa, ao Norte, até a atual Avenida Venâncio Aires, ao Sul. Acabariam sendo erguidos nele prédios como o Colégio Militar, o Colégio Júlio de Castilhos (onde hoje é a Faculdade de Economia), o campus da UFRGS e o Instituto de Educação Flores da Cunha.
Touradas já foram atrações de domingo
Em vez do Brique da Redenção, tinha uma época em que as touradas eram a atração de domingo em Porto Alegre. Nos Campos da Redenção, próximo à Rua da República, havia uma arena no final do século 19, construída em madeira, sem cobertura, conforme o livro Porto Alegre Ano a Ano, de Sérgio da Costa Franco.
A edição do jornal A Federação de 13 de outubro de 1891 grafava: "Esteve divertida a funcção tauromachica de ante-hontem. Quasi todos os touros prestaram-se às lides. Aranha e Matheus applicaram muitas farpas. O primeiro deu o salto da vara larga e o segundo passou varios touros á capa. Os armadores que se apresentaram a tourear, proporcionaram boas gargalhadas ao auditorio". Até onde se sabe, o espetáculo era uma encenação, sem sacrifício de animais ao final. A arena foi desativada no começo do século 20.
Um evento como Porto Alegre nunca mais viu
Boa parte da Redenção tomou forma para um evento gigantesco realizado ali no século passado. O lago, a Fonte Luminosa, alguns monumentos, um primeiro paisagismo e o próprio nome do parque acabaram ficando de legado da Exposição do Centenário Farroupilha, realizada entre setembro de 1935 e janeiro de 1936. Foi inaugurada com pompa pelo presidente Getúlio Vargas, governadores de nove Estados e de representantes dos governos da Argentina e do Uruguai.
Para o super espetáculo, foram montados pavilhões para exposição de produção de ponta da indústria, máquinas agrícolas, obras de arte e até achados paleontológicos. Na entrada, foi construído um pórtico monumental, de 84 metros de comprimento, com duas torres de 21,5 metros de altura. Só o pavilhão que representava o Rio Grande do Sul tinha dimensões quase duas vezes maiores do que o atual prédio do Colégio Militar. O consumo diário de energia elétrica, durante o período da exposição, superava ao do restante de Porto Alegre.
Um Cassino no meio da Redenção
Ainda para essa exposição, foi construído um cassino dentro do parque, em forma de escotilha de navio, com amplos salões para restaurante e salões de baile. Perto do lago da Redenção, até 800 pessoas se reuniam aos finais de semana no Casino Farroupilha — escrito com um “s”, na intenção de reproduzir o glamour americano. Frequentado pela elite da Capital, o clima era de luxo: homens de smoking, mulheres vestindo longo, vinhos e uísques importados servidos por garçons de gravata-borboleta.
As roletas do cassino da Redenção pararam de rolar quando ocorreram os desmontes dos pavilhões.
Uma relíquia no parquinho de diversões
Um brinquedo específico do Parquinho da Redenção é capaz de emocionar mais os pais do que os filhos. É um carrossel no qual, em vez de cavalos, são carrinhos Austin ingleses que carregam as crianças.
O brinquedo é preservado de forma original desde o primeiro parque de diversões da Redenção e é tombado pelo Patrimônio Histórico de Porto Alegre. A coluna Almanaque Gaúcho já lembrou que ganhar esses carrinhos de pedal era o sonho de qualquer guri na década de 1950. Os “luxuosos Austin Júnior” eram até o prêmio principal de sorteios que o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e as Balas Colegiais fizeram. A entrega dos prêmios era divulgada nos jornais.
O último chafariz de uma era
Este também está lá ainda. Perto da pista de atletismo, entre o Auditório Araújo Vianna e a Avenida José Bonifácio, há o último chafariz de uma era na Capital.
Há um século e meio, a distribuição pública de água potável na cidade ocorria por meio de oito chafarizes monumentais importados da Europa. O Chafariz Imperial ficava inicialmente na área da Praça XV, depois foi para o outro lado do Mercado Público e, após a enchente de 41, foi transferido para o Recanto Europeu da Redenção. Foi o único que resistiu.
O chafariz é feito de ferro fundido e originário da França, segundo José Francisco Alves, autor do livro A Escultura Pública de Porto Alegre. Tem como elemento central as figuras de três meninos em pé recostados contra o eixo central. A grande bandeja é cercada por 14 carrancas, por cujas bocas a água jorra ao tanque maior. Na base do modelo, há quatro carrancas de leões, cujas bocas também jorram água.
O Recanto Europeu e o chafariz passaram por obras de revitalização e restauro no ano passado e neste ano.
Uma piscina pública de quatro metros de profundidade
Alinhada à Fonte Luminosa, também já existiu uma piscina pública na Redenção, com até quatro metros de profundidade, conforme publicação de Zero HOra de 50 anos atrás. Ela foi construída no começo do século pelo Colégio Militar de Porto Alegre, recebendo importantes competições de natação.
Mais tarde, com a criação de piscinas em clubes e o desenvolvimento do parque, o tanque ficou "apenas como ornamentação" — embora fotos de antigamente mostrem muita gente brincando e nadando em dias de tempo bom. A piscina foi desativada e transformada em espelho d’água em 1967, depois que uma criança morreu afogada no local.
Um zoológico na Redenção
Esta, na verdade, só os mais jovens que não sabem. Por décadas, existiu um minizoológico na Redenção, com macacos, tartarugas, aves e outros animais.
Avaliando que o Minizôo não oferecia as condições adequadas para a permanência dos 73 habitantes, o Ibama desativou a estrutura em 2011.
O Minizôo já vinha sendo alvo de polêmica. Os animais acabaram levados para um criadouro em Santa Maria sob o protesto de alguns frequentadores do parque.
Uma referência abolicionista
O nome oficial do parque é o mesmo do bairro que o abriga: Farroupilha. Recebeu ele no dia 19 de setembro de 1935, por meio de um decreto municipal. Por isso que comemoramos o aniversário de 85 anos neste sábado (19), inclusive.
Mas o nome Campos da Redenção vem de bem antes disso. Antes da Lei Áurea, escravos já libertos frequentavam o parque. E, por conta da “redenção dos negros”, o espaço passou a ser chamado dessa forma. Há relatos de que, na década de 1880, o local serviu de palco para manifestações abolicionistas.