A mais recente atualização do sistema de distanciamento controlado só entra em vigor nesta terça-feira (23), e, até lá, pode haver alterações na classificação prévia. Antes disso, contudo, a prefeitura de Porto Alegre e o governo do Estado deverão entrar em acordo sobre as medidas adotadas na Capital, que divergem das previstas para cidades na bandeira vermelha.
Se isso não ocorrer, o Ministério Público poderá entrar no jogo, como fez na semana passada em outros municípios. Nesta segunda (22), o prefeito Nelson Marchezan voltou a defender as medidas previstas no decreto municipal.
Entre as divergências, o pequeno comércio, os salões de beleza e as academias de ginástica podem funcionar, com restrições. Já bares e restaurantes estão autorizados a operar até as 17h, mas, pelas regras estaduais, só poderiam funcionar em sistema de telentrega ou de pague e leve.
Marchezan argumenta que, diferente do que ocorre em outros locais, a prefeitura não nega a pandemia e seus efeitos — pelo contrário, diz, tem tomado medidas mais restritivas do que as recomendadas desde março. No entanto, o prefeito afirma que existem detalhes operacionais que são diferentes, o que justifica a mudança no decreto municipal.
— São detalhes operacionais que se resolvem porque a intenção é a mesma, a cautela é a mesma. Seja a sinalização de que a gente adote (bandeira) vermelha ou preta, enfim, o momento é de muita tensão e atenção para a gente evitar a ampliação da circulação (de pessoas) — disse, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha (ouça a íntegra abaixo).
Conforme Marchezan, alguns pontos ainda serão discutidos ao longo do dia, como o caso dos restaurantes. A prefeitura entende que, com mais de 300 mil pessoas que seguirão trabalhando – entre serviços públicos e essenciais –, é necessário um local para almoço. Por este motivo, os restaurantes não podem receber pessoas à noite, mas sim apenas durante parte do dia.
— Não há nenhum vencedor em criar polêmica acima do tamanho que isso tem. (...) Esse não é nem o caso de reconsideração. É caso de sentar e analisar o reflexo epidemiológico. Se o governador não for sensível, eu serei sensível. Não será motivo de atrito. Estamos na mesma linha. É um momento de cautela e todas ações têm que ser tomadas com menor prejuízo aos habitantes. (...) E tenho certeza que é isso que o governo do Estado também está tentando fazer.
O prefeito admitiu ainda que, nos próximos dias, poderá publicar mudanças nas regras municipais — mas somente alguns ajustes, e não uma alteração completa no entendimento.
— É absolutamente normal, tanto nos decretos de Porto Alegre quanto nos estaduais, ter correções ao longo dos dias. O nosso decreto não é nem mais nem menos restritivo, ele é diferente desde o início, em muitos itens. (...) O decreto estadual foca mais em número de trabalhadores, e nós focamos mais em ocupação no ambiente. São detalhes de uma mesma linha — disse.
Velocidade na demanda por leitos de UTI
No último sábado (20), Porto Alegre chegou a 91 pacientes internados em leitos de UTIs com confirmação de covid-19. Na manhã desta segunda-feira, o número subiu para 100, o maior desde o início da pandemia.
— A sociedade tem que se preparar para um abre e fecha. (...) Não falo com alegria, nem querendo ser futurologista. Mas nós chegamos a cem leitos ocupados, com uma dobra a cada 15, 20 dias. Nós deveremos ter, em uma semana, 130 leitos, 150, e já estaremos apertados. Cada pessoa que vai para uma UTI com coronavírus fica no mínimo 15 dias.
Conforme Marchezan, cerca de 350 leitos foram ampliados na Capital, o que está ajudando no combate à covid-19. No entanto, ele alerta que mesmo os países mais ricos não conseguiram, somente com investimento, conter a doença:
— Não há investimento em saúde que possa atender a demanda de uma pandemia descontrolada. Não há investimento em saúde que possa dizer que não deva ter medidas restritivas — disse.
O que diz o governo do RS:
"Em relação a eventuais regras dos municípios de regiões em bandeira vermelha diferentes dos protocolos atuais do Distanciamento Controlado, o Governo do Estado do RS informa que:
- A entrada em vigor das regras do mapa atualizado no sábado e a ser divulgado de forma definitiva na tarde desta segunda-feira será na terça-feira, a partir da 0h;
- Qualquer situação específica de algum município das regiões em bandeira vermelha, assim como os “recursos” das respectivas regiões, vão ser tratados e analisados no gabinete de crise, na manhã desta segunda-feira;
- O anúncio final do mapa ocorrerá na tarde desta segunda-feira, em Live do governador Eduardo Leite, a partir das 14h, em horário a ser confirmado.