A temperatura escaldante e a escassez de chuva das últimas semanas transformaram a paisagem em alguns dos pontos de lazer mais tradicionais de Porto Alegre. Além do lago do Parcão ter encolhido a ponto de necessitar da água lançada por um caminhão-pipa, áreas verdes como a orla do Guaíba ou o parque da Redenção ganharam tons pastéis em razão do ressecamento da vegetação.
Na Orla, um dos locais de preferência de moradores e turistas desde que foi revitalizada, o que antes parecia um tapete esverdeado deu lugar a uma cobertura de folhas secas e amareladas de grama. O mesmo fenômeno ocorre na Praça Júlio Mesquita, localizada nas proximidades, ou em pontos da Redenção como o Recanto Europeu.
O professor de biologia da Unisinos Juliano Morales de Oliveira afirma que a perda de cor nas praças e parques está ocorrendo de maneira mais intensa neste verão em razão da sucessão de dias sem chuva e com temperaturas máximas acima da média — por vezes beirando os 40°C —na região de Porto Alegre. No dia 31 de dezembro, por exemplo, a estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) chegou a registrar 40,3° na Capital. No mês inteiro, choveu apenas em quatro dias. Mas a descoloração é na verdade uma mostra de resiliência dos vegetais, conforme o especialista.
— Essa vegetação rasteira, de modo geral, se adapta a situações de estresse climático e falta de água. O ressecamento das folhas é uma forma de a planta se preservar, concentrando seus esforços em preservar a parte que permanece viva no subsolo. Depois, com o retorno da umidade, novas folhas surgem — afirma o especialista.
Se o clima árido der lugar a um pouco mais de umidade, a tendência é de que todas essas áreas recuperem sua vitalidade de forma natural. Mas, como o calor abrasivo das últimas semanas foge à regra do clima na região, o biólogo afirma que é difícil prever com certeza qual pode ser a resposta da vegetação urbana se as condições desfavoráveis se prolongarem por muito mais tempo:
— Nem todas as plantas deverão ter uma resposta muito positiva ou muito rápida. Sempre há um impacto negativo.
GaúchaZH contatou a assessoria de comunicação da prefeitura, mas não foi possível conversar sobre o assunto com técnicos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade em razão do feriado.
Na Redenção, vegetação seca chama a atenção
O aspecto seco da vegetação chamou a atenção de quem enfrentou o calorão para passear pela Redenção no primeiro dia do ano. O casal de turistas Ana Gabriela Arruda e Leandro Alonso, que vieram de Poços de Caldas para passar o final de ano na capital gaúcha, estranhou a aparência do parque.
— Por foto, parecia muito diferente, com mais árvores floridas e bem cuidado — disse Leandro.
— É, pensávamos que estaria mais verde — concordou Ana.
Para o técnico Ricardo Oliveira, 55 anos, que costuma correr na Redenção, o parque está muito seco, mas tem outros problemas maiores:
— Venho duas vezes por semana, mas só venho e saio, não fico circulando porque está mal cuidado e com falta de segurança.
Já a professora Andiara Duarte dos Santos, 31 anos, também reparou na mudança da paisagem, mas afirmou que isso não atrapalha o passeio. O divertimento do seu filho, Rafael Duarte, de 9 anos, é justamente subir nos troncos já caídos:
— A gente não para, ficamos caminhando, e ele explora, sobe nas árvores. Preferimos vir para cá, o shopping é muito chato e não tenho dinheiro para ficar gastando.
* Colaborou Luiza Piffero.