A primeira manhã de operação das faixas exclusivas para ônibus e lotações da Avenida Independência e da Rua Mostardeiro, em Porto Alegre, nesta segunda-feira (21), foi marcada por congestionamento em alguns trechos e opiniões distintas entre motoristas e usuários do transporte coletivo da Capital.
— Excelente. Não é nem 100%, é 1.000% melhor — comemorou o motorista da linha T9 Dorli da Silva ao recolher passageiros na parada entre a Praça Dom Sebastião e a Rua Dr. Barros Cassal.
Por outro lado, a servidora Claudia Veiga, 49 anos, afirmou ter aumentado o tempo do seu trajeto de carro, desde o Menino Deus até o Colégio do Rosário, ponto com maior movimento de veículos até as 8h:
— Deixei meu filho na escola, e o meu marido está tentando dar a volta na quadra para me pegar. O que ele fazia em cinco minutos já chegou a 15, e eu ainda estou esperando aqui.
Cruzando a Avenida Independência e a Rua Mostardeiro, a faixa tem 1,6 quilômetro e é demarcada por uma linha azul contínua pintada no asfalto, desde a Praça Dom Sebastião até a Rua Florêncio Ygartua. Entre 6h e 7h, o trânsito não apresentou retenções significativas no fluxo, de acordo com os agentes da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) que acompanharam a implementação da novidade.
A partir das 7h30min, contudo, a situação piorou, com lentidão desde a Praça Dom Sebastião — onde se inicia a faixa exclusiva. O trecho após o Hospital da Criança Santo Antônio seguiu congestionado até as 9h, com arranca e para por cerca de 500 metros, voltando a fluir após o Hospital Presidente Vargas.
Trabalhando há cinco anos em um trailer de lanches ao lado do colégio, Márcio Roberto da Silva, 36 anos, se assustou com a quantidade de carros disputando espaço na via.
— Nunca vi tão trancado. Normalmente é bem menor. Eu uso ônibus, pra mim é melhor, mas pra quem vem de carro está ruim.
Faixas foram estendidas sobre toda a extensão com alertas sobre o novo espaço. Nos locais próximos a hospitais e cruzamentos, agentes de trânsito tiravam dúvidas referentes a estacionamento e circulação pela via.
Automóveis particulares podem trafegar por poucos metros antes de converter à direita nas ruas transversais. Também é permitida a parada para embarque e desembarque de passageiros de táxi e transporte por aplicativo.
O condutor de um táxi parou ao lado do carro da reportagem de GaúchaZH e opinou:
— Quero ver de tarde, vai ser um horror.
Outro colega reclamou que a Independência é congestionada o dia inteiro:
— É sempre trancado aqui, ainda mais na entrada e saída dia colégio — relatou Henrique Viegas Fernandes, 48 anos, há 21 conduzindo táxis pela Capital.
A reportagem flagrou veículos circulando por mais de uma quadra sobre a faixa exclusiva, sem dobrar em qualquer rua. A atitude foi atribuída a desconhecimento da nova rotina por um fiscal, questionado sobre a irregularidade.
A primeira semana é focada na orientação sobre as mudanças, sem foco em autuações. A cuidadora de idosos Danila Rosiak, 57 anos, achou que a novidade deixou mais seguro o embarque no coletivo.
— Nunca vi tão trancado. Normalmente é bem menor. Eu uso ônibus, pra mim é melhor, mas pra quem vem de carro está ruim.
MÁRCIO ROBERTO DA SILVA
funcionário de trailer que funciona ao lado do Colégio Rosário
— Antes tinha muito carro à direita. Eu tinha que ir até o meio da rua, ônibus nem conseguia parar aqui — contava, sob a cobertura, enquanto uma fina garoa se iniciava.
Nas esquinas, placas instaladas pela EPTC orientam sobre os horários de funcionamento da via: de segunda a sexta-feira, das 6h às 9h e das 16h às 20h. Nos demais períodos, todos os veículos podem circular pela faixa.
De acordo com estudos técnicos da EPTC, a faixa exclusiva resultará em uma redução de 75% do tempo nos deslocamentos do transporte coletivo no trecho, ao diminuir em média sete minutos o tempo para percorrer o trajeto até a Rua Ramiro Barcelos. Já o trecho da Rua Mostardeiro, com 500 metros, terá uma diminuição de três minutos.
Com a implantação das duas faixas, serão beneficiados 38 mil passageiros de ônibus por dia, que utilizam nove linhas em circulação naquela área.
EPTC faz balanço positivo
O diretor-presidente da EPTC, Fábio Berwanger avaliou como "muito positiva" as primeiras horas de funcionamento da via:
— Ainda não avaliamos o ganho de tempo dos ônibus, mas é notório, visualmente, que funcionou muito bem.
É uma mudança de cultura. A multa ficará em um segundo momento. As faixas não serão implantadas à custa de autuações.
FÁBIO BERWANGER
Diretor-presidente da EPTC
Acompanhado do diretor de Operações da EPTC, Paulo Ramires, representantes da empresa pública vistoriaram o trecho que recebeu a novidade. Na primeira semana, o trabalho dos fiscais será focado em orientar os condutores.
— Ninguém foi multado por circular na faixa. O que o motorista tem que entender é que onde tem placa de proibido parar e estacionar segue sendo proibido. Isso gera autuação, assim como circular em faixas de ônibus de outras avenidas, como a Ipiranga ou Bento.
O trânsito ficou congestionado em alguns pontos, principalmente na Independência. Segundo alguns condutores, o arranca e para foi maior do que é visto rotineiramente na região. Para os gestores, o maior tempo gasto nos veículos particulares se justifica pelo coletivo.
— É uma mudança de cultura. A multa ficará em um segundo momento. As faixas não serão implantadas à custa de autuações. Se o motorista olhar pro lado e ver a faixa de ônibus vazia, ele tem que pensar que pode ir de ônibus.