Correção: a queda de 23,5% nos passageiros pagantes projetada pela ATP até o final de 2019 é em comparação ao estipulado no edital do transporte público, e não ao número de passageiros pagantes verificado em 2016, como informado entre 5h e 11h10min de 16 de outubro de 2019. O texto foi corrigido.
Os ônibus de Porto Alegre estão rodando menos. Durante setembro deste ano, circularam em média 317,9 mil quilômetros por dia — redução de 2,2 mil em comparação com o mesmo período de 2018. Os números da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) foram obtidos com exclusividade por GaúchaZH.
As distâncias se referem apenas a dias úteis, excluindo sábados, domingos e feriados. Nesses períodos, a queda foi ainda maior: 7,6 mil quilômetros a menos por final de semana. À redução nos trajetos, se somam notificações feitas pela prefeitura a empresas por descumprimento de horários e reclamações de usuários à EPTC pelo mesmo motivo.
O que justifica a redução nas quilometragens é o número de alterações de tabelas horárias solicitadas pelos operadores do sistema. Entre setembro de 2018 e o dia 13 do mês passado — data mais recente em que houve registro de um pedido de alteração —, foram 205 alterações nas tabelas vigentes.
Com isso, reduziu-se cerca de 1% das viagens em dias úteis, indo de 20.635 viagens diárias para 20.466. Aos sábados, a queda chegou aos 2% — de 13.445 viagens para 13.190. E o dia mais afetado foi o domingo, em que os horários apresentaram redução de 5% — eram 9.173 viagens, caíram para 8.757.
Diretor-executivo da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre (ATP), Gustavo Simionovschi diz que a redução de horários é consequência do insucesso das metas estabelecidas na licitação do sistema de transporte público de Porto Alegre. A ATP prevê fechar 2019 com 163,6 milhões de passageiros pagantes, cerca de 50,3 milhões a menos do que o projetado no edital do transporte público da Capital — em vigor desde 2016, mas com estimativas elaboradas em 2013.
— Pelo edital, mensalmente, deveríamos estar tendo 17,8 milhões giros de roleta pagantes (usuários que pagam a passagem). Porém, a nossa projeção é que 2019 termine com 13,6 milhões de usos mensais. Assim, (em relação ao edital) teremos uma queda de 23,5% nos passageiros pagantes. Ao mesmo tempo, a quilometragem rodada diminuiu cerca de 12%. Ou seja, a redução não alcança a queda de passageiros, o sistema está em desequilíbrio.
Conforme Flávio Tumelero, gerente de Planejamento de Transportes da EPTC, as mudanças são feitas com a intenção de otimizar viagens improdutivas, unificando linhas durante finais de semana. O diretor da ATP acrescenta que, se os ônibus seguissem rodando da mesma forma, aliado à redução de passageiros, a tarifa seria ainda mais cara.
Simionovschi e Tumelero apontam como fator decisivo para o desequilíbrio os quase 30% de isenções.
— Quem custeia isso é quem paga — diz o diretor da ATP.
Os aplicativos de transporte tiraram usuários, principalmente das linhas mais curtas, que custeavam o sistema para quem vem de longe, explicam ambos. Isso afeta a chamada compensação tarifária, sistema que faz a cidade toda ter o mesmo preço de passagem para não sobrecarregar os usuários das áreas periféricas.
— O transporte público precisa ter outra fonte de receita, para, pelo menos, cobrir as isenções. Sejam menores tributações ou auxílio do poder público, que concede as isenções — afirma Simionovschi.
Uma novidade para tornar o sistema mais atrativo é a implantação de mais faixas azuis em algumas das principais avenidas — essas pistas têm circulação exclusiva de ônibus em períodos do dia. Conforme a EPTC, isso deve diminuir o tempo das viagens.
— Essa priorização do ônibus é essencial. Cada ônibus tira mais de 50 carros do trânsito, então precisa andar mais rápido, principalmente, nos horários de pico. Teremos melhor cumprimento das tabelas, com mais ônibus passando na hora certa e transportando mais gente — projeta o representante da ATP.
Alterações são sentidas por usuários
Quem depende do ônibus para se deslocar pela malha viária da cidade sentiu as mudanças. Para o educador social Fábio Henrique de Freitas, 39 anos, o problema maior é depender de duas linhas de ônibus para se deslocar: ele acredita que, com menos horários, quem precisa fazer integração espera mais tempo.
— Sinto que não estão facilitando o deslocamento para quem mais precisa. Não tem como custear deslocamento em grandes distâncias com carros de aplicativo. Por vezes, esperei mais de 40 minutos entre descer de uma linha e pegar outra — critica Freitas, que usa os itinerários T11/3ª Perimetral e 360/IPE, linha que teve alteração de tabela horária durante o último ano.
O técnico de enfermagem Jonathan de Araújo Alves, 25 anos, é usuário da linha 349/São Caetano faz coro à queixa:
— Durante a semana, a gente acostuma esperar um pouco, mas, aos domingos fica inviável. Então, nos juntamos entre colegas de trabalho para ir ao serviço com carro de aplicativo ou de carona.