No terceiro dia de protestos de funcionários descontentes com a iminente extinção do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf), a maior parte dos postos de saúde que haviam sido fechados em Porto Alegre reabriu na manhã desta quinta-feira (19). Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, apenas três unidades não estão funcionando: Timbaúva, Santa Maria e Jenor Jarros.
Na terça, 68 unidades chegaram a ficar sem atendimento durante a tarde. A medida foi tomada por funcionários após o anúncio da prefeitura de que o Imesf será extinto, o que vai ocasionar a demissão de 1.840 funcionários. A extinção do órgão ocorre por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Durante a manhã de quarta, 17 postos ficaram fechados; à tarde, o número caiu para sete. A reportagem de GaúchaZH circulou por parte dos postos na manhã desta quinta-feira e comprovou que os pacientes estavam sendo recebidos nas unidades.
O posto Cruzeiro do Sul foi palco de protesto na manhã desta quinta, que reuniu equipes também das unidades Vila Cruzeiro, Cristal, Mato Grosso e Osmar Freitas. O atendimento nos postos é parcial, mas não houve fechamento total.
Para a enfermeira Franciele Batistella, da unidade de saúde Vila Cruzeiro, a comunidade está sensibilizada.
— A situação é terrível. A forma de demissão está sendo muito cruel. É uma total insegurança e incerteza — reclama.
Para o agente de endemias Israel Silva dos Santos, também do posto Vila Cruzeiro, a atenção aos pacientes não pode ser terceirizada.
— Temos todo um atendimento especial às famílias. Tratamos de casos graves, que vão muito além da medicação, mas passa também pelo atendimento social. A comunidade tem medo de perder esse cuidado — relata.
Na Unidade Vila Brasília, no bairro Jardim Carvalho, as portas foram reabertas nesta manhã. Pacientes que haviam procurado o posto de saúde no dia anterior puderam voltar ao local onde costumam ser atendidos:
— Ontem (quarta) a gente veio aqui e havia uma placa de fechado, e precisei levar minha esposa para outro lugar. Ela precisa fazer nebulização. Aqui ela vem seguidamente. É um bom posto — contou o aposentado Jorge Fernando Ferreira, 70 anos, que trouxe a esposa Luzia Maria Batista, 60.
Na Unidade de Saúde Milta Rodrigues, também no bairro Jardim Carvalho, o atendimento também foi retomado nesta quinta. Todos os lugares estavam ocupados com pacientes esperando dentro do prédio, e ainda havia uma pequena fila do lado de fora por volta das 10h.
— A gente agradece muito por ter esse posto aqui. Há um tempo, tive que ir até a zona norte porque não tinha nada aqui. Quando fica fechado é um transtorno — disse o aposentado Paulo Antônio Anacleto, 67 anos.
Na Unidade de Saúde Cristal, na zona sul de Porto Alegre, o atendimento foi suspenso apenas no primeiro dia de protestos. Na manhã desta quinta, no entanto, apesar das portas abertas, poucos pacientes haviam comparecido às primeiras consultas.
— Como muitos acham que o posto está fechado, acabam não vindo. Mas estamos recebendo os pacientes, porque temos um vínculo muito forte com eles. O prefeito não sabia deste vínculo. O clima está muito difícil por aqui, mas a comunidade está nos apoiando. Eles compraram a nossa dor — disse uma enfermeira, que não quis se identificar.
A aflição atinge até mesmo aqueles que não correm o risco de demissão.
— A gente sabe que o governo é privatista e não sabe como será a saúde pública. Isso é assustador para quem trabalha com isso — disse uma médica, que também preferiu não se identificar.
Orientação para atender
O Sindisaúde, que representa profissionais da área ligados ao Imesf, orienta que os funcionários trabalhem normalmente, já que não foi aprovada greve — por este motivo, a prefeitura pode descontar os salários. As categorias devem se reunir no fim da tarde.
— Hoje à tarde vamos nos reunir para orientações jurídicas e para definir as próximas mobilizações. Na semana seguinte, devemos ter uma assembleia para definir sobre greve.
Para o presidente do sindicato, Júlio Jensien, a medida anunciada pela prefeitura foi precoce:
— A decisão do Marchezan é política, precoce e imatura. Se ainda não há acórdão, não se sabe se a Justiça vai mandar demitir os trabalhadores. Eles poderiam ser reaproveitados. É uma decisão muito oportuna, considerando que o atual governo é privatista.