Duas festas de Natal animaram o sábado (22) de imigrantes e refugiados que hoje moram em Porto Alegre e Canoas. Ambas foram promovidas por voluntários e entidades responsáveis pelo atendimento às famílias. Enquanto as crianças divertiram-se com as distribuições de presentes e guloseimas, os adultos tinham um único pedido ao Bom Velhinho: chegarem ao novo ano com um emprego que garanta a permanência deles no Brasil.
Na Capital, representantes de seis países — Guiné-Bissau, Angola, Haiti, Nigéria, Venezuela e Peru — foram convidados para a primeira edição do Nação Kids, realizada na sede das Aldeias Infantis SOS, na Zona Norte de Porto Alegre. Idealizada pela ONG África do Coração e pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados da Associação Antônio Vieira (ASAV), a festa teve o objetivo de unir velhos e novos moradores da cidade e proporcionar horas de brincadeiras para as crianças.
De acordo com a coordenadora de projetos da ASAV, Karin Wapechowski, a festa previa a participação de 300 pessoas ao longo da tarde. Já o representante da ONG, o angolano Januário Gonçalves, que vive em Porto Alegre de 1992, destacou a importância de eventos como o Nação Kids para unir as famílias e manter as próprias tradições, mesmo distantes de seus países.
Com o apoio da prefeitura, os pequenos aproveitaram os brinquedos infláveis, o algodão-doce, o cachorro-quente e as pinturas no rosto proporcionadas pelos voluntários. O cantor Lumi, nigeriano que esteve no The Voice Brasil e hoje atua na ONG, fez questão de cantar duas músicas para animar o grupo, antes de viajar a trabalho.
Morando em Porto Alegre há seis meses, o casal da República da Guiné-Bissau, Loruama Martins, 30 anos, e Valdir Monteiro, 31 anos, aprovaram a iniciativa. Em meio aos sorrisos enquanto a filha Anaice, seis anos, aguardava para ter uma borboleta pintada no rosto, o casal lamentava a atual situação da família. Antes de se mudarem para o Sul, os dois viveram durante seis anos no Nordeste. Valdir, que é biólogo, e Loruama, trancista, deixaram Fortaleza (CE) com as filhas Anaice e Karine, três anos, por temerem a violência crescente. Na capital gaúcha, porém, ainda não conseguiram emprego. Valdir, que atuava como frentista no Ceará, perdeu a conta da quantidade de currículos distribuídos. É Loruama, com trabalhos esporádicos em salões de beleza, quem tem mantido a família neste período.
— A festa de hoje ajuda a conhecermos outros irmãos que já passaram pela mesma situação e nos dá ânimo. Só quero ver minhas filhas na escola (ainda estão sem vaga) e meu marido trabalhando. Que o próximo ano seja melhor para todos nós — comentou Loruama.
Ao contrário do casal, o bibliotecário Quirino Salvador Sanca, 30 anos, pensa em voltar à Guiné-Bissau, depois de oito anos vivendo em Porto Alegre. Ele concluiu o ensino superior na UFRGS e pensa em fazer o mestrado, antes de retornar ao continente africano. Pai da gauchinha Emilly Glória Sanca, de três anos, Quirino agradeceu à festa pela oportunidade de confraternização.
— É um momento muito importante de união — ressaltou.
Festa para venezuelanos
Em Canoas, as 26 crianças venezuelanas residentes do Centro Temporário de Acolhimento (CTA) Farroupilha, no bairro São José, também foram contempladas com uma celebração natalina. Voluntários decoraram o CTA com fitas e bolinhas coloridas, para lembrar o Natal. Segundo a gestora do Centro, Vera Garibaldi, a intenção foi proporcionar uma tarde de brincadeiras e convívio entre as atuais famílias que seguem no Centro — algumas já deixaram o local, depois de conseguirem emprego.
— É o primeiro Natal destas crianças juntas, fora da Venezuela, e deverá ser o último também, porque cada família deve buscar um novo lar. Então, queríamos que elas tivessem uma boa lembrança desta passagem pelo CTA — afirmou Vera.
O pequeno Gregori, que completou três anos na data, filho da doméstica Rosa Maria Lopes, 38 anos, e do auxiliar de carga e descarga Gregório José Sotillo, 24 anos, foi um dos mais animados na festa. Brincou na piscina de bolinhas, correu pelo pátio e se divertiu na cama-elástica. No Brasil desde setembro, Rosa e Gregório já estão trabalhando em Canoas e pensam em ter um lar próprio, em breve. Naturais de Carúpano, os dois só desejam garantir a estabilidade para trazer a outra parte da família que ficou em Roraima — os dois filhos mais velhos de Rosa, de seis e dez anos, seguem em Roraima com uma irmã dela.
— Ficamos felizes com esta festa porque não esperávamos nada. Não temos tradição de celebrar a data. Mesmo assim, falta uma parte nossa aqui. Só desejo que no próximo Natal estejamos empregados para ficarmos todos juntos — confidenciou, em lágrimas.