O que você estará fazendo neste sábado? Talvez ajustando os últimos detalhes para celebrar. Ou comprando os últimos presentes. Pode ser, ainda, que esteja trabalhando para garantir um bom Natal. E no dia 25? Almoçando com a família? Trocando presentes com amigos?
Muita gente, porém, abre mão de passar este tempo com quem ama para que outras pessoas tenham um Natal mais feliz.
É o caso de Maria Elaine da Silva, 59 anos, de Alvorada, Diaran Laone Camargo da Silva, 51 anos, da Lomba do Pinheiro, na Capital, e de um grupo que envolve pessoas de toda a Região Metropolitana. O Diário Gaúcho te convida a inspirar-se pelo espírito da solidariedade.
Tecnologia a serviço de quem precisa
É pelo WhatsApp que Carmen Duarte Canto, 42 anos, telefonista que mora no Rubem Berta, na Capital, coordena uma rede de solidariedade. Ela é a criadora e uma das oito administradoras do grupo Fazer o Bem Faz Bem, no aplicativo de mensagens, que reúne 252 membros, entre quem quer ajudar e quem precisa de ajuda.
Carmen criou o grupo em setembro de 2017. Também artesã, ela queria mostrar para algumas mulheres desempregadas uma forma de complementar a renda. O movimento cresceu e virou o que é hoje. Roupas, calçados, alimentos, material escolar, o que for: quem tem pra doar, anuncia no grupo. Quem precisa, fala por lá, e as administradoras bolam o plano para unir as duas pontas. Tudo é feito de transporte público, principalmente trensurb.
– A cada 10 dias, reunimos as doações e pedimos para quem precisa nos encontrar nas estações – explica Carmen.
Cartinhas
No dia do encontro com a reportagem, Carmen chegou
à Estação Mercado com uma mala cheia de doações que havia arrecadado pela Região Metropolitana. Dentro, sacolas identificadas com os nomes das administradoras que receberiam os itens para repassar aos destinatários.
Elas perderam as contas de quantas pessoas já ajudaram. Neste Natal, pediram que os membros do grupo enviassem cartinhas com os pedidos de seus filhos, e correram atrás de padrinhos. O resultado: 157 pedidos ao Papai Noel, todos com os presentes já garantidos. A entrega será na Estação Mercado, neste sábado.
– Como são muitos presentes, reunimos todo mundo em um lugar. Ver no rostinho deles a felicidade e o sorriso ao receber um presente não tem preço. Poderia estar em casa, como muitas outras pessoas, mas não custa dedicar um tempo para ajudar – conta Carmen.
Receber e retribuir
Luciane Silva da Cunha, 45 anos, de Viamão, é uma das administradoras. Ela se vira como pode para buscar doações.
– Nenhuma de nós tem carro, fazemos tudo de ônibus e de trem. Tentamos não deixar ninguém sem ajuda – conta.
A dona de casa Claudia Meyer, 23 anos, do bairro Espírito Santo, na Capital, entrou no Fazer o Bem Faz Bem em maio, quando passava por uma situação difícil.
– Soube do grupo e decidi entrar. Consegui roupas, alimentos, me ajudou muito. Nunca mais saí e, quando a minha situação melhorou, comecei a ajudar outras pessoas também – conta ela.
Alguns meses depois, ela foi convidada para ser administradora do grupo, com outras sete mulheres. A missão dá trabalho, mas, segundo ela, vale a pena:
– Eu ganhei muito mais do que alimentos. Fiz grandes amigos, conheci histórias, nunca mais fiquei sozinha. Enquanto eu tiver forças, vou continuar. Assim como eu, sei que outras pessoas que já pediram ajuda passam a ajudar quem precisa.
"Não tenho palavras para explicar"
Um dia para brincar, comer guloseimas e ganhar presentes. É isso que o reciclador Diaran Laone Camargo da Silva, 51 anos, presidente da Associação dos Moradores da Comunidade Nova Barreto, quer proporcionar para as crianças do seu bairro. Ele organiza festas por lá, por meio de doações, há cinco anos, no Dia das Crianças e no Natal. Em 2018, a comemoração de final de ano será neste sábado.
– A gente vai pedindo doações... um ajuda com o bolo, outro com as pipocas, balas, alguns brinquedos. Não é fácil. Neste ano, está ainda mais difícil. As doações foram poucas, o pessoal diz que está sem dinheiro. Mas não desistimos – conta ele.
A iniciativa surgiu quando Diaran começou a se envolver com a associação:
– Antes, eu só assistia outras ações, nunca tinha organizado nada do tipo. Decidi começar porque via a comunidade carente, cheia de problemas e sem nenhuma opção de lazer.
Crescimento
A primeira festa reuniu mais de 200 crianças. Para este ano, Diaran espera mais de 300, todas do bairro e das proximidades.
– Eu me sinto feliz quando vejo uma criança sorrir ao ganhar um presente. Não tenho palavras para explicar. É sensacional, só participando para ver. Muitas delas nunca comem um doce ou uma guloseima – afirma.
Para que tudo saia como o planejado, Diaran se vira para pedir donativos. A esposa dele, Gislaine, pega junto para fazer pacotes e o molho do cachorro-quente, no dia da festa. Eles não têm carro, então, Diaran busca doações onde for usando o transporte público:
– Quando é algo maior, preciso pagar alguém para buscar. Esse valor, às vezes, sai do meu bolso, mas faz parte. Se eu puder fazer isso até o fim da minha vida, vou fazer.
Tradição há duas décadas
Foi depois de curar um câncer no fígado que Maria Elaine da Silva, hoje com 59 anos e aposentada, decidiu dedicar um pouco do seu tempo a quem precisa. Desde então, além de manter a Associação Beneficente Casa da Sopa, no bairro Nova Americana, em Alvorada, onde vive, ela também realiza festas para as crianças em datas especiais. O Natal, é claro, não poderia ficar de fora: em 2018, ocorrerá a 23ª edição.
– Fiz um voto de que nunca mais deixaria de fazer essa festa. É sempre no dia 25 de dezembro. Neste ano, estou esperando reunir em torno de 300 crianças – diz ela.
Quem comparece ganha lanche, refrigerantes, guloseimas, pode usar brinquedos infláveis e, é claro, recebe presentes do Papai Noel – tudo fruto de doações. Para fazer tantos pequenos felizes em pleno dia de Natal, Elaine começa a preparação semanas antes.
– É uma correria. Peço doações, divulgo pelas redes sociais, vou buscar presentes quando precisa, faço pacotes. Além disso, recebemos muitos brinquedos usados. Tem que limpar, deixar pronto. Algumas mães aqui da vizinhança ajudam com roupinhas para as bonecas usadas – conta.
Trabalho sem fim
Nos dias anteriores à festa, o trabalho se intensifica: entre este domingo e segunda-feira, Elaine prepara o bolo. Na data, acorda por volta das 6h para preparar o molho de cachorro-quente e montar a comemoração:
– Fechamos a quadra em frente à minha casa, com autorização da prefeitura. A festa sempre começa às 15h, mas, por volta das 13h, quando os brinquedos são montados, as crianças começam a chegar. No final, as famílias que vêm sempre nos ajudam.
Com tanto trabalho, Elaine abre mão de passar o dia do Natal com o marido, o construtor Claudir, 64 anos, e a filha Kallita, 21:
– Ah, minha família já sabe que o dia 25 de dezembro é das crianças. Eles compreendem. Muitas destas crianças não têm nada para comer nesta data. Me coloco no lugar de quem está passando necessidade. Fico realizada de receber ajuda para poder ajudar as pessoas que precisam.Na foto, Jessica, Luciane, Claudia, Mara, Carmen e Andriele. Ainda ajudam a coordenar o grupo Rebeca e Josiana.https://gauchazh.clicrbs.com.br/porto-alegre/noticia/2018/12/ong-oferece-curso-de-jardinagem-para-que-moradores-de-rua-busquem-emprego-cjpbdt6te0j0v01pi6xeprsph.html