"Resistiremos, sim: o amor vencerá." Sob este lema, três casais homoafetivos subirão ao altar na tarde deste sábado (22). A cerimônia coletiva é o passo mais importante na caminhada de amor trilhada por estes homens e mulheres.
Moradores de Porto e Alegre e São Leopoldo, eles celebrarão suas uniões em uma cerimônia ecumênica no salão paroquial da Igreja Nossa Senhora da Boa Esperança, na Ilha da Pintada, na Capital. Antes disso, todos já se casaram em cartório, oficializando o convívio amoroso.
— Essa festa é para celebrar a união deles. E para mostrar que, independentemente do que vier, eles vão seguir lutando pelo direito de estarem juntos — explica a turismóloga Rosiely de Sousa Reis, 28 anos.
Foi dela a iniciativa de organizar a cerimônia coletiva entre os casas de mesmo sexo. Conforme Rosiely, a ideia surgiu depois de uma campanha que se popularizou na internet. O mote do movimento era incentivar casais homoafetivos a se unirem antes do fim deste ano. A razão é o medo de que o novo governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) possa trabalhar para revogar o direito à união estável e ao casamento civil conquistado por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais e queers — onde podem se incluir drag queens, por exemplo — (LGBTQ+).
O futuro Presidente da República já se disse contrário a uniões homoafetivas. E há um projeto de lei de autoria do senador Magno Malta (PR-ES), que pode invalidar uma decisão do Conselho Nacional de Justiça, de 2013. Na época, o CNJ avaliou que devia permitir-se a união entre pessoas do mesmo sexo.
Nesta sexta-feira (21), dois dos três casais que irão celebrar o matrimônio estiveram no local do evento para ensaiar algumas partes da festa. O momento mais esperado é a entrada dos casais, além da leitura dos votos matrimoniais.
— Acredito que vai ser uma festa linda, uma demonstração de como o amor é forte e plural — avalia Rosiely.
Inernet foi aliada desde o primeiro contato
Há quase dois anos, o artesão Sheldon Carvalho, 42 anos, e a operadora de caixa Marjorie Rosa, 25 anos, se conheceram em um grupo numa rede social. Foi nesta mesma plataforma que Sheldon publicou um aviso, em setembro deste ano, dizendo que pretendia firmar sua união com a namorada. Ambas moradoras do bairro Vila Nova, na zona sul da Capital, elas pediram ajuda para realizar a cerimônia. Foi aí que Rosiely apareceu, se disponibilizando para organizar a festa.
— O que ela fez por nós é lindo. Um casamento, que normalmente demora meses para ser organizado, ela conseguiu fazer em um mês — conta Sheldon.
Além de encontrar o lugar para cerimônia, Rosiely conseguiu voluntários para organização do evento, desde a parte de decoração, cozinha e até o cerimonial. No total, cerca de 20 pessoas estarão envolvidas no casamento, que deve reunir mais de cem convidados.
— Começou como uma proposta somente de celebrar a nossa união e acabou tomando toda essa proporção. Estamos muito felizes com isso — comemora Marjorie.
Além de Sheldon e Marjorie, outros dois casais celebrarão sua união. O auxiliar administrativo Thierry Da Silva Silveira, 20 anos, e o consultor de vendas Marden Daves Kinast, 27 anos, virão de São Leopoldo para o casamento.
E da Restinga, na Zona Sul, virão o organizador de eventos Jeferson de Castro, 20 anos, e o estudante Antony Oliveira, 18 anos. Ansiosos com a cerimônia, os dois oficializaram a união em cartório nesta sexta-feira (21). Juntos há pouco mais de um ano, eles decidiram casar logo que depararam com a proposta compartilhada por Marjorie nas redes sociais.
— Vimos que ela ia casar e estava buscando gente para fazer um casório coletivo, com ajuda da Rosiely. Em uma semana, decidimos que iríamos casar e participar da festa também — recorda Jeferson.
Entre a presença de amigos e familiares, a cerimônia também contará com uma apresentação dos casais, que deve abrir a pista de dança.
— Estamos bem ansiosos. Mas tenho certeza de que será muito lindo o casamento — espera Antony.