A quadra da Escola Municipal de Ensino Fundamental Grande Oriente, no bairro Rubem Berta, na Capital, ficou lotada, na tarde de sexta-feira (7), para assistir ao desfile do concurso Beleza Negra, que escolheu a Miss e o Mister Beleza Negra em três categorias. Eram mais de 60 candidatos, entre quatro e 17 anos.
Vários deles tinham torcidas organizadas, com familiares e vizinhos caprichando nas palmas. Outros conquistaram a plateia com muita simpatia. Mas o resultado final, decidido por três jurados convidados, foi o que menos importou. O maior objetivo da ação era enaltecer a beleza negra.
A escola, que recentemente viveu momentos tensos, quando uma professora foi agredida, em outubro, em frente ao local, trabalha a valorização da cultura negra e africana desde 2014, quando começou o projeto Africanidades. A iniciativa ficou um ano parada, e foi retomada em 2018.
– O desfile surgiu com a intenção de que os alunos reconhecessem suas feições, seus rostos. Muitos não se viam como bonitos diante do modelo de beleza que eles têm na TV, por exemplo – explica a professora Fabiana Mathias, uma das coordenadoras do projeto.
A ideia é que os vencedores sirvam como referência para os cerca de 1,2 mil alunos da escola no futuro.
– Acreditamos que mais da metade dos nossos alunos seja negra. Queremos seguir trabalhando estes assuntos com eles – afirma a vice-diretora, Ana Flávia da Silveira.
Bastidores
Antes de os alunos entrarem na passarela, o clima nos bastidores era de nervosismo. Juliano Junior Santos Lima, oito anos, aluno do 3º ano, não tirava os olhos da profe que organizava a fila para o desfile.
– Eu vim desfilar para tentar ganhar, mas também pra me divertir – disse ele.
Ao ser questionado sobre sua beleza, Juliano foi modesto:
– Eu sou um pouco (bonito)! Mas acho que tenho chance.
"Fiz o melhor que consegui"
A aluna do 1º ano Natalia Barbosa Matos, sete anos, exibiu com orgulho na passarela as tranças do cabelo. Também usava maquiagem caprichada e roupa em tons de rosa.
– Eu adoro me arrumar. E gosto de usar o cabelo assim! – contou, apontado para os fios.
Quando Khyara Luiza Adriano, 10 anos, aluna do 4º ano, cruzou a passarela, arrancou aplausos de quem assistia. Ela desfilou cheia de atitude, exibindo o cabelo com um turbante, que valorizava o volume dos fios, e o rosto pintado.
– Nunca pensei em alisar meu cabelo. Eu acho que os negros merecem a chance de mostrar coisas boas – disse ela.
Na saída da passarela, o coração da pequena batia forte:
– Fiquei um pouco nervosa. Mas o importante é que fiz o melhor que consegui.
E o esforço deu certo: ela foi eleita a Miss Beleza Negra na categoria Infantil, que incluía os alunos entre oito e 10 anos.