Julho terminou com um recorde no trânsito de Porto Alegre: registrou o menor número de acidentes que resultaram em mortes dos últimos 20 anos para o mês. Foram duas, mesma quantidade de fevereiro, conforme levantamento elaborado pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC). Em igual período de 2017, foram sete acidentes com mortes na cidade.
Esses não foram os únicos meses em que os dados apontaram para uma tendência de queda: em janeiro, o órgão registrou três acidentes com vítimas fatais. Caso a estatística se mantenha daqui para frente, a Capital pode fechar 2018 como o quarto ano consecutivo em que o dado apresenta diminuição: 2015 (93), 2016 (88) e 2017 (87) já mostraram redução. No período que vai de janeiro a julho, 2018 registrou o menor número de mortes dos últimos 20 anos (45) — o segundo menor número foi 51, em 2016.
Diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti destaca três iniciativas que contribuíram para a redução: o projeto Vida no Trânsito, que faz um estudo das causas de cada acidente (perfil da vítima, circunstâncias etc.); integração da Guarda Municipal e da Polícia Civil às ações de fiscalização; e educação para o trânsito, como o Maio Amarelo e iniciativas de conscientização em bares.
— É um trabalho continuado. 2017 vinha no menor dado histórico e temos confiança de que vamos reduzir bastante neste ano — frisa.
Até o fim de julho, foram registrados 44 acidentes com mortes em 2018, e um total de 45 vítimas fatais — que morreram no local ou até 30 dias após o acidente, em decorrência dele. No mês passado, uma das mortes foi de um motociclista, e outra em decorrência de um atropelamento.
Para o doutor em transportes João Fortini Albano, os dados acompanham uma tendência no Estado (onde depois de algumas reduções, o número apresentou elevação de 3% em 2017), e é resultado de uma série de fatores combinados para melhorar a segurança no trânsito. Ele destaca a integração entre a ampliação e o enrijecimento da fiscalização, as campanhas de conscientização, o aumento no valor das multas e a democratização do transporte por aplicativos de celular como razões que, conjugadas, contribuem para um trânsito menos violento.
— A diminuição de mortes é uma tendência, mas não existe um único fator que explique isso. Hoje a fiscalização está muito presente, através de agentes e de equipamentos eletrônicos, fixos e móveis. Mas também existe uma conscientização maior de condutores, motociclistas e pedestres em relação à preservação da sua integridade física, ainda que esteja longe do ideal. Além disso, houve uma valoração das multas, que é uma coisa que ninguém gosta — avalia.
Conforme Albano, fatores relacionados à infraestrutura viária são menos significativos nos acidentes com mortes dentro da cidade, onde a circulação se dá com velocidade mais baixa do que nas estradas e rodovias.
Um levantamento divulgado pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran-RS) em junho mostrou que a fiscalização mais rígida interferiu no comportamento dos condutores no Estado: o número de multas por embriaguez ao volante em 2017 chegou a 21,9 mil - o triplo do registrado em 2008, quando foram 6,8 mil casos. No mesmo período, o número de acidentes com morte teve redução. Em 2008, foram 1,9 mil vítimas e, no ano passado, 1,7 mil, uma queda de 8%.
No âmbito nacional, uma série de leis mais rígidas têm contribuído para a melhora nos números - ainda assim, o Brasil é o quinto país no mundo em mortes no trânsito, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 2011, o Brasil aderiu ao programa das Nações Unidas chamado Década de Ação pela Segurança no Trânsito, um pacto global que prevê a redução em 50% do número de vítimas no trânsito até 2020. De lá pra cá, o país diminuiu em 25% o número de mortes em acidentes automobilísticos.