Quem passa pela esquina com o maior número de acidentes de Porto Alegre, o encontro das avenidas Ipiranga e Salvador França, depara com um inusitado automóvel amassado e pintado de amarelo.
A iniciativa, que espalhou veículos em condição semelhante em outros quatro cruzamentos movimentados da cidade, tem o objetivo de alertar a sociedade sobre os riscos no trânsito e reduzir as taxas de acidentes, mortos e feridos nas ruas. A intenção da campanha "Maio Amarelo" lançada nesta quarta-feira (2) é reduzir ainda mais esses números — as mortes caíram 29% nos últimos quatro anos — e deixar a Capital com indicadores equivalentes aos da Europa.
Na Salvador França, a pouca distância de onde foi depositado o carro amarelado — cor que indica "atenção" no tráfego — há pouco mais de um ano a irresponsabilidade ao volante resultou na morte da idosa Lourdes Menegatti Dreyer, de 77 anos. O condutor Carlos Alberto Vieira de Oliveira, 50 anos, atropelou a vítima quando ela atravessava a avenida, estava com a CNH vencida, não prestou socorro e foi flagrado em estado de embriaguez pelo bafômetro.
Testemunhas que flagraram o acidente seguiram o atropelador e conseguiram pará-lo. Oliveira chegou a ser preso preventivamente.
— As principais causas de acidentes continuam sendo o excesso de velocidade, a mistura entre álcool e direção e o uso de celular, principalmente de aplicativos, como whatsapp, que, mesmo por breves segundos de uso, podem distrair e causar acidentes — destaca o diretor de Trânsito da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Fábio Berwanger.
O combate à irresponsabilidade busca deixar Porto Alegre com índices de violência no trânsito semelhantes ao de países desenvolvidos. No ano passado, foram registradas 90 mortes nas vias da cidade, o que representa quase 30% a menos do que o verificado em 2013. Esse número corresponde ainda a um índice de seis mortes por cem mil habitantes.
— Países europeus apresentam taxas de 4,5 mortes por cem mil, 5 por cem mil habitantes. O objetivo é chegar a esse patamar. Já estamos em uma condição bem melhor do que outras grandes capitais brasileiras, onde a média é de 18, 20 mortos por cem mil — sustenta o diretor-presidente da EPTC, Marcelo Soletti.
No começo deste ano, a tendência de queda se mantém. Houve registro de 18 mortos entre janeiro e o dia 20 de abril, contra 28 verificados no mesmo período de 2017 — recuo de 35%. Soletti credita esse desempenho recente à análise de todos os acidentes e à adoção de medidas pontuais destinadas a evitar riscos específicos. Quando os dados apontaram que havia um alto número de idosos atropelados, por exemplo, foi lançada uma campanha de conscientização voltada à terceira idade com atuação em pontos de alto risco como corredores de ônibus.
Recentemente, um dos focos são as mortes de motociclistas — que aumentaram 35% no ano passado e chegaram a 35 vítimas.
— Procuramos grupos de motociclistas, mostramos que eles são as principais vítimas do trânsito, reforçamos as blitze de moto já que quem mais morre são aqueles sem habilitação — afirma Soletti.
Por razões práticas, como espaço suficiente para expor os automóveis, os veículos amarelos foram dispostos em locais movimentados, mas que não correspondem necessariamente aos mais perigosos. Além da esquina da Ipiranga com Salvador França, estão na Ipiranga com Erico Verissimo, Protásio Alves com Manoel Elias, Assis Brasil com Sertório e na Rótula das Cuias. O Maio Amarelo é uma mobilização mundial e, em Porto Alegre, deverá incluir uma série de iniciativas como ações educativas e iluminação especial de pontos públicos.