Uma das mais radicais ações encabeçadas pelo Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa) desde o início do governo de Nelson Marchezan, a invasão do prédio da prefeitura teve um desfecho que foi além dos embates entre Executivo e sindicalistas: envolveu Judiciário e polícia. Após aproximadamente 10 horas de protesto, servidores deixaram o Paço Municipal diante de um oficial de Justiça — com uma liminar determinando a desocupação — e da tropa de choque da Brigada Militar.
— Foi tranquilo, em paz, sem problema. Prédio sem depredação — sintetizou o oficial de Justiça plantonista Luís Rodrigues, ao deixar a sede do Executivo.
A ocupação teve início por volta das 11h, quando os funcionários públicos ingressaram no prédio, ocupando corredores e o salão nobre. Eles reivindicavam abertura de uma mesa de diálogo e negociação salarial.
— Nesta ocupação, fizemos três reuniões, cujo principal interlocutor foi o coronel Jacques da Brigada Militar (chefe do Comando de Policiamento da Capital). O prefeito não teve coragem, dignidade, de negociar com a categoria — afirmou Alberto Terres, diretor-geral do Simpa.
Pela manhã, o prefeito já demonstrava que não estava disposto ao diálogo com os grevistas, que mantêm o movimento desde 31 de julho. Em ofício ao secretário estadual da Segurança Pública, Cezar Schirmer, requereu apoio da Brigada Militar para "detenção, identificação e desocupação". À tarde, Schirmer autorizou a ida da corporação ao local para negociar a saída dos servidores.
As tratativas, no entanto, não avançavam. Foram feitas duas reuniões, mas os municipários exigiam a presença de Marchezan ou de um representante da administração municipal disposto ao diálogo.
No horário do terceiro encontro com a BM, por volta das 19h, chegaram ao prédio o oficial de Justiça e a tropa de choque. Eles estavam respaldados por uma decisão do juiz Vanderlei Deolindo, da 3ª Vara da Fazenda Pública. A pedido do Executivo, foi determinada a reintegração de posse e, caso não ocorresse a desocupação, aplicação de multa de R$ 200 mil por hora de descumprimento.
"Está satisfatoriamente demonstrada a ocorrência de riscos de danos ao patrimônio municipal, situação que exige adoção de medida extrema, inclusive força policial", escreveu o magistrado.
A prefeitura, que em nota chamou a manifestação de "ato de truculência" e "desrespeito flagrante à população", sustentava que o Paço Municipal corria risco.
— É um prédio histórico, tombado, que tem galeria de arte, que tem algumas exposições, e está sendo agredido — afirmou o procurador-geral adjunto do município, Nelson Marisco.
Antes de deixarem o prédio, os servidores municipais fotografaram o local, justificando que teriam "provas" de que não houve nenhum dano. Ao final, o Simpa anunciou que segue em greve e tem novos atos programados para hoje.
Prefeitura classifica como "dia triste"
No fim da noite, a prefeitura divulgou uma nota em que afirma que "hoje foi um dia triste para Porto Alegre". Segundo a prefeitura, o Simpa "patrocinou uma invasão truculenta do Paço Municipal".
Na sequência, responde à reivindicação de diálogo cobrada pelos manifestantes: "O governo municipal já discutiu amplamente com a sociedade os projetos estruturantes. Agora, eles estão no local adequado para o debate — a Câmara de Vereadores. A prefeitura não negocia com invasores. Muito menos com uma minoria radical que não representa a totalidade dos servidores municipais".
Simpa chama de "importante capitulo"
Ao resumir o dia da ocupação em imagens, o sindicato escreveu, em seu perfil no Twitter, que a "categoria municipária escreveu mais um importante capítulo da história de Porto Alegre neste 7 de agosto de 2018".