Correção: aproximadamente 880 toneladas de lixo domiciliar são recolhidas pela coleta manual diariamente, e não 880 quilos como publicado entre 18h1min e 22h7min de 11 de abril. O texto já foi corrigido.
Mais de 12 horas após a retomada da coleta manual em Porto Alegre, paralisada na terça-feira (10), ainda havia rastro de lixo em diversos pontos da cidade. No fim da manhã desta quarta-feira, vias de diversos bairros exibiam acumulados generosos de sacos de resíduos sobre o passeio, à espera de recolhimento. A prefeitura buscará punição à empresa responsável pela coleta.
No Petrópolis, lixeiras transbordavam em frente a prédios residenciais perto do meio-dia. A aprazível Rua Corte Real era uma das mais prejudicadas pela falta do serviço, com a calçada repleta de lixo em diversos pontos da mesma quadra.
Moradora da via há mais de 50 anos, a aposentada Jandira Martins tinha quatro sacos em frente à sua garagem. Pouco, perto do acumulado dos prédios residenciais, mas o suficiente para suspender o descarte até a normalização do serviço, que foi retomado parcialmente por volta da meia-noite desta quarta-feira.
— Eles recolhem sempre à noite. Quando tem assim é porque não tiraram na noite anterior. Agora, estou guardando dentro da garagem. É mais embalagem, porque a gente compra comida pronta — conta.
Já a situação no condomínio Jardim Real, perto da Avenida Ipiranga, era mais crítica. A lixeira de resíduos orgânicos estava quase cheia, e em frente ao local sacos de lixo reciclável aguardam pela coleta seletiva, que, segundo os moradores, também não havia ocorrido.
— No fim do ano, tivemos problemas com a coleta de lixo seco, que não apareceu, e o condomínio foi multado em R$ 3 mil, porque disseram que tínhamos colocado no horário errado. A prefeitura que multa é a mesma que deixa de prestar o serviço — relata o jornalista Tiago Nequesaurt, que mora no prédio há cerca de cinco anos.
Os bairros Floresta e São Geraldo também exibiam quantidade considerável de lixo em diversas vias. A reportagem identificou acúmulo em pontos das ruas Doutor Timóteo, Três de Maio e Olinda, além de avenidas como Amazonas e Pernambuco. Na Avenida Cristóvão Colombo, onde há contêineres em apenas um dos lados, comércios e prédios residenciais também foram afetados pela falta de coleta. Por volta do meio-dia, quem quisesse almoçar na parte externa do restaurante de Girlei Grolli, quase à esquina com a Rua Doutor Timóteo, teria como vista meia dúzia de sacos de lixo amontoados junto a um poste de luz.
— Isso não é normal. Ontem (segunda-feira), não passaram e levei (o lixo) para o contêiner. Mas hoje não teve de novo, e nem os vizinhos: outros também colocaram aí. Sei lá o que houve — diz o comerciante.
A situação não era melhor em vias do bairro Santana. Com caráter mais residencial, ruas como Gomes Jardim, Monsenhor Veras e Veador Porto tinham lixeiras abarrotadas, além de sacos pelo chão. Parcialmente atendida por contêineres, a Rua Santana também exibia lixo em vários trechos.
Durante toda a terça-feira, funcionários da empresa terceirizada B.A. Meio Ambiente, que presta o serviço de coleta manual, cruzaram os braços em protesto contra problemas no pagamento de salários e de outros benefícios, além de impedirem a saída dos veículos da garagem. O local foi liberado à noite, após a Justiça do Trabalho determinar a desobstrução a pedido da empresa e a Brigada Militar utilizar bombas de efeito moral.
Na terça-feira, a empresa alegou estar tendo problemas para pagar os funcionários em função da mudança de datas dos repasses da prefeitura — que deixaram de ser feitos em duas parcelas, uma no começo e outra no fim do mês, para serem feitos em parcela única na metade do período. A Secretaria Municipal de Serviços Urbanos contesta a versão e diz que tomará as providências cabíveis para que a terceirizada seja punida.
— Nenhum prestador de serviço da prefeitura recebe assim (em duas parcelas). Quando houve a mudança, eles foram devidamente notificados. E não dependem disso. Tanto é que pagaram os seus funcionários ontem (terça-feira). Não há e não houve qualquer fatura em atraso por parte da prefeitura — disse o titular da pasta, Ramiro Rosário.
Conforme a Secretaria de Serviços Urbanos, o impacto da paralisação, que descumpre o contrato firmado com a prefeitura, está sendo calculado por técnicos da pasta. Após esse período, a empresa será notificada e terá cinco dias para recorrer da multa fixada pela prefeitura —em entrevista na terça-feira, o secretário Ramiro Rosário disse que o valor pode chegar a R$ 900 mil. Caso a secretaria não aceite as justificativas, a multa é aplicada sobre repasse enviado à terceirizada.
A B.A. Meio Ambiente sustenta que a paralisação foi contra sua vontade e que atendeu à reivindicação dos funcionários (quitação dos salários). A empresa ainda alega que, mesmo assim, os bloqueios seguiram. Conforme a terceirizada, se receber uma sanção, vai respeitá-la. A previsão de normalização do serviço é para esta quinta-feira (12).
Serviço deve ser normalizado até a manhã de quinta-feira
A coleta manual é responsável pelo recolhimento da maior parte dos resíduos orgânicos produzidos na Capital: mais de 80% do volume total — aproximadamente 880 toneladas de cerca 1,1 mil tonelada retirada das ruas diariamente. Desde as 8h desta quarta-feira, segundo a prefeitura, o serviço foi retomado com capacidade total — embora claramente insuficiente para dar conta do acumulado no período de paralisação. Além dos caminhões da terceirizada, 17 equipes do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) foram deslocadas para reforçar o serviço até que o passivo seja recolhido. A previsão é de que a situação seja normalizada até a manhã de quinta-feira.
Segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, em circunstâncias normais, a coleta ocorre de segunda-feira a sábado, a partir das 7h30min durante o dia, e às 19h no turno da noite, sendo realizada em dias alternados em cada setor, e diariamente nas principais vias. No total, 71 equipes formadas por um motorista e três garis coletores executam o trabalho. Cerca de 50 caminhões fazem o recolhimento durante o dia, enquanto 22 deles circulam à noite.
O pagamento não é fixo: ocorre mediante a quantidade de toneladas recolhidas. O serviço custa, em média, entre R$ 3,5 e R$ 4 milhões ao mês aos cofres públicos.