Se, para quem anda de carro, moto ou bicicleta, as vias de Porto Alegre parecem mais castigadas do que de costume nos últimos meses, é porque as chances de passar por um buraco estão mesmo maiores: sem conseguir comprar insumos para a produção de asfalto desde novembro, a prefeitura soma mais de 4 mil pedidos de reparos em diversas vias. O acumulado até o começo de abril representa quase 70% do que foi feito em todo o ano de 2017.
A prefeitura diz que o problema tem relação com a variação de índices da Petrobras: no ano passado, a estatal, única produtora de alguns dos insumos utilizadas para fazer o asfalto, anunciou reajustes mensais para esses componentes em 2018. Como o contrato proposto pela prefeitura tem duração de um ano, o material mais caro teria espantado as construtoras que fornecem o Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP) usado na mistura com britas e areia para produzir o asfalto na usina de produção do município. De fato, interessados não apareceram: um pregão aberto para a compra de 1,5 mil toneladas de insumos foi encerrado sem propostas depois de três prorrogações — a última delas no começo de abril.
Sem ter como adquirir o CAP, a fabricação de Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ) — produto da mistura do CAP com britas e areia utilizado na conservação de vias — foi interrompida no fim de fevereiro. Segundo a Secretaria de Infraestrutura e Mobilidade (Smim), apesar da escassez de insumos, o serviço não parou. Casos mais graves estariam sendo atendidos mesmo com a paralisação da produção.
Diretor do Sicepot, sindicato que representa as empresas de pavimentação no Estado, Caetano Pinheiro diz que a dificuldade decorre da incerteza de quanto o ligante asfáltico aumentará de preço ao longo da duração de contratos como os propostos pela prefeitura, de um ano:
— No próximo mês, o preço pode estar inviável. É um problema nacional. O Dnit está com problema, o Daer está com problema.
Pinheiro acredita que uma saída a curto prazo são os contratos emergenciais, celebrados com períodos mais curtos, quando é possível fazer uma previsão mais realista dos aumentos.
Conforme a Smim, está sendo realizada a compra emergencial de 200 toneladas de componentes asfálticos, mas o material só deve chegar oito semanas depois da assinatura do contrato. Até a publicação da reportagem, a prefeitura ainda não tinha recebido o documento assinado da empresa Stratura Asfaltos, que fornecerá o insumo.
Em situações normais, são realizados, em média, 143 mil metros quadrados de conservação por ano na Capital — cerca de 12 mil metros quadrados por mês. O serviço é executado por demandas recebidas pelo telefone 156. Ao todo, segundo a Smim, nove equipes trabalham nesse tipo de reparo em Porto Alegre — seis terceirizadas e três próprias.