No estágio atual, já é impossível que todas as obras da Copa de Porto Alegre fiquem prontas a tempo do Mundial... da Rússia.
Paradas ou em ritmo lento por falta de pagamento – a prefeitura deve R$ 45 milhões a fornecedores –, as obras se arrastam. E uma delas, mesmo que os problemas financeiros terminassem hoje em um passe de mágica, ficaria pronta só em 2019: a duplicação da Avenida Tronco, considerada fundamental para desafogar o trânsito para a Zona Sul.
Sem recursos para bancar a retomada dos trabalhos, a administração municipal sequer prevê prazos para a conclusão, nem quer elencar prioridades. O secretário de Infraestrutura e Mobilidade, Elizandro Sabino, se limitou a dizer que as trincheiras das avenidas Ceará e Tronco estão entre os "maiores desafios".
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– É claro que isso traz prejuízos para a população, e ninguém gosta de ver uma obra parada, uma obra 90% concluída que não avança. Mas precisamos que as pessoas sejam parceiras da prefeitura e entendam. Nossa dificuldade é financeira – avalia o secretário da Fazenda, Leonardo Busatto.
Muitas dessas obras inacabadas prejudicam o trânsito, provocando desvios e piorando congestionamentos em locais já movimentados de Porto Alegre. Mas uma extrapola os problemas causados à movimentação na cidade: a Tronco.
Mais do que conviver com desvios que atrapalham o trânsito, moradores da Cruzeiro estão tendo de lidar com crateras abertas em meio às ruas, meios-fios com canos a céu aberto e água suja fluindo na frente das residências. O trecho da Avenida Tronco que teve as obras interrompidas no final do ano passado por falta de pagamento da prefeitura agora parece um cenário de destruição.
Há risco de o chão ceder em um dos lados da avenida, por onde poucos carros têm se arriscado a trafegar e nenhum ônibus se aventura a entrar. A rua virou vala – com encanamentos de água, gás, esgoto se destacando onde haveria haver calçadas. Moradores se arriscam a cair ao simplesmente entrar ou sair de casa. Não era assim até poucos meses atrás, mas os buracos foram se ampliando com o passar do tempo e a ação da chuva.
– Tudo bem que não seja possível completar as obras agora (por falta de acordo para algumas desapropriações), mas a gente precisa que a prefeitura pelo menos melhore o acesso de quem mora aqui. Não tem como viver no meio desses buracos, a gente não aguenta mais – diz Angélica Cunha da Silva, presidente da associação de moradores do local.
Para trabalhar, ir à escola, fazer compras, foi preciso improvisar "pontes" sobre os buracos. Em frente à creche comunitária Gostinho de Infância, um pedaço de porta faz as vezes de passarela para as mães e pais dos pequenos. Mesmo com os alertas de quem passa ali por perto, não são raros os acidentes.
– Já teve uma mãe que estava de costas, conversando, não se deu conta do buraco e acabou caindo. E um pai teve que pegar uma criança pelo braço para ela não cair também – relata a fundadora da creche, Andrea Pires Fernandes.
Das melhorias prometidas, os moradores ainda não puderam se beneficiar de nenhuma. Não há ciclovia no trecho, e as estações de ônibus só são encontradas adiante, onde parte das obras foi concluída. Há ainda reclamações quanto à remoção de campinhos de futebol e uma praça, que serviam como áreas de lazer onde hoje só há buracos.
– Estamos vivendo no caos, em um cenário de guerra. É esgoto, é buraco, é cano... nunca vi um negócio assim. O abandono é total, geral, e o pior é que a prefeitura não conversa – lamenta Lídio Santos, que há 26 anos mora na região.
A estimativa mais otimista da prefeitura dá conta de que, mesmo se as obras fossem retomadas imediatamente, a duplicação da Avenida Tronco só seria finalizada em fevereiro de 2019.