Os transtornos causados pela onda de violência em Porto Alegre que começou om o incêndio de seis coletivos na noite de terça-feira perduraram até o final da manhã de quarta-feira. Com a suspensão temporária de diversas linhas de ônibus, pessoas tiveram dificuldade de retornar às suas casas durante a madrugada e de chegar ao trabalho na manhã seguinte.
Por volta das 7h - horário em que muitos ônibus voltaram a funcionar com rota alterada - as paradas da Zona Sul abrigavam centenas de pessoas, aglomeradas à espera dos poucos coletivos. Muitos, cansados da espera que superava duas horas, corriam atrás de carona ou de um lugar em lotações e táxis. Outros, saíam a pé.
Foi o caso do açougueiro Renato Alves, 32 anos, que caminhava da Vila Cruzeiro até o trabalho, no Mercado Público. Alves esperava desde as 6h pelo ônibus e estava confuso sobre os ataques que ocorreram na noite desta terça-feira.
- Faço esse trajeto todos os dias. Não sei bem o que aconteceu. Ninguém sabe. Vou ter que ir a pé até o trabalho - contou.
Já a auxiliar de serviços gerais Aline Gomes, 25 anos, queria se informar melhor sobre o que as empresas de ônibus fariam antes de sair a pé com a filha de seis anos.
- Fiquei sabendo que os veículos vão começar a recolher as pessoas só nas avenidas principais, então vamos ter que caminhar até lá para pegar o ônibus - disse Aline, que esperava em uma parada na Restinga desde o nascer do sol.
- Não condeno eles (os rodoviários). A gente também corre risco todos os dias. Não temos opção. De um jeito ou de outro, temos que cumprir o nosso serviço - completou.
Vendedor teve de passar a noite fora de casa
Enquanto Aline tentava se atrasar o mínimo possível no trabalho, o vendedor Anderson Rodrigues, 34 anos, só queria voltar para casa. Morador do Morro da Embratel - próximo ao local onde um dos ônibus foi incendiado - ele esperava desde a noite anterior.
- Saí da faculdade por volta das 21h de terça-feira, e não consegui mais chegar até minha casa. Os ônibus não estavam mais indo para lá, e eu acabei passando a noite fora, preocupado com a segurança da minha esposa e filhos, que estavam na nossa residência.
A saída foi dormir na casa da mãe, que mora próximo à Avenida Bento Gonçalves. Ele esperava chegar em casa a tempo de levar os filhos para a escola, mas a permanência da paralisação o impediu de cumprir com o itinerário planejado.
- Minha mulher teve que levar nossos filhos à escola e ela não conseguiu ir trabalhar porque não tinha como chegar no serviço. Enquanto isso, eu já peguei três ônibus desde o início da manhã e ainda não consegui chegar em casa - desabafou.
A serie de incêndios aos coletivos foi em represália a uma abordagem da Brigada Militar realizada na tarde desta terça-feira, quando Luciano Gustavo da Rosa foi baleado e morreu no hospital.
Na Rua Ventos do Sul, seis pessoas armadas teriam descido de dois carros e ateado fogo a dois coletivos que estavam no final da linha. Na Eduardo Prado, o ataque teria sido cometido por pelo menos dois motociclistas armados.