O depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, à Polícia Federal (PF) terminou no início da madrugada desta terça-feira (12), após mais de nove horas. Segundo o g1, Cid começou a ser ouvido, na sede da PF, em Brasília, por volta das 15h de segunda-feira e foi liberado pouco depois de 0h15min desta terça.
Mauro Cid foi ouvido no escopo da operação Tempus Veritatis, que apura uma suposta tentativa de golpe de Estado por parte Bolsonaro e aliados. Ele não é investigado neste caso, mas é ouvido como colaborador, após fechar acordo de delação premiada com a PF em setembro. Neste acordo, o ex-ajudante de ordens do ex-presidente deve repassar informações desejadas pelos investigadores para, em troca, ficar em liberdade.
O novo depoimento ocorre após a Polícia Federal ouvir os ex-comandantes do Exército, o general Freire Gomes, e da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Baptista Júnior.
A expectativa da PF era de que o depoimento recente de Cid permitisse esclarecer ou reforçar afirmações feitas por Freire Gomes, que foi ouvido pela operação em 1º de março. De acordo com o Estadão, a Polícia Federal estava interessada, por exemplo, em buscar detalhes da reunião ministerial de julho de 2022, na qual Bolsonaro pediu a ministros que acionassem um "plano B" diante da possibilidade de derrota nas eleições.
Este foi o sétimo depoimento do tenente-coronel à PF. Veja quando as outras oitivas aconteceram:
- 3 de maio de 2023: não falou
- 18 de maio de 2023: não falou
- 6 de junho de 2023: não falou
- 25 de agosto de 2023: 2 horas
- 28 de agosto de 2023: 10 horas
- 31 de agosto de 2023: 12 horas
- 11 de março de 2024: 9 horas
A operação
Nesta etapa da operação, a PF aponta que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar desinformação sobre supostas fraudes nas eleições de 2022. Essa atuação teria começado ainda antes do pleito, com o suposto objetivo de "viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital".
Segundo a PF, o primeiro eixo de atuação do grupo consistiu na construção e propagação de informação falaciosa sobre vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação. O discurso foi reiterado pelos investigados desde 2019 e persistiu mesmo após os resultados do segundo turno de 2022. Essas afirmações também faziam parte dos discursos do próprio ex-presidente Bolsonaro, e pesaram na decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que levou à sua inelegibilidade em 2023.
A partir da disseminação da desinformação, o grupo também teria praticado "atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível", conforme relatado pela Polícia Federal.
A investigação apura os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado.