O partido Novo anunciou, no final da manhã deste sábado (30), a filiação do ex-deputado federal e ex-procurador da República Deltan Dallagnol. Em uma rede social, a sigla disse que o seu novo quadro "conseguiu um feito inédito no Brasil: colocar políticos e poderosos atrás das grades".
"Para que o país dos nossos sonhos se torne realidade, é preciso coragem para enfrentar o sistema. É preciso de gente correta, competente e unida, caminhando na mesma direção", diz o comunicado do Novo.
Deltan emergiu para a política brasileira como coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF), em Curitiba. A partir de 2014, ganhou notoriedade ao avançar em investigações sobre casos de corrupção na Petrobras, levando à prisão dirigentes da estatal, políticos de proa e alguns dos maiores empresários brasileiros da construção civil.
Os desdobramentos da Operação Lava-Jato promoveram iniciativas de recuperação de recursos públicos, influenciaram no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e tiveram como um dos seus pontos mais tensos a prisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em abril de 2018, quando ele estava sem cargo público. A acusação original que levou à prisão de Lula foi assinada pela força-tarefa do MPF, sob coordenação de Deltan.
O petista passou 580 dias encarcerado na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, e foi solto em 8 de novembro de 2019, após o Supremo Tribunal Federal (STF) alterar jurisprudência e definir que um condenado só pode ser preso quando ocorrer o trânsito em julgado do processo. Ou seja, quando não existir mais possibilidade de recurso. As ações penais contra Lula foram anuladas em abril de 2021, pelo STF, com a declaração de incompetência da 13ª Vara Federal de Curitiba. O entendimento foi de que as denúncias contra o petista, envolvendo o tríplex do Guarujá, o sítio de Atibaia e o Instituto Lula, não se enquadravam no contexto da Lava-Jato nem tinham correlação com os desvios na Petrobras.
A Lava-Jato e seus membros já sofriam acusações de parcialidade e supostos abusos quando, em junho de 2019, vieram a público as conversas em aplicativo de mensagem de procuradores do MPF, incluindo Deltan, com o ex-juiz e atual senador Sergio Moro (UB-PR). O episódio que ficou conhecido como Vaza-Jato expôs o que seriam combinações indevidas entre a acusação e o juiz federal da Lava-Jato sobre a condução da operação e o julgamento de casos.
Deltan renunciou ao cargo de procurador da República em 4 de novembro de 2021 para ingressar na política partidária. Pelo Podemos, em 2022, foi eleito deputado federal pelo Estado do Paraná, com 344.917 votos. Ele exerceu o mandato entre fevereiro e junho de 2023, quando a Mesa Diretora da Câmara dos Deputados confirmou a cassação do parlamentar.
Deltan havia perdido o assento de deputado originalmente no dia 16 de maio de 2023, por decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O entendimento foi de que ele estava inelegível por ter se exonerado do MPF enquanto estavam pendentes análises de reclamações disciplinares, sindicâncias, pedidos de providências e Processo Administrativo Disciplinar (PAD). O relator do caso no TSE, ministro Benedito Gonçalves, registrou que Deltan "já havia sido condenado às penas de advertência e censura em dois PADs e ainda tinha contra si 15 procedimentos diversos em trâmite no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para apurar outras infrações funcionais".
Para o relator, acompanhado pelos demais magistrados, "Deltan exonerou-se com o intuito de frustrar a incidência de inelegibilidade e, assim, disputar as eleições 2022". O TSE fixou entendimento de que a conduta infringiu a Lei da Ficha Limpa.
À época, Deltan declarou: "344.917 mil vozes paranaenses e de milhões de brasileiros foram caladas nesta noite com uma única canetada, ao arrepio da lei e da Justiça. Meu sentimento é de indignação com a vingança sem precedentes que está em curso no Brasil contra os agentes da lei que ousaram combater a corrupção. Mas nenhum obstáculo vai me impedir de continuar a lutar pelo meu propósito de vida de servir a Deus e ao povo brasileiro."
Partido escolhido por Deltan, o Novo não atingiu a cláusula de barreira na eleição de 2022, o que retira acesso ao horário eleitoral e ao fundo partidário. A sigla conta com três deputados federais e um senador. A principal liderança do Novo é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, cotado para concorrer à Presidência da República em 2026.