A Comissão Parlamentar Inquérito (CPI) mista do 8 de Janeiro desmarcou o depoimento do ex-ministro da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro (PL), general da reserva Walter Braga Netto. É a segunda vez que a oitiva do militar é cancelada. A decisão foi tomada pelo presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA).
Braga Netto era esperado para prestar depoimento no dia 5 de outubro, às 9h. Maia, no entanto, decidiu cancelar a convocação e marcar a oitiva do primeiro-sargento da Polícia Militar do Distrito Federal Beroaldo José de Freitas Júnior.
O PM estava na cúpula do Congresso Nacional no dia dos ataques golpistas aos prédios dos três poderes. Ele e a soldado Marcela da Silva Morais Pinno foram arremessados de uma altura de três metros pelos extremistas. Os dois foram promovidos pelo governo do Distrito Federal por ato de bravura.
É a segunda vez que o depoimento de Braga Netto é desmarcado. O militar seria ouvido no dia 19 deste mês, mas, segundo a assessoria do presidente da comissão, a decisão de adiar o depoimento foi tomada a pedido da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
A decisão de Maia desagradou parte da bancada governista. Para os parlamentares, o depoimento de Braga Netto pode trazer novos fatos sobre o suposto envolvimento de militares em ações e planos golpistas contra o sistema eleitoral.
O tenente-coronel Mauro Cid disse, em delação à Polícia Federal (PF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro se reuniu com a cúpula do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para discutir detalhes de um plano de golpe para não deixar a Presidência.
O encontro teria ocorrido quando Bolsonaro ainda estava na Presidência. De acordo com o relato de Cid à PF, Bolsonaro teria recebido do assessor Filipe Martins uma minuta de decreto para prender adversários e convocar novas eleições.
Braga Netto também deve ser questionado sobre a operação da PF, que apura irregularidades em contratos do gabinete de intervenção federal no Rio de Janeiro, chefiado pelo general, em 2018.
Depoimentos da cúpula das Forças Armadas no governo Bolsonaro
Governistas que integram a comissão acreditam que a decisão de Maia pode fazer com que o general não seja ouvido pela CPI. A relatora da comissão, senadora Eliziane Gama, diz que a expectativa é de que o grupo consiga aprovar requerimentos para ouvir os ex-comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Eliziane deve entregar o relatório final no dia 17 de outubro.
Maia tenta blindar as Forças Armadas na CPI. As ações contam ainda com o apoio de aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tenta acalmar os ânimos entre o Executivo, Exército, Marinha e Aeronáutica.
Após afirmar que não há constrangimento com a convocação de integrantes das Forças Armadas para prestarem depoimento na CPI do 8 de Janeiro, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, defendeu que os "bandidos" sejam punidos e as investigações sejam concluídas para encerrar o "manto de suspeição" que recai sobre os militares.