Enfrentando uma crise interna, o diretório gaúcho do PSB não conseguiu espaço na agenda do ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e vice-presidente da República Geraldo Alckmin nesta sexta-feira (4). Focado em compromissos institucionais, ele esteve em Passo Fundo, no ato de lançamento de uma usina de etanol em larga escala, e palestrou na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. Ainda novato no PSB, onde ingressou para disputar a eleição de 2022, Alckmin é visto como uma liderança que poderia apaziguar os ânimos pelo seu perfil conciliador.
A sigla, agora, tenta organizar uma agenda com Alckmin no dia 31 de agosto. Nesta data, está previsto que ele voltará ao Rio Grande do Sul para palestrar na Expointer, em um evento do setor de máquinas agrícolas. Nos bastidores, a avaliação é de que Alckmin e o comando nacional do PSB têm mantido certa distância do diretório gaúcho por conta das constantes cizânias. De um lado, está a direção regional do partido, liderada pelo presidente Mário Bruck. De outro, a ala que conta com o ex-deputado Beto Albuquerque e nomes históricos da legenda. Além da disputa pelo comando, há divergência sobre os rumos políticos que a legenda tomou nos últimos anos.
— Em princípio, Alckmin vem no dia 31 e vamos tentar uma agenda partidária à noite. Isso está sendo tratado com a assessoria dele — diz o deputado federal Heitor Schuch (PSB).
O fato é que o partido encolheu na última eleição, tendo conquistado apenas uma cadeira de deputado estadual e outra de federal pelo Rio Grande do Sul. No acirrado pleito de 2022, o PSB gaúcho pouco participou da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva por conta de atritos com o bloco de centro-esquerda liderado pelo PT. Na disputa ao Palácio Piratini, após a desistência de Beto, lançou a candidatura de Vicente Bogo, que acabou sendo figurativa. O vereador Airto Ferronato (PSB) desistiu de concorrer ao Senado com a campanha já em andamento e reclamou da falta de recursos e da direção.
Após o fraco desempenho eleitoral, o partido decidiu ingressar na base aliada de Eduardo Leite em troca de cargos de segundo e terceiro escalões. Um pico de tensão ocorreu em fevereiro deste ano, na reunião da direção executiva que discutiu a ocupação dos cargos na bancada da sigla na Assembleia Legislativa. O grupo de Bruck teve estreita maioria, 16 votos contra 15, e assegurou as indicações para os postos. Houve bate-boca e ameaça de cadeirada. O encontro político não terminou em pancadaria por detalhe.
Nesta segunda-feira (7), a direção executiva terá reunião ordinária e, até mesmo entre aliados de Bruck, circula o comentário de que setores do partido podem propor algum encurtamento do mandato dele, que vai até o final de 2024.
— O presidente faz um belíssimo trabalho. Está coordenando o partido e organizando as nominatas de prefeito e vereador (para a eleição de 2024). Não há motivo para fazer no PSB o que tentaram fazer no 8 de janeiro (invasão aos Três Poderes). Não tem lógica. Um partido democrático respeita os tempos. Quando tiver eleição, cada setor pode ter os seus candidatos, mas não tentar interromper um mandato no meio do caminho, que foi legitimamente constituído — diz Schuch.
Apesar disso, o deputado federal avalia que "não há briga ou divisão".
Outro atrito recente envolveu Beto, vice-presidente nacional do PSB, e o deputado estadual Elton Weber (PSB). O parlamentar ajudou o governo Leite a aprovar a reforma do IPE Saúde na Assembleia, o que causou aumento na contribuição dos servidores públicos. Na ocasião, Beto escreveu em uma rede social que a "atual direção estadual do PSB é uma vergonha". Weber ficou contrariado e disse que o episódio "gerou constrangimento".
— Tem pessoas insatisfeitas, com certeza. Os que estão insatisfeitos com o Mário podem falar, mas algumas questões temos de tratar no lugar certo, a executiva e o diretório. Sou do diálogo. Se tiver de convocar o diretório para discutir mudanças, não tem problema — afirma Weber.