Composta por 31 deputados de 15 partidos, a bancada do Rio Grande do Sul na Câmara Federal impôs resistência nas votações de temas de interesse do governo Lula que passaram recentemente pelo plenário. A representação gaúcha rachou e deu maioria apertada ao projeto do novo arcabouço fiscal e à medida provisória de reestruturação dos ministérios, e registrou apoio substancial ao marco temporal da demarcação de terras indígenas, cuja aprovação foi considerada uma derrota do Palácio do Planalto.
Os resultados recentes mostram que a maioria dos deputados não está plenamente alinhada ao Planalto, incluindo integrantes de partidos que detêm ministérios, como MDB, PSD e União Brasil. Em contrapartida, alguns parlamentares de centro e direita demonstram disposição de acompanhar o governo, dependendo do assunto em pauta.
Foi o que aconteceu no caso do arcabouço fiscal, ao qual os gaúchos concederam 15 votos favoráveis e 14 contrários, com duas ausências, e na reestruturação dos ministérios (16 votos a 14, com uma ausência).
Por outro lado, o projeto do marco temporal, ao qual os deputados de centro votaram majoritariamente a favor, levou 19 votos favoráveis dos gaúchos, oito contrários e quatro ausências.
Entre diferentes deputados que compõe essa "coluna do meio", a leitura comum é de que o governo sempre encontrará dificuldade em projetos que motivam maiores disputas ideológicas, caso do marco temporal.
— O governo tem de vir para o centro, e não tentar puxar o centro para a esquerda. Se tentar fazer um governo só de esquerda, não vai dar certo — avalia Luciano Azevedo (PSD).
Para Luiz Carlos Busato (União Brasil), o Planalto está diante de um problema "insolúvel", visto que a maior parte dos deputados eleitos está alinhada à direita e não está disposta a comprar briga com seus eleitores em temas polêmicos.
— Nesses projetos, nem os líderes conseguem convencer os deputados. Também está faltando habilidade na conversa com a Câmara. Na MP dos ministérios, votei a favor em consideração ao líder (do União, Elmar Nascimento), e não ao governo - diz Busato.
O diagnóstico dos deputados é compartilhado pelo próprio presidente Lula que, na sexta-feira, disse que "a esquerda toda tem no máximo 136 votos" na Câmara, sendo que, para a aprovação de um projeto simples, são necessários 257.
—Tem que conversar com quem não gosta da gente — discursou Lula a apoiadores em São Paulo.
Sem maioria consolidada, Lula foi pressionado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a mudar a articulação política. Por ora, a Casa deve travar a votação de novos projetos de interesse do governo até que o Planalto melhore a relação com os parlamentares, o fluxo de liberação de verbas para redutos eleitorais e a oferta de mais espaço na máquina pública.
Mantida a atual configuração, o governo tende a ser derrotado novamente entre os gaúchos no projeto de lei que versa sobre a regulação das plataformas digitais, conhecido por PL das Fake News. Praticamente todos os deputados de centro e direita já manifestaram posição contrária ao texto.
Todavia, em temas estruturantes como a reforma tributária, há viabilidade de obtenção de um consenso que atraia parte dos deputados de fora da esquerda como ocorreu no caso do arcabouço fiscal, em que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, liderou as discussões com os congressistas.