O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem depoimento à Polícia Federal (PF) marcado para esta terça-feira (16) no âmbito da investigação sobre um possível esquema de fraudes em dados de vacinação contra a covid-19. Bolsonaro deverá ser questionado sobre os dados de imunização no seu cartão e no de sua filha, e indagado a dar mais detalhes sobre sua relação com seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid.
Na manhã do último dia 3, a Polícia Federal deflagou a Operação Venire, que investiga a possível inserção de dados falsos relativos à vacinação contra covid-19 no sistema do Ministério da Saúde. A PF cumpriu seis mandados de prisão preventiva naquela manhã, além de 16 mandados de busca e apreensão em Brasília e no Rio de Janeiro.
Na operação, Jair Bolsonaro teve o seu telefone celular apreendido. Seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, foi um dos presos.
Investigação
A Polícia Federal informou que a operação apura uma suposta "associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde". Ainda de acordo com a PF, os envolvidos teriam emitido certificados falsos de vacinação contra a covid-19 para burlar restrições sanitárias relativas à pandemia no Brasil e nos Estados Unidos.
As alterações teriam ocorrido entre novembro de 2021 e dezembro de 2022. A ofensiva investiga possíveis crimes de infração de medida sanitária preventiva, associação criminosa, inserção de dados falsos em sistemas de informação e corrupção de menores.
A inserção de dados falsos teria beneficiado Jair Bolsonaro, sua filha de 12 anos, o tenente-coronel Mauro Cid, e ainda a filha e a esposa do antigo ajudante de ordens do ex-presidente.
Autorização para a operação
A Operação Venire foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito do inquérito das milícias digitais. Moraes também retirou o sigilo da decisão que autorizou as buscas na residência de Bolsonaro.
Ao permitir a operação, o ministro considerou "plausível" a linha de investigação que sugere que Bolsonaro possa ter inserido informações falsas sobre vacinas para obter vantagens. Além disso, mencionou a possibilidade de haver uma "organização criminosa" que altera dados de vacinação.
Segundo o ministro, os sinais de delito são "significativos" e a suposta associação criminosa não somente buscou obter vantagens pessoais, mas também desacreditar o sistema de imunização do país.
Além de Mauro Cid, foram detidos o policial militar Max Guilherme e o militar do Exército Sérgio Cordeiro (seguranças de Bolsonaro), o secretário de Governo de Duque de Caxias (RJ), João Carlos de Sousa Brecha, o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis (ex-integrante da equipe de Mauro Cid) e Ailton Gonçalves Moraes Barros, candidato a deputado estadual pelo PL-RJ em 2022.
Posição de Jair Bolsonaro no dia da operação
A jornalistas, na saída de sua casa, em Brasília, Bolsonaro reiterou no último dia 3 que não foi vacinado, alegando ainda que também não realizou nenhuma alteração de dados.
— Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina, ponto final. Nunca neguei isso — enfatizou.
Questionado sobre a suspeita de que teria feito o documento falso para conseguir entrar nos Estados Unidos, onde ficou por três meses a partir do fim de dezembro de 2022, Bolsonaro afirmou:
— Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum. Sempre disse que não tomei — destacou.
Em relação à imunização de sua filha de 12 anos, Jair Bolsonaro afirmou que a filha também não teria recebido doses da vacina.
— Minha filha Laura não tomou vacina — reforçou o ex-presidente.
Supostas vacinações de Bolsonaro
Mesmo com Jair Bolsonaro negando que tenha se vacinado, o cartão emitido no Palácio do Planalto, segundo relatório da PF enviado a Moraes, indica que o ex-presidente deveria ter recebido três doses da vacina contra a covid-19: uma Janssen e duas Pfizer - na data da primeira dose, em 13 de agosto do ano passado, o então presidente sequer teria passado por Duque de Caxias, local da suposta aplicação.
O documento sustenta ainda que, pelas provas obtidas até o momento, Bolsonaro teria "plena ciência" da inserção dos dados falsos de vacinação em seu nome e de sua filha. Um dos argumentos é a emissão das certidões de imunização no interior do Planalto no mês de dezembro, quando ainda trabalhava no palácio como presidente.