O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que deve retornar ao Brasil no dia 30, às 7h, para "trabalhar com o Partido Liberal" e "fazer política". Em entrevista à Record TV veiculada nesta quinta-feira (23), Bolsonaro disse ainda que não pretendia "sumir" com o conjunto de joias que recebeu de presente do regime da Arábia Saudita.
— Está pré-marcado para dia 30 pousar em Brasília às 7 horas da manhã. Está quase certo. Voltar com atividade normal. Vou trabalhar com o Partido Liberal. Vamos andar pelo Brasil e fazer política. Afinal de contas, o PL é um grande partido. Nós temos como manter de pé essa bandeira do conservadorismo que levantamos ao longo de quatro anos — afirmou o ex-presidente.
Bolsonaro alegou que não cometeu irregularidades ao receber da Arábia Saudita um estojo que continha um relógio com pulseira de couro, um par de abotoaduras, uma caneta, um anel e um masbaha (rosário islâmico). O ex-presidente disse que não tinha intenção de "sumir" com os materiais e que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ficou "sabendo pela imprensa" da existência de um segundo conjunto de joias, que foi apreendido no Aeroporto de Guarulhos (SP), que seria destinado a ela.
— Nosso ministro recebeu duas caixas de presente. Uma ficou retida na alfândega, a outra foi para presente. Eu só tomei conhecimento disso um ano depois. A minha esposa tomou conhecimento pela imprensa. Ela não tem nada a ver com isso. A caixa que seria para ela, está na Receita. A minha, desde o primeiro momento falei que está à disposição — disse.
— Tanto é que tem uma liminar do ministro Augusto Nardes, do TCU, que caiu agora, de que o material não poderia vender. Desde o primeiro momento não existe a intenção de sumir.
No entanto, contrariando a versão dada por Bolsonaro na entrevista, vídeos e documentos mostram que o ex-presidente atuou pessoalmente para tentar liberar o conjunto de joias preso na alfândega. Ao todo, foram oito tentativas desde a entrada ilegal do material, sem declaração. Bolsonaro defende que poderia ficar com os presentes e, se quisesse se desfazer deles, bastaria "pagar os impostos devidos".
O ex-presidente também disse que vai entregar "com dor no coração" armas recebidas dos Emirados Árabes Unidos.
— Eu pagaria por aquelas duas armas, mas não vamos criar qualquer polêmica. A gente vai entregar as armas para a PF e as joias em uma agência da Caixa.
Questionado pela reportagem da Record TV sobre a prisão de suspeitos de participar de um ataque contra o senador Sergio Moro (União Brasil-PR), Bolsonaro disse achar "uma tremenda coincidência" a proximidade da operação com a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que, quando estava na cadeia, queria "f***r com o Moro".
— Eu acho uma tremenda coincidência ontem o cara falar que gostaria de ferrar o atual senador Sergio Moro. Então foram essas prisões. Pelo que tudo indica gente do PCC. Entra o PCC nessa história — afirmou.
Bolsonaro e apoiadores, recorrentemente, usam de informações falsas para tentar relacionar o PT à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Durante a campanha eleitoral de 2022, o TSE exigiu que aliados de Bolsonaro apagassem publicações em redes sociais com este teor.
O ex-presidente ainda acusou Lula de ter feito uma "armadilha" nos ataques que depredaram as sedes dos três poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro.
— Lamento o episódio, realmente inacreditável. Estamos esperançosos de que haja uma CPMI para botar em pratos limpos isso daí. Foi uma armadilha feita pela esquerda, tanto é que o presidente não quer a CPMI — disse Bolsonaro.
A suspeita levantada por Bolsonaro não encontra base no apurado até aqui sobre os ataques. A Polícia Federal (PF) mantém uma operação permanente para identificar envolvidos e já prendeu vários suspeitos com envolvimento prévio declarado com o bolsonarismo. Até aliados de Bolsonaro já rechaçaram publicamente esta hipótese.