O ex-presidente Jair Bolsonaro confirmou, em entrevista para o canal CNN, que parte dos presentes encaminhados pelo príncipe da Arábia Saudita em 2021 foi incorporada ao acervo privado dele.
Foram enviados um estojo com uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um terço. Não se sabe, oficialmente, o valor de cada item. O ex-presidente reafirmou que não houve ilegalidade no episódio.
— Não teve nenhuma ilegalidade. Segui a lei, como sempre fiz — disse.
Ao ser questionado sobre os outros presentes enviados também em 2021 pelo príncipe Mohammed bin Salman Al Saud e que foram retidos na Receita Federal, Bolsonaro voltou a negar que tivesse conhecimento. Entre os objetos, estavam um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em 3 milhões de euros.
— Eu não pedi, nem recebi esses outros presentes — reafirmou.
O que diz a lei
O Decreto 4.344/2002, que trata sobre preservação, organização e proteção dos acervos documentais privados dos presidentes da República, diz no Artigo 9 que todos os presentes dados em viagens devem ser encaminhados ao Departamento de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal do Presidente da República. Esse departamento é o responsável por analisar quanto à incorporação de presentes ao acervo privado do presidente da República ou ao acervo público da Presidência.
Um acórdão do Tribunal de Contas da União (TCU) de 2016, no entanto, determinou à Secretaria de Administração da Presidência da República e ao Gabinete Pessoal do Presidente da República que se incorporassem todos os objetos, mas que excluíssem os itens de natureza personalíssima ou de consumo próprio.
Entenda o caso
Em outubro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro foi convidado a participar de um evento do governo da Arábia Saudita. No entanto, ele não compareceu. O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque representou o Brasil na ocasião.
No final do evento, o príncipe Mohammed bin Salman Al Saud entregou ao ex-ministro dois estojos. No primeiro, havia um colar, um anel, um relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em 3 milhões de euros, o equivalente a R$ 16,5 milhões. No segundo estojo havia uma caneta, um anel, um relógio, um par de abotoaduras e um terço (valores oficialmente não foram divulgados).
Os objetos foram dados como presente para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e ao ex-presidente.
O ex-ministro de Minas e Energia e a equipe de assessores dele viajaram em voo comercial. Ao chegar ao aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, no dia 26 de outubro de 2021, um dos assessores (que estava com o primeiro estojo) foi impedido de levar esses presentes já que os valores ultrapassam US$ 1 mil. A Receita Federal no Brasil obriga que sejam declarados ao fisco qualquer bem que entre no país cujo valor seja superior a essa quantia.
A reportagem questionou integrantes da equipe do governo Bolsonaro por que as joias não foram registradas antes de chegar ao Brasil. Interlocutores alegaram que o assessor do Ministério de Minas e Energia deveria ter informado que se tratava de um presente do reino da Arábia Saudita para a ex-primeira-dama e o então presidente.