Praticamente três meses após declarar que colocaria sua cara no fogo pelo ex-ministro Milton Ribeiro, o discurso do presidente Jair Bolsonaro mudou da água para o vinho. Ribeiro foi preso nesta quarta-feira (22) em uma operação da Polícia Federal a respeito de um suposto gabinete paralelo dentro do Ministério da Educação envolvendo a liberação de verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para prefeituras. Em entrevista à rádio Itatiaia, de Minas Gerais, o presidente declarou hoje que Milton Ribeiro deve responder pelos seus atos, e que, se a PF prendeu tem um motivo.
Bolsonaro disse ainda que o ex-ministro pode ter sido prejudicado em razão de manter conversas informais com pessoas da confiança dele. O presidente ainda fez uma defesa do seu governo ao afirmar que a prisão demonstra que a PF trabalha sem interferência.
Em 24 de março, durante sua live semanal Bolsonaro, de forma contundente, defendeu o então ministro, que já sofria pressão para deixar o cargo após as denúncias de corrupção.
— Coisa rara eu falar aqui: eu boto minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia com ele. (...) Se ele estivesse armando, não teria botado na agenda oficial aberta ao público. É muito simples: quando o cara quer armar, ele vai pelado na piscina, num fim de mundo, na beira da praia. Ele não bota o nome do corruptor na agenda — acrescentou Bolsonaro durante a transmissão.
Verbas para municípios
No dia 22 de março, Milton Ribeiro defendeu Bolsonaro ao afirmar que o presidente não pediu atendimento preferencial a ninguém dentro da pasta. A afirmação foi dada após a Folha de S.Paulo publicar um áudio de Ribeiro que, durante uma reunião com prefeitos, afirmou repassar verbas para municípios indicados por dois pastores a pedido de Bolsonaro.
“Não há nenhuma possibilidade de o ministro determinar alocação de recursos para favorecer ou desfavorecer qualquer município ou estado”, disse o ministro em uma nota divulgada à imprensa. “O presidente da República não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que procurassem o MEC”, afirmou Ribeiro.
Alinhados no Enem
Próximo ao Enem do ano passado, Bolsonaro afirmou que o exame"começava a ter a cara do governo". Semanas antes da prova, ao menos 35 servidores ligados ao Enem pediram demissão acusando o governo de pressioná-los para mudar perguntas.
No entanto, ao comentar o primeiro dia de provas do Enem 2021, Milton Ribeiro reiterou que não houve interferência do governo federal na escolha das perguntas e chegou a afirmar que, "se tivesse, poderia ser que algumas questões não estivessem ali". Na ocasião, a discussão em torno do Exame Nacional do Ensino Médio incluiu acusação de censura e fala polêmica do presidente Jair Bolsonaro — ele afirmou que as questões do Enem começariam a ter "a cara do governo".