Principal data cívica do país, o Dia da Independência se tornou um catalisador da tensão política que vem sacudindo o Brasil nos últimos anos. Concebidas para servir de anteparo popular ao governo, as manifestações convocadas pelo presidente Jair Bolsonaro para este Sete de Setembro prometem ser grandiosas e podem acentuar ainda mais a crise institucional entre os poderes da República.
Investigado em cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro pretende discursar em Brasília e em São Paulo, diante de uma multidão de simpatizantes. Embora venha sendo aconselhado a evitar um tom beligerante, aliados admitem que ele deve mirar o Judiciário em ambos os pronunciamentos, sobretudo nos ministros que considera seus algozes, Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
No fim de semana, o presidente disse que a manifestação serviria como “ultimato” aos membros da Corte e chegou a cogitar uma “ruptura”. Em contrapartida, Moraes decretou as prisões de outros três aliados de Bolsonaro que vinham fazendo ameaças ao STF. A investida enfureceu ainda mais o presidente. Nesta segunda-feira (6), como resposta, ele assinou Medida Provisória que evita a remoção “arbitrária e imotivada” de conteúdo das redes sociais.
Nos bastidores, líderes políticos e integrantes dos tribunais superiores têm trabalhado para manter uma interlocução com o Planalto para que sobreviva à crise. Bolsonaro, porém, se considera perseguido. Além das investigações judiciais, o governo enfrenta a CPI da Covid no Senado e viu uma de suas principais bandeiras, o voto impresso, ser sepultada na Câmara.
A esse ambiente de constante tumulto político soma-se a piora dos indicadores econômicos, com aumento da inflação, queda do PIB e ameaça de racionamento de energia. A combustão derrubou a aprovação ao governo, fenômeno detectado em todas as medições recentes dos institutos de pesquisa, e levou o presidente a buscar nos apoiadores uma demonstração inequívoca de vigor político.
O epicentro desse suporte está programado para Brasília, onde desde domingo (5) o trânsito foi fechado na Esplanada dos Ministérios. A rede hoteleira registra lotação próxima de 100% e caravanas de todo o país não param de chegar. Nesta segunda-feira, Bolsonaro sobrevoou de helicóptero, durante uma hora, alguns pontos de concentração dos simpatizantes. De cima, o cenário era de dia de jogo da Seleção em Copa do Mundo, com as pessoas vestidas de verde e amarelo e portando bandeiras do Brasil. A previsão é de que o presidente discurse às 10h.
Para evitar confrontos ou invasões, os principais prédios públicos de Brasília foram cercados por grades e um megaesquema de segurança foi organizado. Em São Paulo, não é diferente. O governo do Estado prepara um policiamento inédito, com o emprego de 3,6 mil agentes de segurança. A expectativa é de que Bolsonaro discurse na Avenida Paulista por volta das 16h.