No sete de setembro, dia em que se celebra a Independência do Brasil, grupos antagônicos planejam manifestações em todo o país, incluindo o Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre, os favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro prometem se concentrar no Parcão, no bairro Moinhos de Vento, enquanto os contrários começarão uma passeata a partir do Parque da Redenção, no bairro Farroupilha, a 3,2 quilômetros dos seus adversários. Ambos os lados convocam participação de milhares de pessoas, com mobilização de frotas de ônibus alugados para os eventos.
Os atos políticos lembrarão um ideário cívico que costuma ser preenchido pelo tradicional desfile militar de sete de setembro, que este ano não acontecerá, como já não ocorreu no ano passado. A parada foi cancelada para evitar aglomerações, como precaução contra a pandemia de coronavírus.
Direita fará ato de apoio
Os atos de apoio a Jair Bolsonaro são protagonizados, no Rio Grande do Sul, pelo movimento Livre Iniciativa RS, uma aglutinação de vários grupos de direita. A concentração está marcada para as 15 horas no Parque Moinhos de Vento (Parcão), em Porto Alegre, mas a previsão é que desde 10 horas da manhã manifestantes comecem a fluir para a região, para um “esquenta” animado por músicos.
Uma das iniciativas previstas é uma carreata. Ela sairá da loja Havan na avenida Assis Brasil (Zona Norte), às 13h30min, e percorrerá diversas avenidas, até chegar no Parcão, por volta das 15h.
A advogada Paula Cassol, uma das organizadoras do ato no Parcão, afirma que mais de 50 cidades gaúchas mandarão ônibus com apoiadores do presidente até Porto Alegre. Foram feitas “vaquinhas” (coletas de doações de dinheiro) para custear o transporte. Está planejado que food-trucks e banheiros químicos estejam à disposição de quem quiser passar o dia no Parcão.
Quatro caminhões de som devem animar os atos, um deles a cargo da Banda Loka Liberal, que há anos embala atos de grupos de direita. Não está previsto deslocamento dos manifestantes, até para evitar encontro com a passeata de esquerda. A manifestação não se limitará a Porto Alegre, avisa Paula.
— Teremos atos nas maiores cidades gaúchas, como Passo Fundo, Caxias do Sul, Alegrete e Santa Maria. Em cada local desses haverá concentração e carros de som. Vamos também enviar pelo menos cinco ônibus para São Paulo e outros cinco para Brasília, num apoio dos gaúchos às maiores concentrações previstas no país — anuncia Paula.
A pauta principal dos apoiadores do presidente é “Grito de Liberdade”. As demandas incluem punição dos que cometem abuso de autoridade, “em especial o ministro Alexandre de Moraes”, sinaliza Paula.
— Queremos acabar com a ditadura da toga. O povo brasileiro quer respeito entre as instituições, o que não vem ocorrendo. Alguns ministros do STF se acham acima da lei, como deuses.
A pauta dos pró-Bolsonaro inclui ainda voto impresso e auditável, complementa Paula.
Esquerda fará passeata
O Grito dos Excluídos, manifestação de movimentos de esquerda que ocorre há décadas no sete de setembro, ganhou este ano uma nova palavra de ordem: “Fora Bolsonaro”. A manifestação contará com ônibus fretados da Região Metropolitana e de outros municípios, segundo a servidora da Ufrgs Tamyres Filgueira, 34 anos, coordenadora-geral da ASSUFRGS Sindicato e uma das líderes dos atos de oposição ao governo federal.
Serão realizadas também manifestações em Ijuí, Passo Fundo, Pelotas, Santa Maria, Erechim e Santa Cruz do Sul, entre outras cidades.
Em Porto Alegre, a orientação é se concentrar no espelho d’agua da Redenção, onde deve acontecer um ato ecumênico às 11h30min, seguida de um almoço para 1,5 mil pessoas. A partir das 13h30 está previsto o início da passeata de protesto. Os manifestantes pretendem se deslocar pelas principais avenidas do centro de Porto Alegre, em trajeto ainda não revelado “por questões de segurança”, mas que provavelmente vai incluir a Osvaldo Aranha, o Túnel da Conceição, a Mauá e a I Perimetral.
A alta no preço dos alimentos, insumos e combustíveis estão entre as reivindicações dos opositores, além de críticas à postura de Bolsonaro frente à pandemia.
- Estamos vivendo um momento muito difícil no País. Desde o início da pandemia, o Governo Bolsonaro vem negando a importância e a gravidade desse vírus. Hoje, estamos vivendo as consequências dessa política negacionista – defende Tamyres.
A manifestação antibolsonarista incluirá o desemprego, insegurança alimentar, projetos de privatização e o Projeto de Emenda a Constituição (PEC 32), que propõe mudanças administrativas e nas carreiras de servidores públicos.
— (Bolsonaro) quer acabar com o concurso público, piorar o atendimento no SUS, na saúde pública e acabar com a estabilidade do servidor público —reforça Amarildo Censi, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao justificar os protestos.
Os grupos participantes do protesto da oposição são Povo Sem Medo, Povo na Rua e Brasil Popular, além de centrais sindicais, como Central Única dos Trabalhadores, Intersindical, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, entre outras.
Polícias monitoram radicais
Radicais de esquerda e de direita são monitorados por diversos organismos policiais, com vistas a prevenir distúrbios no sete de setembro, apurou a reportagem. A Polícia Federal tem monitorado as redes sociais e grupos de whatsapp, por exemplo.
Já a Brigada Militar, além de também fazer isso (porque terá de guarnecer as ruas), está de olho, sobretudo, em possíveis manifestações envolvendo sua própria tropa. A PM2 (serviço reservado) e a Corregedoria verificam atividade dos mais exaltados.
Em algumas manifestações foram observadas transgressões ao Regulamento Disciplinar da BM, tais como o artigo 40: censurar publicamente decisão legal tomada por superior hierárquico ou procurar desconsiderá-la. O artigo 41 também veta “publicar ou contribuir para que sejam publicados fatos ou documentos afetos às autoridades policiais ou judiciárias que possam concorrer para o desprestígio da Corporação, ferir a disciplina ou a hierarquia, ou comprometer a segurança”.
Conforme procuradores da Justiça Militar consultados pela reportagem, o regimento disciplinar de todas as PMs veda “petições, manifestações de caráter reivindicatório, de cunho político-partidário e religioso de crítica ou apoio a ato de superior e para tratar de assunto de natureza policial”.
A Corregedoria da Brigada Militar abriu procedimentos para advertir e, se for o caso, punir os transgressores. Já o presidente Jair Bolsonaro defende que PMs participem dos atos.
A BM se reuniu com organizadores dos atos de apoio e repúdio a Jair Bolsonaro e acertou que eles não devem ser cruzar (seja em carreatas ou passeatas), para evitar confrontos. Uma unidade do Batalhão de Operações Especiais (Bope) está de prontidão para atuar, carro ocorram distúrbios.